A Anvisa aprovou, nesta semana, uma nova injeção destinada ao tratamento de obesidade no Brasil. Trata-se de uma medicação que tem como princípio ativo a semaglutida, que atua no organismo aumentando a saciedade, desestimulando a ingestão de alimentos e, consequentemente, promovendo a perda de peso.
A resolução que indica e autoriza a utilização da semaglutida para o tratamento da obesidade e sobrepeso foi publicada no Diário Oficial da União ainda na segunda-feira, 2.
A endocrinologista, Thais Mussi, conta que a semaglutida já, há algum tempo, vem sendo prescrita com o objetivo de perda de peso devido ao alto índice de sucesso e benefícios. “A medicação, com o mesmo princípio ativo e nome comercial chamado Ozempic, já vem sendo muito utilizada no Brasil de maneira off label, ou seja, sem indicação específica na bula para o tratamento da doença. A opção pela adesão do remédio ao tratamento é do médico e ocorre devido a constatação de inúmeros benefícios ao paciente”.
Atualmente a semaglutida é comercializada em canetas de aplicação subcutânea nas dosagens 0,25 mg; 0,5 mg e 1 mg com indicação na bula para tratamento do diabetes mellitus. “A medicação será produzida pelo mesmo laboratório, a empresa Novo Nordisk, com o nome Wegovy e com dosagem maior de 2,4 mg. A bula também é específica, voltada ao tratamento eficaz da obesidade”, explicou.
Em suma, o que ocorre, a partir de agora no Brasil, será a regulamentação do remédio para esta nova finalidade, de emagrecimento. Com a publicação da resolução da Anvisa, o medicamento que até então era indicado apenas para tratamento de diabetes – tipo 2, passa a ter indicação oficial e permissão de comercialização para os casos de tratamento de obesidade e sobrepeso.
Como recomendação à utilização do remédio, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) “reforça que o tratamento medicamentoso da obesidade é parte deste acompanhamento, que deve incluir alimentação saudável, prática da atividade física, controle emocional, ida ao endocrinologista e exames quando necessários”. Consta ainda que “o trabalho do especialista é fundamental, neste momento, para a condução adequada do tratamento”.
Semaglutida
Como já mencionado, a semaglutida é uma medicação de benefícios comprovados e estudos do laboratório fabricante apontam que ela promove em média, uma redução de 17% do peso corporal.
Esta eficácia é atribuída ao fato da substância, princípio ativo da medicação, atuar no organismo de maneira semelhante ao hormônio GLP-1, que é produzido naturalmente pelo nosso intestino. “A semaglutida é um agonista receptor desse hormônio natural, ou seja, ele tem 94% de semelhança com o nosso próprio hormônio GLP-1. Neste caso, ele atua aumentando a saciedade e diminuindo a fome”, explicou Thais.
Na prática, sempre que algum tipo de alimento for consumido, este hormônio vai enviar uma mensagem para o cérebro de saciedade, reduzindo a fome, retardando o esvaziamento gástrico e aumentando a produção de insulina, responsável pela absorção da glicose nas células.
Tratamento
Para o tratamento, a injeção tem indicação inicial de ser aplicada uma vez por semana, podendo ser reavaliado pelo médico o método de utilização tanto em relação à dosagem quanto ao número de aplicações.
“Os resultados do estudo Step são extremamente animadores. Sabemos que a obesidade é uma doença crônica que precisa de tratamento e esta nova classe de medicação, os análogos de GLP-1, vem numa premissa de desinflamar o hipotálamo, então cai por terra aquela conversa de que só força de vontade é suficiente para emagrecer. Essas medicações vêm ajudando o paciente, que está com essa inflamação hipotalâmica, a conseguir um resultado muito maior no tratamento da obesidade”, comentou Thais Mussi.
A médica alerta, no entanto, que nenhuma medicação sozinha levará a resultados 100% satisfatórios para o corpo e, principalmente, para a saúde. “Neste contexto, qualquer medicação deverá ser associada a outras práticas, como atividade física e uma dieta saudável e equilibrada”.
Já com relação ao tempo de utilização da medicação, a endocrinologista alerta que não existe um prazo específico, cabendo ao médico responsável a avaliação e condução do tempo de tratamento conforme as características de cada paciente. “O remédio não tem um tempo máximo de uso. Ele pode ser usado de forma crônica, mas é claro que o profissional de saúde deverá acompanhar e avaliar o quadro do paciente para sempre ter segurança e bons resultados no tratamento. É importante lembrar que cada organismo é único e algumas pessoas não respondem bem a este tipo de remédio, sendo extremamente necessário o acompanhamento médico”.
A medicação Wegovy (semaglutida 2,4 mg) ainda não tem data para chegar ao Brasil.
Protocolo SUS
Atualmente, aproximadamente a metade da população brasileira está acima do peso e cerca de 20% dos adultos estão obesos.
Segundo informações da 7ª Regional de Saúde de Pato Branco ainda não existe previsão de que esta medicação seja inserida no protocolo clínico e diretrizes terapêuticas (PCDT) para sobrepeso e obesidade desenvolvido Ministério da Saúde.
Sobre o diagnóstico da obesidade, consta no protocolo atual de tratamento que ele é realizado a partir de uma análise clínica, baseado no Índice de Massa Corporal (IMC), onde é possível classificar cada pessoa através da análise de peso corporal, além de estabelecer um quadro sobre as complicações metabólicas e outros riscos para a saúde. A partir disso e, se necessário, o médico pode solicitar exames complementares.
Já o tratamento para a obesidade estabelecido envolve a atuação de uma equipe multidisciplinar, que introduz junto ao paciente a prática de exercícios físicos, orienta quanto a uma alimentação adequada e mais saudável, além de fazer um acompanhamento psicológico para equilíbrio da saúde mental e tratamento de possíveis gatilhos sabotadores do processo de emagrecimento.
Entre as iniciativas do Ministério da Saúde para controle e prevenção da doença, também consta a elaboração de um Guia Alimentar para a População Brasileira para orientação e promoção da alimentação adequada e saudável no país, com versão on-line disponível para leitura e download no site oficial do Governo.
Além do protocolo preventivo, ainda é possível, através exclusivamente de indicação médica, a realização de cirurgias bariátricas pela unidade pública de saúde.
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