O simples fato de o setor nunca ter parado de crescer nos últimos anos e demandar mais insumos e máquinas, entre outros produtos, já é algo que induz a expansão da cadeia de produção. No atual momento, existe um fator adicional: a forte alta de preços internacionais das matérias-primas. “O agronegócio tem efeito multiplicador, mas sozinho não destrava a economia”, alerta o economista, lembrando que a geração de emprego no próprio setor é pequena.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
O que explica o grande investimento na cadeia do agronegócio?
Ao contrário do setor urbano, o agronegócio nunca parou de crescer. O simples fato de crescer já exige mais instalações, equipamentos etc. Na safra 2015/2016, foram plantados 58 milhões de hectares e colhidos 186 milhões de toneladas de grãos. Na safra 2020/21, a estimativa é de uma produção de 186 milhões de toneladas de grãos. São 85 milhões de toneladas a mais em 10 milhões de hectares adicionais. Plantar 10 milhões de hectares a mais requer mais tratores, equipamentos, fertilizantes, defensivo sob etc. Por outro lado, há necessidade de mais silos, transporte, fábricas para processar os grãos.
O senhor acha que o boom de preços das commodities está acelerando os investimentos no agronegócio?
Em princípio, parece que sim. O Brasil não para de crescer nisso. Há a ameaça da questão ambiental, uma ameaça seriíssima, que o governo não leva a sério como deveria. Mas, em tese, a demanda por produtos brasileiros continua crescendo, porque a procura internacional está muito forte nesse pós-pandemia. Papel e celulose são exemplos. Esses, basicamente para exportação.
Esses investimentos no agronegócio têm efeito multiplicador na economia ou a pandemia pode abafar esse movimento?
Tem efeito multiplicador. Grosseiramente, admite-se que o agronegócio direta e indiretamente represente entre 25% e 30% do PIB (Produto Interno Bruto). O agronegócio não carrega o PIB todo. Mas o desempenho do agronegócio é uma das razões pelas quais as projeções de PIB para este ano estão melhorando. Disso eu não tenho dúvida. A indústria está mais forte, e isso tem a ver com a demanda ligada ao agronegócio.
Mas o desemprego continua elevado…
Sozinho o agronegócio não destrava a economia. A questão é que o agro não é grande gerador de emprego, muito pouco. Até porque a produtividade e a digitalização estão muito aceleradas no setor. Isso faz com que o emprego cresça relativamente de forma mais modesta. A situação do emprego não avança sem a ajuda da construção civil.
O senhor acredita que esse boom de preços de commodities se sustente ou será passageiro?
Difícil falar de futuro e hoje, mais ainda. O que nós da MB achamos é que, ao menos por mais dois anos, será sustentável. Isso porque tem muito dinheiro rodando pelo mundo e a demanda por alimentos, metais, materiais de construção, é crescente. Os estoques de alimentos estão muito baixos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.