Diretoras das duas unidades comentam os desafios educacionais, econômicos, estruturais e as barreiras sociais para garantir a inclusão dos alunos
Ao longo dessa semana, entre os dias 21 e 28 de agosto, é conhecido como o período de conscientização pela inclusão de pessoas com deficiência, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, com o tema de 2022 “Superar barreiras para garantir inclusão”.
Em Pato Branco, a semana tem sido usada para propiciar aos alunos que frequentam as Apaes do município momentos diferenciados e de felicidade para todos. De acordo com a diretora da Apae Carlos Almeida, Silvana de Bona Sartor, a intenção “era realizar todos os dias da semana uma atividade diferenciada com eles” e, para isso, na segunda-feira (22), os alunos da Carlos Almeida saíram para os arredores da instituição onde poderiam ir sozinhos, para fazer panfletagem e conversarem com a comunidade.
No mesmo dia, os alunos da Apae Zilda Arns também realizaram atividades diferenciadas e, segundo a diretora da Zilda Arns, Marilu Vendrusculo, “os alunos estiveram dentro da própria escola fazendo essa questão de falarem o que pensam e, durante a semana, organizamos para proporcionar uma situação diferente, tirar eles da escola, de casa, porque para muitos de nossos alunos, é a escola que proporciona situações diferentes para eles, cabe a nós oferecer essas oportunidades”, relata.
Na terça-feira (23), os alunos das duas Apaes participaram de gincanas e, na quarta-feira (24), foi dia de visitar o CEU das Artes e dos Esportes para realização de atividades, enquanto os alunos menores permaneceram realizando atividades na própria instituição.
A quinta-feira (25) foi marcada por um piquenique realizado para todos os alunos, próximo a Zilda Arns e, para hoje (26), está programado um tour por Pato Branco.
Preconceito
O momento de comemoração e de atividades diferenciadas dessa semana é utilizado como contraste para evidenciar não apenas as dificuldades enfrentadas pelas Pessoas com Deficiência (PcD), mas também as alegrias e as diferenças que as tornam únicas. No entanto, o próprio tema traz à tona a necessidade de quebrar barreiras para garantir a inclusão dessas pessoas na sociedade, chamando a atenção para os preconceitos sofridos por eles.
Como exemplo, a diretora Silvana apresentou um momento delicado que passou ao acolher uma mãe que chorou ao relatar uma frase preconceituosa em direcionamento ao seu filho. “Ela [a mãe] relatou que ouviu uma fala muito pesada e eu me coloquei no lugar como mãe, ela chegou para mim e disse: ‘o que eu respondo quando eles chamam meu filho de louco, de bobo, quando não deixam meu filho participar do jogo de futebol no campo que tem na frente da minha casa por ser aluno da Apae?’. Isso me marcou, me machucou e eu me coloquei no lugar daquela mãe que chorava na minha frente”, relatou a diretora.
Para Silvana, uma das principais formas de diminuir esses momentos é que os pais entendam a real limitação do filho. “Ele não é louco, ele não é bobo. Ele tem capacidade, tem potencialidade, ele pode se desenvolver e precisa ser incluso”, afirma Silvana, apontando a possibilidade de essa pessoa realizar atividades no bairro junto aos vizinhos, da mesma forma como realiza na Apae.
Como forma de auxiliar essa família, a equipe da Apae mostrou as atividades realizadas pelo aluno quando está em ambiente escolar. “[Eu falei], quando alguém falar algo assim novamente, explica para essa família, criança, chama a mãe da criança ou adolescente e explica: meu filho tem uma limitação, mas ele também tem capacidade, pode interagir, se envolver, é uma criança assim como o seu filho e outras crianças que ali estão jogando”, explica a diretora da Apae Carlos Almeida, concluindo que muito do preconceito existente hoje é relacionado a desinformação.
Marilu, a diretora da Apae Zilda Arns, complementou apontando que existe uma mudança na compreensão da sociedade, mas o preconceito ainda está presente na maioria das pessoas. “Ainda vê eles como loucos, como a própria Silvana falou, vê pessoas sem condições de aprendizagem, mas nós temos alunos lendo, escrevendo. Temos alunos que estão no mercado de trabalho. Falta muito conhecimento, quem vê o aluno no dia a dia sabe o quanto tem de potencialidade e capacidade de desenvolvimento”, comenta.
Desafios
Quando a família recebe a notícia, seja da escola ou através de um médico, de que o filho precisará frequentar uma escola de ensino especial, como é o caso da Apae, pode-se citar o choque e o receio sobre a nova realidade. De acordo com Silvana, os pais chegam assustados na Apae, pois até aquele momento, não sabem o que irão encontrar e estão receosos sobre os desafios que chegarão com a nova rotina. “Apresentamos a Apae e a Escola Carlos Almeida, o funcionamento da escola, porque muitos não sabem que dentro da Apae tem uma escola, com o desenvolvimento da parte pedagógica”, comenta. A diretora ainda relata que muitos questionam a possibilidade de retornar para o ensino comum e todas as dúvidas são sanadas, desde como funciona, a aprendizagem, a escola e a equipe multidisciplinar que conta com fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicóloga e assistente social. “É feito todo esse apanhado geral com a família e os alunos passam por uma avaliação da equipe multiprofissional”.
Demanda aumentando
De acordo com a diretora da Apae Carlos de Almeida, após a pandemia, houve um aumento de famílias procurando o local. “Toda a semana do ano eu recebi alguém na escola procurando avaliação ou atendimento”, destaca.
Silvana afirma que atualmente há 18 crianças em processo avaliativo na Apae, a maioria na faixa etária de 2 a 4 anos, com um grande número de autistas procurando o atendimento. “Vem com laudo de autista, a gente faz a avaliação para ver qual a limitação desse aluno e se vai realmente ser nosso aluno”, explica.
Com o aumento da demanda, fica evidente a necessidade de um novo espaço para alocar todas essas pessoas. Segundo a diretora da Apae Zilda Arns, não há espaço físico para dar conta do aumento da procura. “Os professores são habilitados para a demanda, porém, nossas salas estão um pouco além do autorizado”, relata.
De acordo com Marilu, há intenções para a execução de um novo espaço, porém, há a necessidade de doações para poder tornar o objetivo realidade, então, por enquanto está distante de acontecer. As doações podem ser desde trabalho voluntário com a elaboração e acompanhamento dos projetos para o novo espaço, como também recursos para que de fato a unidade se consolide e atenda às necessidades apresentadas atualmente.
“Não é uma estrutura simples, tem que ter sala adaptada, banheiros adaptados, tudo tem eu ser de acordo com a realidade dos alunos, é uma estrutura diferenciada”, explica Marilu.
De acordo com Silvana, mesmo com pouco espaço, as duas Apaes não negam a matrícula aos alunos quando a família procura o atendimento. “Recebemos com amor e carinho, é um direito dele, a gente dá um jeitinho e assim vamos organizando, mas precisamos de um espaço físico maior, com mais salas de aula para atender essa demanda”, conclui.
Inserção profissional
Enquanto a Apae Carlos de Almeida recebe os alunos de ensino infantil e fundamental, a Apae Zilda Arns é responsável pelos jovens e adultos, preparando-os para serem inseridos no mercado de trabalho. Atualmente, o local atende 120 alunos, a partir de 16 anos, sendo que o aluno mais velho já tem 71 anos.
De acordo com Silvana, quando “vemos que tem potencialidade, ali por 14 anos, para o trabalho em determinada área, a gente começa a trabalhar essa questão para que no futuro possa trabalhar e ser independente”, finaliza.