No início da madrugada de quinta-feira (24), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou ataque ao leste da Ucrânia, em regiões reconhecidas por ele como independentes. A invasão ocorreu por terra, ar e mar em várias regiões, até mesmo na capital, Kiev.
Como esperado, o ataque russo causou vários mortos e feridos, inicialmente os números apontados eram de 50 civis e cerca de 40 soldados ucranianos mortos, seis aviões também ucranianos abatidos, porém ainda se aguardam os números oficiais.
O cenário na Ucrânia é triste e devastador. O presidente, Volodymyr Zelensky, autorizou cidadãos a pegarem armas para defender o país e pediu doação de sangue, longas filas foram registradas na capital, nas principais rodovias, com moradores tentando deixar o país e também em busca de atendimento médico. Vários países da Europa se preparam para receber os ucranianos que tentam fugir do combate.
Os EUA posicionou-se sobre a situação. O presidente Joe Biden declarou que Washington e seus aliados imporiam “sanções severas” sobre o que ele chamou de “guerra premeditada” de Putin. Segundo agências de notícias, a China rejeitou chamar os movimentos da Rússia sobre a Ucrânia de “invasão” e pediu a todos os lados que exerçam moderação.
Na quinta-feira (24), data da invasão, a Bélgica pediu que a União Europeia parasse de emitir vistos para russos e os países da Europa acionaram o Artigo 4º da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] para lançar consultas sobre a situação — o que poderia desencadear uma resposta conjunta.
O secretário-geral da aliança anunciou que a Otan vai reforçar forças no lado leste. “As partes se consultarão sempre que, na opinião de qualquer uma delas, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de qualquer uma das partes estiver ameaçada”, diz o artigo 4º do tratado.
O site da Otan diz que o artigo foi invocado seis vezes anteriormente desde a aliança formada em 1949. Mais recentemente o artigo foi acionado pela Turquia em fevereiro de 2020, depois que dezenas de soldados turcos foram mortos por um ataque das forças do governo sírio em áreas controladas pela oposição no norte da Síria.
Em declarações à imprensa internacional, líderes europeus como Boris Johnson (primeiro-ministro britânico), Emmanuel Macron (presidente da França) e Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) prometeram duros ataques econômicos contra a Rússia. O prefeito de Kiev impôs toque de recolher na capital ucraniana e a Usina de Chernobyl foi tomada pelas forças russas.
Conflito político e econômico
Para entender o conflito que se estabelece entre a Rússia e a Ucrânia é preciso observar pontos no âmbito político e econômico que são o pano de fundo dessa guerra, resultado de meses de tensões, e que levaram ao ataque russo nesta quinta-feira (24).
De acordo com o professor de Geografia do Colégio Marista Paranaense, Jair Henrique Iliano de Castro, a operação militar e o cenário geopolítico do conflito envolve muita história.
“O leste europeu, onde se localiza a Ucrânia, fez parte ou foi área de influência da extinta URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviética], que tinha como coração pulsante a temida Rússia. Esse contexto histórico nos dá uma informação importante: a Ucrânia foi muito influenciada pela cultura da Rússia, logo, o leste ucraniano possui grande porcentagem da população que fala a língua russa. Nessa região existem dois movimentos separatistas que ficaram bastante famosos, Donetsk e Lugansk, numa área que é conhecida como Donbass. Eles exigem independência e recebem apoio do governo russo. Vladimir Putin, ‘dono’ da Rússia desde 2000, e com possibilidade de governar até 2036, o presidente russo nunca escondeu que expansão territorial é algo que o agrada. E tem mais coisa nesse imbróglio: o território ucraniano é ponto de passagem da grande arma russa, o gás natural. Boa parte da Europa depende do gás natural russo para aquecimento no inverno, e a Ucrânia é ponto estratégico para a chegada desse gás no continente europeu. Logo, manter a Ucrânia por perto é geopoliticamente importante”, explicou.
Ameaça
Segundo o professor, a influência ocidental na Ucrânia é vista como uma ameaça. “Nos últimos anos, a Ucrânia vem sendo seduzida por alguns convites, como a aproximação com a União Europeia e a possível entrada na Otan. Isso desagrada Vladimir Putin porque na visão do líder russo, essa aproximação da Ucrânia com o ocidente coloca em risco a soberania russa. Países que ingressam na Otan (aliança militar criada na guerra fria para defender os interesses ocidentais) acabam recebendo tropas e, muitas vezes, bases militares dessa aliança. Essa questão, para Vladimir Putin, é inaceitável. Assim, nessa queda de braço, ninguém está disposto a perder. A Ucrânia segue sua aproximação com o Ocidente e a Rússia faz os primeiros movimentos de invasão. Putin já reconheceu a independência de Donetsk e Lugansk, ou seja, para o presidente russo essas regiões não são Ucrânia”, ressaltou.
Brasil
O posicionamento do Brasil em relação aos ataques, segundo o Ministério das Relações Exteriores, é de prestar assistência aos brasileiros na Ucrânia, mas, de acordo com declaração do secretário de Comunicação e Cultura do Itamaraty, Leonardo Gorgulho, não existe condições, neste momento, de se fazer uma ação de resgate naquele país.
Segundo Gorgulho, as embaixadas do Brasil em Varsóvia, Minsk, Bratislava e Moscou já estão em regime de plantão para prestar assistência a brasileiros que deixem a Ucrânia.
A embaixada brasileira da Ucrânia publicou orientações para os cidadãos e pediu para que os brasileiros presentes na capital Kiev não saiam ainda da cidade devido a “grandes engarrafamentos” registrados. “Os brasileiros que deixarem a cidade nesse momento devem contar com grandes dificuldades. Solicita-se aguardar novas instruções da embaixada”. Atualmente, segundo o chefe consular em Kiev, André Mourão, há 422 brasileiros vivendo na Ucrânia.