Para isso, Doria, além das costuras com os filiados e caciques do PSDB, busca apoios no empresariado ligado ao tucanato e em outros setores da sociedade civil, na tentativa de exercer pressão de fora para dentro do partido, hoje bastante dividido. A Coluna do Estadão conversou, sob reservas e pedidos para que seus nomes não fossem divulgados, com alguns desses interlocutores do governador. Em linhas gerais, o grupo entende que as prévias seriam uma boa maneira de dar transparência ao debate, envolver mais gente na discussão, mobilizar o centro político e, principalmente, dar visibilidade à agenda que escapa da polarização Lula versus Jair Bolsonaro, majoritária na mídia.
Nas conversas com os empresários, Doria se diz “um filho das prévias”: lembra que teve de enfrentá-las para ser candidato a prefeito, em 2016, e a governador, em 2018. No início de março deste ano, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, atendeu a um pedido do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e marcou para outubro deste ano o processo de prévias para escolher o candidato a presidente em 2022. Com essa mexida de peça, Aécio dificultou os planos de Doria, que tentou assumir o comando no partido em busca de uma candidatura por aclamação.
Por ora, os nomes tucanos guardados no escaninho de “presidenciáveis” são os de Doria e de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Ou seja, com as prévias, ao menos uma das opções de centro para a disputa da Presidência seria descartada, e o vencedor poderia sair do processo com um “input” para sua pré-campanha, o que acabaria por motivar adesões de outras legendas.
“O PSDB tem alguma tradição em prévias. Estrategicamente, deveria fazer. As prévias podem dar a largada para a corrida eleitoral no modo pré-campanha, hoje tão importante quanto a campanha em si”, diz o sociólogo Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice e professor adjunto na Columbia University (EUA).
Cada vez mais forte na bancada do PSDB na Câmara dos Deputados, Aécio também deixa correr solto nos bastidores um movimento para que o partido não tenha candidato próprio a presidente em 2022. Também por isso o grupo de Doria entende que a realização das prévias pode inibir essa possibilidade de não concorrer ao Planalto, algo nunca antes visto na história dos tucanos.
“A ideia das prévias, ao meu ver, é uma boa ideia para o PSDB. Não sai dividido. O candidato que vencer sai fortalecido porque ele vai correr o Brasil”, diz o economista Murilo Hidalgo, do Instituto Paraná Pesquisas. Segundo ele, Doria tem pontuado na casa de 5% a 6% nas sondagens. “Mas eu não diria que ele está mal colocado, ele é pouco conhecido e os paulistas têm mania de achar que o País gira em torno de São Paulo. Ele tem uma bandeira boa que é a da vacina. Então, acho que ele começa a ter alguma chance na hora que ele for o escolhido”, diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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