Pesquisa mostra que efetividade da vacina diminui com idade; tomar somente primeira dose não protege contra a covid-19
Jornal da USP
A vacina CoronaVac tem efetividade de 42% depois de 14 dias de aplicação da segunda dose em pessoas com idade média de 76 anos. O número foi obtido em estudo internacional, com participação da USP, realizado em 15.900 pessoas com 70 anos ou mais no Estado de São Paulo. A pesquisa também mostra que a efetividade da vacina contra o coronavírus cai com a idade, sendo menor após 80 anos, e tomar somente a primeira dose não oferece proteção contra a covid-19. Os pesquisadores recomendam que os programas de vacinação garantam a segunda dose da vacina, e que as pessoas continuem a praticar medidas de proteção, como usar máscaras e evitar aglomerações.
As conclusões do trabalho estão em preprint (versão prévia de artigo científico) publicado no site medRxiv em 21 de maio. “A pesquisa avaliou a efetividade da vacina CoronaVac contra infecções sintomáticas pelo sars-cov-2 na população com 70 anos ou mais do Estado de São Paulo, em um contexto onde a maioria das infecções é pela variante P.1, ou seja, verificou se a vacina protege com infecções sintomáticas na vida real”, explica o médico epidemiologista Otávio Ranzani, primeiro autor do artigo. “Também foi avaliada a efetividade por grupos de idade e infecção prévia.”
O estudo abrangeu o período entre 17 de janeiro e 29 de abril, quando a vacinação com um esquema de duas doses de CoronaVac foi implementada em São Paulo. “Identificamos casos de covid-19 confirmados pelo teste RT-PCR que tinham doença sintomática com casos de pessoas testadas que deram negativo para a doença, usando dados dos sistemas de vigilância nacional e o banco de dados de vacinação estadual”, relata o epidemiologista. “Os casos e os testes negativos foram pareados por idade, sexo, raça, município, condição anterior para covid e data do teste de RT-PCR, e a partir desses números estimamos a efetividade da vacina, ajustada para idade e comorbidades.”
Dentre 26.433 casos de covid-19 e 17.622 pessoas com teste negativo, foram selecionados 7.950 pares, gerando um total de 15.900 indivíduos avaliados com média de idade de 76 anos. “Nós encontramos que a efetividade global da vacina foi de 42% após 14 dias da segunda dose numa população com idade média de 76 anos”, destaca Ranzani. “A efetividade global cai com a idade, sendo maior nas pessoas abaixo de 75 anos e menor após 80 anos. Em uma análise exploratória, encontramos que a efetividade atinge 50% após 28 dias da segunda dose na população com 70 anos ou mais.”
De acordo com o epidemiologista, a perda de efetividade observada no estudo já era esperada. “O sistema imune não é ótimo com idades avançadas, presença de outras doenças, ou seja, comorbidades e outros aspectos, num processo que chamamos de imunosenescência”, afirma. “Isso ocorre para outras vacinas também.”
A pesquisa não encontrou efeito protetor na primeira dose da vacina, o que, segundo o médico, é um achado importante para os programas de imunização. “É preciso que os programas garantam a segunda dose da CoronaVac, no tempo recomendado, para todos”, destaca. “Os programas devem planejar uma otimização na vacinação dos idosos a partir de 80 anos e frágeis, seja com reforço ou troca de tipo de vacina, porém isso precisa ser estudado ainda.”
Com base nos resultados do estudo, o médico recomenda que medidas de proteção como máscaras, manter ambientes ventilados e evitar aglomerações devem continuar até termos melhor controle da epidemia. O trabalho é descrito no preprint Effectiveness of the CoronaVac vaccine in the elderly population during a P.1 variant-associated epidemic of COVID-19 in Brazil: A test-negative case-control study, publicado no site medRxiv em 21 de maio.
No Brasil, a pesquisa teve a participação da USP, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Avaliação em Tecnologias em Saúde (INCT-IATS) e Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Também integraram a equipe do projeto pesquisadores da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Instituto de Saúde Global de Barcelona (Espanha), Universidade da Flórida, Universidade de Yale e Universidade de Stanford (Estados Unidos).