O fracasso do Mundial de 2016, disputado na Colômbia, precisa ser colocado dentro de um contexto. Campeã quatro anos antes, a seleção vinha em um ciclo complicado, agravado por uma crise financeira e institucional na Confederação Brasileira de Futsal (CBFS), que desde sempre geria a seleção. Naquele ciclo, houve duas trocas na presidência da entidade e nada menos do que quatro mudanças na comissão técnica. A situação era tão caótica que chegou ao ponto de alguns dos principais jogadores do País promoverem um boicote.
O momento, agora, é outro. Desde abril, a seleção passou oficialmente a ser vinculada à CBF, entidade filiada à Fifa – como, aliás, ocorre com as seleções de futsal na maior parte do mundo. Com isso, passou a contar com toda a estrutura disponível às seleções brasileiras, inclusive período de preparação na Granja Comary, em Teresópolis.
“A falta de organização da entidade maior que conduzia o futsal levou àquele momento (fracasso em 2016). Agora é um novo ciclo, e a gente sabe que temos que iniciar bem, para que ele se concretize, se alicerce. Esses jogadores e esta comissão que estão aqui podem fazer história, retomar esse título para o Brasil”, disse ao Estadão o coordenador de futsal da CBF, o ex-goleiro Lavoisier Freire Martins, que defendeu a seleção em quadra por dez anos.
A reta final de preparação para a Copa do Mundo foi dividida em três partes. Primeiro, a delegação ficou três dias na Granja Comary para avaliações físicas. Depois, treinou por duas semanas na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra. E, desde o fim de agosto, a equipe passou por um período de aclimatação na Polônia. Lá, a seleção fez quatro amistosos, ganhando três e empatando um.
O período de treinamentos e a qualidade oferecida foi bem superior ao que o futsal brasileiro estava acostumado, mas se justificou por duas razões: os empecilhos causados pela pandemia, e a melhor condição financeira e de estrutura que a CBF pode oferecer.
“A gente perdeu bastante (tempo de preparação), de uma forma assustadora. O último evento que a gente havia feito foi em janeiro de 2020, nas Eliminatórias da Copa do Mundo, lá em Carlos Barbosa. De lá para cá, não tivemos mais convocação”, recorda Lavoisier, que enalteceu a fase final antes da viagem à Lituânia.
DISPUTA – Apesar de ser chamada oficialmente de Copa do Mundo de Futsal da Fifa, jogadores, comissão técnica e todo mundo que acompanha a modalidade de perto se refere à disputa como “Mundial”.
A diferença talvez seja uma herança de outras épocas, quando o futsal era ainda chamado de “futebol de salão”. Tratava-se de um período em que o esporte era mais amador, e a própria disputa da Copa do Mundo não ficava a cargo da Fifa. E isso, aliás, é até hoje motivo de certa polêmica ou discórdia.
Isso porque, oficialmente – ou, ao menos, de acordo com a Fifa -, o Brasil é “apenas” pentacampeão do Mundo. Ocorre que a entidade máxima do futebol mundial passou a organizar torneios de futsal de seleções somente em 1989. Antes disso, era a antiga Federação Internacional de Futebol de Salão (Fifusa) que organizava campeonatos mundiais. O Brasil venceu os torneios de 1982 e 1985. Ou seja: ainda que a Fifa não reconheça, para quem é apaixonado pelo futsal o Brasil está na Lituânia em busca do octa.
A Copa do Mundo deste ano conta com as 24 seleções divididas em seis grupos de quatro. O Brasil está no D, ao lado de Vietnã, República Tcheca e Panamá. Os dois melhores colocados de cada chave, além dos quatro melhores terceiros, avançam às oitavas.
Se até uma década atrás a seleção era franca favorita ao lado da Espanha, a história agora é diferente. Além dos espanhóis, o Brasil tem como principais adversários ao hexa (ou ao octa) as equipes da Rússia, Portugal, Irã, Argentina e Cazaquistão.
“Várias seleções têm muito potencial, e no último Mundial deu pra ver isso, quando o Irã desclassificou o Brasil. O futsal mudou bastante”, pondera o pivô Pito, que atua no Barcelona. “Mas o Brasil sempre é favorito, não importa se estiver num momento ruim ou bom. Temos que carregar esse peso.”
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