Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla
As armas estão no mundo desde o seu princípio, uma realidade que cotidianamente se faz presente, o mundo das armas variou muito, não podemos pensar apenas numa arma de fogo, num canhão ou algo parecido, hoje as armas tem um significado muito mais amplo, temos armas extremamente barulhentas e destrutivas, assim como temos armas silenciosas, mas de um efeito devastador, todas as armas que o ser humano dispõe matam, aleijam, em resumo: deixam uma marca negativa. Nossa sociedade faz um silêncio colossal em relação às armas que aí estão, faz vistas grossas aos inúmeros sonhos desfeitos pelas armas, faz pouco caso do perigo que elas representam, em muitos lugares há um incentivo exagerado para que as pessoas possuam o maior número de armas possível; nossa sociedade pouco levanta o dedo para acabar com as agruras do atual momento presente.
Num momento onde a humanidade inteira passa por uma séria provação em muitos setores, como por exemplo: falta de trabalho, falta de moradias, saneamento básico, um sistema de saúde muito vulnerável (a pandemia do vírus invisível mostrou bem a realidade), a educação exposta a todo tipo de vexação, alterações climáticas cada vez mais frequentes e perigosas, elevação dos preços; nessas e tantas outras áreas nota-se cada vez mais um empobrecimento da destinação de recursos, ou seja, naquilo que pode nos trazer a paz, a amizade e a concórdia, há um interesse muito tímido em se investir, entretanto naquilo que nos faz mais pequenos, mais pobres, mais doentes, frágeis nisso se gasta somas absurdas, simplesmente inconcebíveis, as razões para tal nunca são claras, a não ser aqueles velhos mantras de sempre; a escalada militarista de hoje é uma ameaça real para todos os seres.
Quando alguém do setor armamentista nos diz o preço de uma arma, isso deveria fazê-lo ficar envergonhado perante aquilo que o rodeia, um avião de combate que atinge a marca de seiscentos e setenta milhões de dólares por unidade é algo que deveria nos fazer pensar, um gasto repugnante, imoral e injustificável, em relação às armas menores o gasto também não é pequeno, em maior ou menor grau praticamente todos os países estão envoltos com esse tema. As armas disponíveis pelos principais governos atuais, tem a triste capacidade de poder diminuir ou mesmo aniquilar a vida na Terra, há mais de dez mil armas nucleares prontas para serem acionadas se for o caso, os seus defensores sabem como ativá-las, mas não sabem como fazê-las parar, mostram o apenas o seu “lado” bom, mas aquele perverso e criminoso, esse é ocultado, isto é, dividem em partes iguais as tragédias.
O cenário insano e brutal da atual guerra entre Rússia e Ucrânia é imprevisível, pode pender para qualquer lado quanto ao uso indiscriminado de armas, imagens horrendas não nos têm faltado a respeito, o mundo sabe que o poder militar russo é infinitamente superior ao da Ucrânia, além das armas tradicionalmente conhecidas, na Ucrânia estão grandes usinas nucleares para a produção de energia, verdadeiras bombas relógios, já conhecemos Chernobyl, a usina de Zaporizhzhya foi atacada, qualquer acidente nessas duas ou nas outras existentes absolutamente ninguém sabe como será a lida com tal catástrofe. Essas armas com aparência de bem nunca deram certo, seu manuseio é por demais exigente, dispendioso e também perigoso; apesar de alguns avanços promissores na energia nuclear, essa arma nunca foi totalmente dominada pelos seres humanos, ela é ambivalente.
O atual conflito entre Rússia e Ucrânia mostra também mesmo que muitos não percebam, o uso sutil de outras armas poderosas que movem o mundo, entre as quais estão a economia, a produção de alimentos, os combustíveis, a política internacional, a questão comercial, digital, espacial e cultural: cada um desses elementos ao seu modo ou todos conjugados ao mesmo tempo podem ocasionar uma reviravolta completa no mundo todo, é arriscado ou premeditado declarar, mas o fato é que há uma terceira guerra mundial em curso. Os líderes mundiais do momento (com exceção do Papa Francisco) estão tendo um papel abaixo do esperado, falam de paz, mas não falam em acabar com o conflito, falam em ajuda humanitária, mas enviam toneladas de armas aos ucranianos, provado está que usar as armas para solucionar conflitos não é e nunca será um bom caminho a se seguir.
Bioeticamente, o uso abusivo e cruel de armas como o que estamos presenciando entre Rússia e Ucrânia é sempre criminoso, pois o que se assiste é um massacre da população civil em todos os sentidos, todos sem exceção duramente atingidos, abriu-se mais uma ferida para ser curada no tempo, alguns ficarão curados, mas a grande maioria carregará cicatrizes para o resto da vida. A Organização das Nações Unidas com todos os seus membros tem se mostrado não indiferente, mas absolutamente incapaz de pôr fim a esse e a tantos outros conflitos. Nas pomposas reuniões de emergência se fala uma coisa, mas nos bastidores a linguagem é diferente, também se pode dizer das manifestações contra essa guerra, no início euforia e passeatas sem fim, agora a timidez tomou conta, a sociedade prefere demonstrar muito mais seu amor e paixão por eventos esportivos ou musical do que ter compaixão e solidariedade por aqueles que sofrem, o mundo precisa de outras armas, isto é, as que produzem vida, dignidade, esperança, compaixão, acolhimento.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR