Fernando Ringel
A Copa segue sem o Brasil e, mesmo para os que não entendem de futebol, fica o clima de velório pelos pontos facultativos e festas que todos ainda esperavam curtir. Uma pena porque dois pênaltis da Croácia foram no meio do gol, e como se não fosse absurdo o Neymar nem chegar a bater, parte da população desconhece o jogador que errou a primeira cobrança. E foi assim que o Brasil perdeu a Copa e a paz, de novo. Por aqui, enquanto uns tem medo que este país se torne para “todes”, outros comemoraram a diplomação do governo “para todos”. É aí que, para quem está desde 31 de outubro na frente dos quartéis, torna-se compreensível perder a paciência.
Assim como no caso da mulher, de Patos de Minas, que após confraternização, atropelou o marido e bateu em dois veículos antes de ser presa, a diplomação de Lula foi seguida por uma noite de “tiro, porrada e bomba”. A violência contou com cenas dignas de videogame, como a tentativa de jogar um ônibus incendiado de um viaduto, em Brasília. Obviamente, a repercussão não foi positiva, e até mesmo na extrema-direita já há quem discorde dos manifestantes. De acordo com postagem da deputada, Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff: “manifestações só fazem sentido, quando há alguma chance de alcançar o almejado. O Presidente Bolsonaro não pode fazer nada, mas jamais terá coragem de dizer isso com todas as letras para vocês. Acordem!”. Em entrevista à Jovem Pan, a deputada reeleita, Bia Kicis, levantou a possibilidade de que os vândalos sejam pessoas infiltradas nos protestos. Enfim, ninguém quer ser pai de bebê feio.
Panela de pressão
O próximo governo prepara o seu arroz com feijão, que dessa vez também terá chuchu e, inevitavelmente, pepinos. Infelizmente, a receita sempre acaba contando com abobrinhas também. Umas cultivadas pelo próprio governo, outras pela oposição e até pelo mercado. Entretanto, mesmo sabendo que todos têm seus interesses, deve-se prestar atenção em tudo. Por exemplo, a ata do Comitê de Política Monetária (COPOM) desta semana, aponta “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais”, tendo em vista a possibilidade de “reversão de reformas estruturais que levem a uma alocação menos eficiente de recursos”. Foi um recado direto, e pode parecer picuinha, mas é papel do COPOM, como parte do Banco Central, a orientação sobre a política econômica e fiscal do governo. Afinal, avisar sobre o perigo não é atrapalhar, e a preocupação se justifica em função da “PEC da Transição” e também pela escolha de Fernando Haddad como ministro da economia.
Para os entendidos, como o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Haddad “fez uma gestão responsável do ponto de vista fiscal na prefeitura de São Paulo” e tudo depende da equipe que se formará ao seu redor. Na prática, Lula teria optado, principalmente, por alguém leal e que possa se tornar seu sucessor? Com pouco carisma, quase um “chuchu de esquerda”, só assim para Haddad ser presidente. Caso isso se comprove, cria-se uma situação complicada dentro do governo porque, obviamente, Geraldo Alckmin está lá pensando em 2026, assim como Simone Tebet.
Enfim, a escolha dos ministros, a PEC e os protestos já estavam borbulhando na panela durante toda a Copa, mas o assunto era a seleção brasileira. Sem o hexa, vai ficar um pouco mais complicado participar dos amigos secretos em qualquer lugar do Brasil. Resta puxar assunto, falando sobre o tempo e focar na ceia, que nesse ano deve ter arroz, feijão, chuchu, abobrinha com muito pepino, e até… Lula. Pensando bem, melhor não falar de comida também.
Professor e comunicador
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