Padre Judinei Vanzeto
A Carta Apostólica Desiderio desideravi, publicada no dia 29 de junho de 2022, do Papa Francisco, tem por objetivo despertar o povo de Deus para a formação litúrgica. Entre os temas abordados, o pontífice trata sobre a arte de celebrar.
A celebração eucarística não pode ser reduzida um mecanismo rubrical e a criatividade sem regras. “O rito é em si uma norma, e a norma nunca é um fim em si mesma, mas está sempre a serviço de uma realidade superior que pretende proteger” (n. 48). A celebração em si é o memorial do mistério pascal aos batizados e a participação consiste em experimentar o Cristo em sua própria vida. E o Espírito Santo age em cada celebração como aconteceu no mistério da Encarnação.
Tendo presente o grande mistério celebrado e a dinâmica da linguagem simbólica, bem como a natureza particular da ação, a arte da celebração não pode ser improvisada. Como toda arte, requer aplicação consistente. Assim, pois, se aprende a arte de celebrar. Diz o Papa, “Penso em todos os gestos e palavras que pertencem à assembleia: reunir-se, andar cuidadoso em procissão, estar sentado, de pé, ajoelhar-se, cantar, ficar em silêncio, aclamações, olhar, ouvir. Há muitas maneiras pelas quais a assembleia, como um corpo, participa da celebração. Todos juntos fazendo o mesmo gesto, todos falando juntos em uma só voz” (n. 51).
Ainda, na celebração, o silêncio ocupa um lugar de absoluta importância. O silêncio não é um refúgio interior, mas faz parte da essência da celebração. O silêncio litúrgico é o símbolo da presença e da ação do Espírito Santo que anima toda a ação da celebração.
Também cada gesto e cada palavra contém uma ação, um sentido e um significado. E nesse aspecto o Papa apresenta um exemplo: “Ajoelhamo-nos para pedir perdão, dobrar o orgulho, entregar a Deus as nossas lágrimas, implorar a sua intervenção, agradecer-lhe o dom recebido. É sempre o mesmo gesto que, em essência, declara nosso próprio ser pequeno na presença de Deus. No entanto, feito em diferentes momentos de nossa vida, molda nossas profundezas internas e depois se mostra externamente em nossa relação com Deus e com nossos irmãos e irmãs. Também ajoelhar-se deve ser feito com arte, ou seja, com plena consciência do seu sentido simbólico e da necessidade que temos deste gesto para expressar o nosso modo de estar na presença do Senhor” (n. 53).
Portanto, no tocante a arte de celebrar, o sacerdote vive sua participação característica na celebração em virtude do dom recebido no sacramento da Ordem, e isso se expressa precisamente na presidência. Como todas as funções que ele é chamado a desempenhar, este não é principalmente um dever que lhe é atribuído pela comunidade, mas sim uma consequência do derramamento do Espírito Santo recebido na ordenação que o capacita para tal tarefa (cf. n. 54). O sacerdote também é formado por ele presidir à assembleia celebrante, bem como deve celebrar com o povo e não celebrar para o povo.
Jornalista, pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida e gestor do Polo Unilassale/Fapas