Artigo trata de mitos e verdades sobre bullying

Flori Antonio Tasca

Um estudo publicado em 2010 na revista “Cadernos de Psicopedagogia” ofereceu um esquema de “Mitos e Verdades” a respeito do bullying. De autoria de Guilherme Welter Wendt, Débora Martins de Campos e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, o estudo intitulado “Agressão entre pares e vitimização no contexto escolar: Bullying, cyberbullying e os desafios para a educação contemporânea” debateu o processo de agressão e vitimização, bem como os desafios para ações de prevenção ao fenômeno.

Como diariamente pessoas discutem sobre bullying sem ter o cuidado de se apropriar do tema, os equívocos são comuns, o que contribui para descaracterizar e banalizar um assunto extremamente importante e de difícil identificação. Ter a informação adequada e, na medida do possível, neutra sobre o tema é visto pelos autores como fundamental para o combate, a diminuição e prevenção do bullying. Em função disso, eles incluíram no estudo uma seção de “Mitos e Verdades”, a fim de que diminuam os equívocos.

O primeiro mito é o de que bullying é um ato de agressividade isolado. Não é, pois o bullying é um processo sistemático de agressão, que acontece repetidas vezes. Outro mito comum é o de que se trata de “brincadeira de criança”. Não se trata de brincadeira quando há sofrimento em um dos envolvidos, o que é um sinal de que o limite de uma brincadeira foi extrapolado. Há ainda o mito de que bullying só acontece na escola, mas na verdade ele ocorre em qualquer esfera coletiva. A escola é onde ele ocorre de forma mais frequente por ser um lugar onde há grande interação de crianças e adolescentes.

Também é um mito a ideia de que o bullying se manifesta apenas por violência física. Ele também pode ocorrer de forma “relacional”, por meio de ameaças, acusações injustas, furto de dinheiro ou pertences, difamações, degradação da imagem social, etc., o que pode levar à discriminação ou exclusão de vítimas do grupo. E não se pode esquecer que o bullying também pode ocorrer de forma eletrônica, o cyberbullying, seja pelo envio de mensagens agressivas ou pela disseminação de conteúdo difamatório.

Não é verdade também que apenas os meninos participam de bullying. O que acontece é que a forma de agressão que os meninos praticam é mais visível. As meninas agridem de forma mais indireta, mediante fofocas e difamações, por exemplo. Isso é mais sutil e difícil de ser identificado. O bullying também não possui alguma relação com o nível socioeconômico. Indivíduos de qualquer classe social podem estar envolvidos.

Os pesquisadores constataram uma carência de informações e subsídios que possam sustentar políticas de ação e intervenção à violência de escola, reforçando a necessidade de se conhecer mais sobre o fenômeno. E assinalaram que não cabe mais pensar em intervenções clínicas individualizadas, mas em um amplo programa de enfrentamento e que de preferência envolva o contexto escolar como um todo. A gravidade do problema pode ser atestada ao sabermos que em todos os casos de massacres associados ao bullying ocorridos nos Estados Unidos havia reivindicações à direção das escolas.

Assim, considera-se que, de início, deve-se estimular relacionamentos de colaboração e de afeição, favorecendo a resolução não agressiva de conflitos. Entre as ações desejadas está a identificação do problema, o exame dos fatores de risco e proteção, as ações preventivas, o fortalecimento de relações positivas na família, o incentivo ao desempenho escolar, a criação de um clima escolar positivo e a implementação de programas de prevenção subsidiados por dados teóricos e empíricos. Somando-se à capacitação com foco no uso saudável da tecnologia, essas ações contribuirão para a formação de uma cultura de educação para a paz, o respeito e a amizade na escola.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br

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