A Brasília nossa de cada dia

Belas e requintadas teorias sobre a violência, as temos aos milhões, aqui não se trará nenhuma delas, não vale a pena repetir o que sabemos de cor e salteado, desde que o mundo é mundo, a violência corre solta, raros foram os momentos em que a humanidade pode respirar aliviada sem estar se defrontando com um ou com outro, ou até mesmo uma nação se digladiando entre si. A violência ao que tudo indica está longe de acabar, o mundo dito moderno cresceu em realizações em todos os campos que se tem conhecimento, julgava-se que com quanto mais conhecimento, ordem e progresso, o mundo caminharia a passos largos para uma paz perpétua; fomos traídos pelas nossas mais mesquinhas ambições, a tão sonhada paz nunca chegou, mas chegaram aqueles que gostam de aprontar, sim esses sempre estiveram entre nós, caras de anjos, lobos em pele de cordeiro.

Domingo, dia 8 de janeiro de 2023, um dia que ao certo ficará para todo o sempre gravado na mente de adultos, jovens e crianças, nesse dia uma turba vinda de todas as partes do Brasil promoveu um dos maiores atos de barbárie em Brasília, que se tem notícia até hoje, uma invasão criminosa, deliberada e financiada por pessoas inescrupulosas e descontentes com o rumo da política brasileira, ao não ser aceito o resultado das últimas eleições presidenciais, pessoas essas que nunca souberam conviver com o diferente e muito menos com a democracia reinante. Nossa democracia nunca foi a melhor e nunca será a pior, é o que temos, ela vai sendo construída aos poucos, nesse sistema de governo é impossível contentar a todos, mas nem por isso deve-se optar pelo radicalismo da violência extrema; o que vimos e ouvimos nos deixa estarrecidos, algo assim indescritível.

Posicionamentos políticos extremados nunca foram a solução para a sociedade, por um tempo até pode funcionar, mas à medida que o tempo passa isso não se sustenta em absoluto, basta nos aprofundarmos um pouco na história universal e ela não vai nos decepcionar nessa questão, somente os imprudentes, aqueles seres vazios de pensamento ou inchados de arrogância é que não vão entender essa temática. O que se lamenta profundamente é a justiça brasileira ser tão morosa e conivente com atos de barbárie praticados muito antes do dia 08 de janeiro de 2023, em muitas situações a justiça fez vista grossa, protelou, varreu para debaixo do tapete situações que exigiam uma punição exemplar; Brasília foi talvez apenas a ponta do iceberg, ali aconteceu um tipo peculiar de violência; não sejamos tolos de carteirinha: existe sim outra violência perigosa: a silenciosa.

Para que uma violência igual a que assistimos lá em Brasília, devemos ter em mente que ele não veio do nada, não apareceu ali por acaso, absolutamente nada justifica essa monstruosidade, não só contra o patrimônio público, mas também para com todo o povo brasileiro, que em sua maioria esmagadora é totalmente contra esse tipo de atitude. O Brasil dos últimos anos perdeu muito da sua capacidade de fortalecimento no âmbito político, os detentores do poder ao fazerem vista grossa para os principais problemas que aí estão, deixam muitas pessoas enraivecidas, o que por sua vez é um campo fértil para uma contaminação em massa, com desdobramentos imprevisíveis no tempo e no espaço; os que defendem vandalismo, violência desmedida, extremismo e depois se dizem cristãos ortodoxos, invocando o nome Deus, definitivamente não podem estar sãos em seus juízos.

A violência nua e crua que foi usada em Brasília, jamais pode ser motivo de aplausos e risos, no fundo ela revelou uma falsa supremacia de que o poder foi tomado mesmo que temporariamente, mas na sequência caiu por terra toda e qualquer pretensão de um grupo que definitivamente não sabe lidar com o diferente, em especial com o atual sistema de governo que faz parte da maioria esmagadora dos países. Esse pequeno rebanho que depredou Brasília é apenas o resto, os verdadeiros culpados estão escondidos, financiando os “miseráveis”, eternamente manipulados, sem opinião própria, aquilo que vulgarmente chamamos de “as Marias que vão com as outras”. Aqueles que quebraram Brasília muito provavelmente não querem mudanças, ignoram que o Planeta corre perigo, tem horror para com a educação; pior ainda: eles têm medo da verdade que vem batendo na porta de todos.

Bioeticamente, as lamentáveis cenas do terror praticado em Brasília no último dia 08 e também em outras partes, deve ligar em todos nós o sinal de alerta, ou seja, de que o Brasil passa por uma grande transformação, que isso é necessário em qualquer regime de governo, especialmente hoje quando inúmeras questões se colocam como enormes desafios para todos, novas ações concretas precisam ser postas em práticas com urgência ou todos logo vamos nos defrontar com um caminho sem volta. Nenhuma forma de violência é benéfica para a sociedade, nunca foi e nunca será a solução, com ela dirigindo a vida, torna a vida insuportável, uma desconfiança sem fim do outro que está a nosso lado e do que ele é capaz de fazer. A mente daqueles que invadiram Brasília, parece estar dominada por um tipo de colonização forçada que já foi uma mancha grave na América Latina em outros tempos, inclusive no Brasil; os colonizadores de hoje em benefício próprio distorcem, refugiam-se num mundo que não existe mais; são cegos guiando outros cegos.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.

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