A morte como sentido para encontramos a vida

A morte para todos os seres humanos, deveria ser um momento encarado como fazendo parte de um ciclo normal da existência humana, afinal, nascemos, desenvolvemos nossas potencialidades em muitos campos, atingimos a idade adulta e pôr fim a maturidade final; na trajetória da existência humana, existe tempo para tudo, hoje mais do que qualquer outra época gastamos energias demais para abafarmos certas realidades que são partes inseparáveis da condição mortal, deixamos para depois o que era para ser feito ontem, preferimos aguardar o amanhã do que solucionar agora os nossos problemas. Com a morte então, nossa sociedade prefere tratá-la como um tabu, algo que nunca vai acontecer, mas aí reside o maior erro, muitos se refugiam em teorias absurdas de longevidade eterna, a morte sendo vencida por este ou aquele mecanismo; mas sabemos no fundo ela vai chegar.

Perdeu-se sobremaneira o significado da morte em nosso meio, poucos são aqueles que dão atenção a esse tema tão crucial, ninguém, com raríssimas e louváveis exceções, jamais está preparado quando ela chega e isso acontece com todos, sejamos pobres, ricos, famosos ou anônimos, como relata uma bela canção gaúcha, “a morte não marca hora” e muito menos o dia ou o mês, por outras palavras, qualquer hora é hora para ela aparecer, um mistério eterno, um acontecimento infinitamente superior às nossas vãs especulações cotidianas. A finitude é uma marca registrada de todos os seres vivos, queiramos ou não, essa é a realidade, cada instante, cada momento vivido é num milagre único em nossas vidas, relembrar hoje nossos entes queridos que se foram é ocasião de valorizarmos ainda mais a vida que temos, afinal ela é uma só, uma chance que temos de melhorar o mundo.

Mas quando olhamos ao nosso redor, percebemos que estamos cercados de sinais de mortes totalmente antinaturais, que não deveriam fazer parte da trajetória normal daquela morte que sempre aprendemos a respeitar. Um dos sinais mais terríveis e inequívocos de morte cruel que temos é aquela perpetrada pelas inúmeras formas de violência, morre-se por uma bala perdida, morre-se afogado no mar, tentando encontrar uma vida melhor, morre-se nas guerras estúpidas feitas e produzidas sob encomenda por assassinos que usam e abusam de seus ternos e gravatas, morre-se nas ruas por não se ter onde morar, morre-se esquecido nos hospitais e asilos, morre-se nas cadeias, morre-se quando não há preocupação com políticas públicas voltadas para a resolução de problemas banais em nossa sociedade; mortes assim deveriam sim nos envergonhar profundamente.

Outro tipo de morte que vem assustando a todos, é a morte em muitos lugares do planeta do nosso meio ambiente, aliás uma morte que a grande maioria da população mal está prestando a devida atenção, estamos fechando os olhos, a mente e o coração, para a morte dos solos, a morte das florestas, as inúmeras mortes de diversas espécies causadas pelos incêndios, a morte de nossos rios, atingidos por secas severas, as enchentes também trazem a morte, o que dizer da poluição absurda que ceifa vidas inocentes, quantos são aqueles que viram a sua morada, o seu trabalho totalmente arrasados, morrerem de modo repentino. A morte no meio ambiente, pode ainda se tornar mais grave, caso o nosso estilo de vida continue o mesmo, caso continuemos com as mesmas práticas suicidas de nossos antepassados; a natureza é mãe, não quer que seus filhos morram assim de modo trágico.

Estamos à mercê de muitos tipos de morte, mas nem por isso podemos cruzar os braços, fingir que o problema não é nosso, não nos diz respeito, diante de tantos absurdos inomináveis que presenciamos todos os dias, deveríamos assim como fez Platão a muitos anos atrás, se espantar com a realidade, indagar-se porque o ser humano faz o que faz, o que cada ser humano ganha com tantos sinais de morte ao seu redor, o que ele levará quando partir dessa vida para outra? Hoje mais do que nunca, a irracionalidade vem ganhando voz e vez, ela tem se tornado a regra, quando na verdade deveria ser a pior das exceções disponíveis. Nossa história, lamentavelmente está coberta de sangue nesse momento; para quem não sabe, temos hoje no planeta inteiro, mais de trinta conflitos bélicos e milhões de vítimas inocentes, assim nos perguntamos: que tipo de vida é essa?

Bioeticamente, o próximo dia dois de novembro é uma data que deveria calar no mais profundo em cada um de nós, é uma daquelas ocasiões para trazermos à mente todas aquelas pessoas que passaram pelas nossas vidas, lembrarmos das coisas boas que nos ensinaram, lembrarmos também alguns erros que elas cometeram, talvez não por maldade delas, mas era aquilo que elas tinham em mãos naquele momento e nos repassaram. Nossos antepassados foram o que foram, nos amaram do jeito que eles conheciam o amor, deram o melhor de si para que nós tivéssemos uma existência melhor; cada um no seu meio, com a sua crença, evoca nesse dia os grandes momentos vividos com os que já partiram. Nossa responsabilidade pelo presente e pelo futuro é muito grande, se querermos ser lembrados como pessoas sábias, honradas e zelosas pelas gerações futuras, devemos fazer por merecer, fazermos as inúmeras lições de casa que estão aí diante de nossos olhos; continuar na mesmice resolverá muito pouco; façamos da morte, ocasião para viver.

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