Bullying varia conforme gênero e idade

Flori Antonio Tasca

Um estudo uruguaio avaliou diferenças em relação ao gênero e à idade de alunos que se envolveram em casos de bullying. Conduzido por Nelda Cajigas de Segredo, Evelina Kahan, Mario Luzardo, Silvia Najson, Carmem Ugo e Gabriela Zamalvide, a pesquisa “Agresión entre pares (bullying) en un centro educativo de Montevideo: estudio de las frecuencias de los estudiantes de mayor riesgo” foi publicada na Revista Médica del Uruguay em 2006 e envolveu 607 estudantes, com idade variando de 11 a 17 anos.

Foram encontradas muitas diferenças no comportamento de meninos e meninas. Elas, por exemplo, mostraram reconhecer mais a atitude conciliadora dos adultos, ou seja, o conselho dado por eles para que busquem soluções pacíficas para os conflitos e não briguem. Os meninos, por sua vez, demonstraram maior tendência a se relacionar com amigos que praticam condutas como o bullying. Eles também apresentaram um maior percentual de atitudes que favorecem o recurso a condutas violentas do que as meninas.

Os meninos tendem a pensar que, se evitarem uma briga, se desqualificarão diante dos outros meninos. Também costumam considerar que está certo agredir alguém que os agrediu primeiro. E sugerem, ainda, que a única forma de deter um “valentão” é agredi-lo primeiro. Não admira que também tenha cabido ao sexo masculino mais amplo percentual de alunos que admitiram uma maior falta de controle dos seus impulsos agressivos. 

Em verdade, os resultados evidenciaram que o número de meninos que recorrem à briga para resolver os seus conflitos é mais do que o dobro do número de meninas. Também eles praticam a zombaria de maneira altamente significativa. Por outro lado, não foram encontradas muitas diferenças entre os gêneros no que se refere a condutas solidárias de ajuda entre companheiros, e nem ao uso da intimidação como conduta agressiva.

O que se observou também, ao longo da pesquisa, foi que essas condutas tendiam a aumentar com o passar dos anos. Dos 15 aos 17 anos os índices são maiores. Ou seja, é maior a tendência de se relacionar com amigos transgressores, de ter atitude pessoal que facilite o ato agressivo, de praticar a zombaria e, sobretudo, de brigar. Também a falta de controle das condutas violentas mantém um nível alto, embora o seu pico seja aos 13 anos. O que cai bastante ao longo dos anos é a aceitação de atitudes conciliadoras por parte dos adultos. Também há aumento na intimidação, embora não tão significativo.

Os pesquisadores sugeriram que as mulheres apresentam um padrão de condutas e de atitudes mais homogêneo que os homens, para os quais seria até difícil descrever um padrão geral. Eles tendem a ser mais agressivos, o que não significa que elas também não sejam, mas elas lidam com seus impulsos de forma mais adaptativa ao ambiente. Há condutas, como a da intimidação, em que não há diferenciação entre os gêneros. Já a zombaria e as brigas apresentam realmente os maiores níveis no sexo masculino.

São resultados que, em grande medida, se alinham com investigações internacionais. Como observado pelos autores, as agressões entre alunos representam uma violação dos direitos de crianças e adolescentes, devendo ser tema prioritário na agenda sociopolítica, além de ser concebido como área prioritária na área de saúde e educação.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, [email protected]

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