Dignidade humana (04)

O caminho existencial de cada um de nós é feito sob muitas e variadas constantes, absolutamente ninguém escapa dessa realidade, tanto no passado como hoje em nosso presente, muitas práticas duvidosas e a acima de tudo agressivas, se fazem presentes, tratamos delas hoje em primeiro lugar, quais sejam: eutanásia e suicídio assistido. Ambos de modo sorrateiro tem invadido a mente de muitos como uma solução para sofrimentos desproporcionais ou até mesmo indignos para com a pessoa. Eutanásia e suicídio assistido são faces da mesma moeda, ou seja, eles aderiram às leis mercadológicas, uma contradição enorme, no sentido de que com tanto avanço técnico não se queiram dar condições dignas para que a pessoa passe seus últimos momentos com o seus, ou indo mais longe; podemos afirmar que quem não produz mais nada na vida deve sair de cena. 

Caminhando um pouco mais, trazemos para o nosso contexto atual, o descarte das pessoas com algum tipo de deficiência. Quem não se lembra, já leu ou ouviu falar das atrocidades cometidas com pessoas com deficiência durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pelos nazistas? Foram milhões de vítimas que pereceram por terem nascido com algum tipo de deformidade, milhares delas serviram como cobaias para experiências; os nazistas não acabaram em 1945, eles continuam entre nós de formas veladas e disfarçadas de bons samaritanos. Tanto lá atrás como aqui hoje, valia e vale o que a pessoa pode produzir, quanto de lucro ela pode render; quantos belos exemplos de pessoas com alguma deficiência provaram ser capazes de atos verdadeiramente heroicos, quantos atletas e quantos escritores, com alguma limitação física se tornaram para nós exemplos.

Outra mancha que assola a sociedade é a extrema violência praticada contra as pessoas que possuem opção sexual diferente, todos os dias nos surgem notícias de que tal pessoa por ter essa ou aquela opção sexual, foi barbaramente espancada ou morta e quem pratica esse tipo de violência hoje, não tem medo de mostrar seu rosto, nem de dizer perante as câmeras que fez um ato de bravura e limpeza na sociedade. E não é apenas ter essa ou aquela opção sexual que a pessoa sofre violência, em muitos lugares a pessoa mostrar a sua crença, a sua religião virou motivo para ser violentada e até mesmo morta, ser de uma etnia também virou problema para muitos, resumindo: Condenamos os nazistas por terem praticados atos de extrema selvageria para com as pessoas, mas a sociedade hoje, os imita com uma maestria impecável, aperfeiçoou muito seus requintes de crueldade.

O mundo da técnica também pode contribuir para denegrir a dignidade humana, excluir, rebaixar e até mesmo arrasar a reputação de alguém, até mesmo as guerras são conduzidas pela cruel violência digital, quantas armas hoje são guiadas e endereçadas a pessoas indefesas e inocentes, quantos governantes criminosos estão usando este expediente digital para verem realizados seus planos de expansão territorial. Uma quantidade incalculável de armas de destruição em massa estão a mercê de computadores que se forem mal usados, poderão fazer um estrago de magnitude sem precedente entre nós. A tecnologia pode servir a qualquer senhor, seja do bem ou do mal, usada para o bem poderá ser fonte de muitas alegrias, se for usada por um senhor do mal, como de fato já é usada já sabemos com clareza o que ela pode fazer; uma pandemia digital que nos diga.

Bioeticamente, a dignidade humana revela-se de uma beleza única, cada um de nós possui a sua, pelo menos deveria ser assim, mas eis que a dignidade humana sofre ataques constantes, aqui e acolá, sempre os velhos e novos fantasmas rondando cada um de nós, gerando ondas de inquietação para onde quer que se vá; hoje a sociedade dá mostras que todo conhecimento que ela adquiriu pode não ser de fato a sua salvação, antes a sua perdição. Em meio a tantos artefatos por nós produzidos, não temos sabido com sabedoria conduzir nossas existências, muita coisa foi produzida com rapidez espantosa quando na verdade não estávamos preparadas para tê-las em mãos, a grande maioria das pessoas está excluída desse processo e por não poderem desfrutar são ameaçadas constantemente; ontem como hoje precisamos nos tornar ainda mais muito mais humanos. 

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: [email protected] e [email protected]

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