Eu conto com a Palavra do Senhor

Dom Edgar Xavier Ertl

Estamos no mês da Bíblia. Um tempo especial para lê-la, meditá-la e vivê-la em família e nas comunidades de fé. Nós dependemos da Palavra do Senhor para viver os valores e os critérios da vida cristã. Nos salmos encontramos dezenas de referências à Palavra de Deus e seus efeitos sobre a vida do povo. Por exemplo, no Salmo 118/119 ,42 lemos: “Eu confio em tua palavra, Senhor”. É o Salmo que trata da meditação da Palavra de Deus na Lei. Para o judaísmo, a devoção à Lei é uma atitude, ou seja, ela aponta, indica, dá direção. É orientação, diretriz, instrução, norma. Meditar a Palavra da Lei é a vontade de Deus articulada em palavras para ordenar o homem e a sociedade. As comunidades cristãs de ontem e hoje cantam o que o Salmo expressa: “Pela Palavra de Deus saberemos por onde andar. Ela é luz e verdade, precisamos acreditar”.

A Palavra do Senhor é como a chuva e a neve

Escreveu o profeta Isaías sobre a Palavra do Senhor pronunciada e os frutos produzidos, comparando-a com fenômenos naturais: “Como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam para lá, mas empapam a terra, a fecundam e fazem germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, assim será a minha palavra, que sai de minha boca: não voltará vazia para mim, mas realizará a minha vontade e cumprirá a minha recomendação” (Is 55,10-11). Entre a proximidade e a distância de Deus, medeia a sua palavra, que desce do céu para realizar e revelar a salvação. É como a chuva: bênção primária, dom ativo que desata atividade, rega que fecunda e faz gerar. Seu ritmo não é o da eficiência, mas o da fecundidade. Semente fecundada é sinônimo de vida nova. A chuva põe em movimento um ciclo: alimento hoje, semente para a colheita de amanhã.

Auscultar a Palavra do Senhor, acolhê-la, deixá-la no centro do coração, como a semente no seio da terra, e as surpresas misteriosas dos frutos surgirão. A Palavra do Senhor nos causa surpresas agradáveis quando acolhida no interior de nosso coração, da nossa existência. A palavra provém gentilmente de Deus, jamais intentando se manter suspensa como nuvens no ar, antes almejando encharcar a terra, direcionando-a a Deus como plantas e árvores. O espírito de Deus seria colocado dentro dos seres humanos, onde produziria frutos.

Em atenção à tua Palavra, Senhor!

São Lucas escreveu que Jesus estava na margem do lado de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a Palavra de Deus (cf. Lc 5,1-11). No chamado aos quatro primeiros discípulos é perceptível o método usado por Jesus ao convidar estes homens ao seguimento. O primeiro chamado tem como cenário as multidões; no entanto, Jesus se afasta para expor-lhes a “a Palavra de Deus”, e os faz crer que sua Palavra gera o verdadeiro milagre da vida.  Diante da autoridade de Jesus, Simão Pedro é convidado a tentar mais uma vez, de forma diferente, agora com o mandato do Senhor. A vocação se encarna na situação de cada um e conduz o ser humano nos caminhos de Deus. E na afirmação de “em atenção a tua palavra, vou lançar as redes”, é visto que foi a fé impulsionada a Simão Pedro que o fez testemunhar o milagre da pesca. De outro modo. Pedro foi obediente à Palavra de Jesus.

Sem a Palavra de Deus, sem o chamado divino e sem a vocação somos seres incompletos, extraviados, perdidos, infecundos e infrutíferos. Sentir-se chamado é fazer encontro com o mistério, com o Deus Amor. Somos chamados a sermos na sociedade, hoje, cristãos por vocação e não por modismos e conveniência. Um cristão consciente da própria vocação vive em atenção à Palavra de Deus e não ao que o mundo dita. Especialmente no Mês da Bíblia, perguntemo-nos: Estamos atentos à Palavra de Jesus ou preferimos ouvir outras vozes? O que faço para que minha vida esteja em atenção à Palavra do Senhor? Neste Ano Vocacional, temos trabalhado em favor das vocações nas famílias e comunidades?

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