Meu filho/filha não me ouve

Dirceu Antonio Ruaro

Ouço, frequentemente, a queixa ou expressão “meus filhos não me ouvem, meu Deus, quando vão aprender a ouvir?”

A grande maioria dos pais (mãe e pai), sabe que em algum momento do crescimento e desenvolvimento dos filhos, parece que eles desenvolvem uma “deficiência” auditiva, especialmente seletiva e, parece que eles simplesmente não ouvem o pai e mãe.

É interessante observar que isso não ocorre de um momento para outro. Faz parte, sim, do desenvolvimento das crianças, dos interesses que a cercam, da forma como são tratadas, da maneira como ocorrem as “conversas” em casa.

Muitas vezes, os diálogos são “monólogos” do pai ou da mãe, que quer falar, falar, falar. E a impressão que os filhos têm é de que o pai ou a mãe, só desejam impor suas ideias ou opiniões, sem permitir que eles (os filhos) possam questionar, sugerir, discordar.

Por mais que a gente não tenha entendido, é preciso ensinar nossos filhos a escutar, pois escutar é um processo que envolve compreender uma informação, e isso é uma habilidade que vamos desenvolvendo desde pequenos.

Algumas crianças, são mais atentas às falas dos pais, parece que desenvolvem mais as habilidades de concentração e conseguem parar e ouvir, enquanto que outras parecem dispersivas, no mundo da lua.

Se desde pequenos ensinarmos que é preciso parar e ouvir atentamente o que o outro está dizendo, compreender a informação, e dar uma resposta, estaremos ensinando a ouvir.

Agora, se gritarmos lá da cozinha, dando uma ordem para a criança que está na sala com a televisão ligada, é bem possível que ela não ouça o que dissemos.

O processo de ensinar a ouvir é complexo porque exige atenção das duas partes, de quem fala e de quem ouve, mais que isso: exige compreensão das duas partes, exige boa vontade das duas partes.

A conversa entre mãe/pai e filho/filha precisa de contato visual, de contato físico, especialmente na infância. Como disse, não se pode gritar da cozinha para uma criança que está em outro cômodo com a TV ligada ou jogando no celular, ou lendo um livro, ou ainda ouvindo música.

Por isso é preciso, especialmente na infância e adolescência, manter contato físico. Se a criança está concentrada na música, na TV ou no jogo, de nada adiantará você chamar lá da cozinha.  Vá até o local onde a criança/adolescente se encontra, pare calmamente ao lado dele/dela, toque no ombro, suavemente e aguarde ele/ela retornar do “outro mundo” e então fale com calma.

E por que dessa forma? É simples: se o seu filho/filha, olhar nos seus olhos, estabelecendo um contato visual, terá dificuldade de ignorar sua presença e seu pedido.

Ah, também é preciso que o pai/mãe aprenda a mudar de comportamento e relação aos filhos. Se você pedir para o filho/filha fazer algo e porque ele/ela fez de conta que não ouviu, você vai e faz o que pediu, mostra que você não tem firmeza, (em outras palavras, não manda mesmo), e o filho/filha continuará agir como se nada tivesse acontecido.

E, é importante, também, que a criança/adolescente entenda o que lhe foi solicitado. Muitas vezes, não paramos para explicar claramente o que queremos. Por isso, ensine seu filho/filha a responder quando você fala, demonstrando que entendeu o que você deseja que ele/ela faça.

É preciso entender, pai e mãe que você é o adulto da relação. Adulto sabe agir de forma adequada, portanto de nada adianta ficar “magoada/magoado” porque seu filho/filha não fez o você pediu. Não faça “burro” por causa disso. A conversa é a melhor saída. Conversar com calma, explicar que o comportamento esperado é que ele (filho/filha) aprenda a ouvir. Ensine, nesses momentos, o sentimento de empatia. Diga-lhe que quando ele/ela lhe pede algo, você ouve, (mesmo que não possa atender plenamente o pedido), mas que você ouve, e explique que é preciso pensar no outro, sentir o que o outro sente quando é ignorado.

Por isso, ensine seu filho/filha a ouvir, pois o ato de ouvir tem um poder prodigioso, pois contagia. É a base da confiança entre pais e filhos. Mas lembre-se de que você também precisa ouvir seu filho/filha, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

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