Os invisíveis nossos de cada dia

Dirceu Antonio Ruaro

Inicio o texto de hoje com uma questão que me inquieta: você se sente invisível em algumas situações em sua casa, no seu trabalho, na escola?

Sei que muitas vezes estamos distraídos, absortos em nossos pensamentos e dificuldades cotidianas.

Sei que muitas vezes passamos e não enxergamos, olhamos e não vemos. Temos, muitas vezes, comportamentos sociais desajustados e incompreensíveis e/ou injustificáveis.

Pode ser até que sejamos indiferentes a muitas questões sociais e humanas que nos cercam, mas pode ser também que nos desacostumamos a pensar no outro como ser humano igual a nós.

Comportamentos assim podem ser construídos desde cedo, lá na educação infantil, quando nós, pais e professores, não oferecemos oportunidades de convivência e construção de companheirismo, de troca, de empatia, de valorização do outro.

É comum, e não deveria ser, isolamentos dentro de casa, no cotidiano das famílias, nas escolas, no cotidiano das tarefas e deveres escolares, no trabalho, no cotidiano do cumprimento de nossos deveres profissionais.

É claro que não é necessário fazer “festa” toda vez que encontramos um familiar, um colega de aula ou de trabalho, mas pelo menos um: “olá’, “como vai”, “tudo bem”? é necessário para dizer que não somos indiferentes à presença do outro.

A invisibilidade dos outros surge quando em nós é desenvolvido o sentimento de indiferença que é na verdade um sentimento ligado a uma forma de “desapego insensível, no qual o indivíduo não se importa com os sentimentos alheios ou se suas ações causam sofrimento ao outro.” Ou seja, uma pessoa insensível é incapaz de sentir e se emocionar pelo outro.

Por isso mesmo, é dever da família e da escola despertar nas crianças, por meio de ações educativas, o sentimento de empatia, de aproximação, de valorização, de colocar-se no lugar do outro.

Precisamos ensinar aos nossos filhos e educandos que a indiferença dói porque a comunicação é uma dasnecessidades mais importantes do ser humano. Quando você comunica uma determinada mensagem a um amigo, espera uma resposta. No entanto, se esse amigo age com indiferença perante a sua mensagem, a sua frustração pode ser maior do que se ele tivesse oferecido uma rejeição concreta. A indiferença mostra distância e uma aparente falta de interesse.

Preocupa muito que essas “indiferenças” podem levar à “invisibilidade” , especialmente a chamada “invisibilidade social”, extremamente comum e preocupante nos dias de hoje.

Nas ruas de todas as cidades convive-se com “moradores de rua”, “viciados” que desgraçadamente acabaram por uma ou outra razão social, familiar ou econômica nessa situação. E, as pessoas “de bens” passam e apressam o passo, para distanciar-se o mais rapidamente possível, pois não querem “contaminar-se”.

Nas ruas das nossas cidades, encontramos, também, diversos trabalhadores em tantas funções e tarefas consideradas por muitos como “menos nobres” e, por isso mesmo são “invisíveis” para boa parte das pessoas. Estão ali como se fossem um “poste” cumprindo uma função, uma tarefa indispensável, mas para muitos, não humana.

Inquieta a questão: Por que o ser humano olha sem ver e se torna indiferente ao outro?

 Talvez pudéssemos compreender por meio do conceito de invisibilidade social, que se refere a seres socialmente invisíveis, seja pela indiferença, seja pelo preconceito, o que nos leva a compreender que tal fenômeno atinge tão somente aqueles que estão à margem da sociedade.

Existem diversos fatores que contribuem para que a invisibilidade social ocorra: histórico, cultural, social, religioso, econômico, estético etc. É o que acontece, por exemplo, quando um mendigo é ignorado de tal forma que passa a ser apenas mais um objeto na paisagem urbana.

Educar para a sensibilidade da presença do outro, para a empatia, para a valorização do ser humano parece ser a grande necessidade e uma possível saída para a invisibilidade e indiferença social, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

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