Política regenerativa para religar o Brasil

Sérgio Xavier

Extremismo, política corrosiva e desinformação fanática estão retrocedendo horizontes, aumentando pobrezas e atrasando evoluções. É urgente reconectar forças democráticas e bases científicas para construir políticas públicas interconectadas, visando restaurações ambientais, sociais, econômicas e culturais, rápidas e simultâneas. Resolver problemas emergenciais e interdependentes como pandemias, misérias, violências e mudanças climáticas exige inteligência coletiva, redes republicanas e conhecimentos multidisciplinares integrados.

O insustentável modelo de governança pública do século passado, piorado pela estupidez anticiência, precisa ser imediatamente substituído por uma biogovernança, com gestores comprometidos em regenerar ecossistemas, fortalecer a democracia, injetar inovação no sistema político-partidário e criar programas multiconectados de governo, sintonizando ecologia e economia, transformando cadeias degradadoras em modelos regeneradores.

Biogovernar é interligar processos sociais-culturais-econômicos-políticos-ambientais, com visão holística e democrática, para fortalecer a diversidade humana, a paz e a conservação da vida planetária. Sistemas econômicos baseados em energias fósseis, gases-estufa, lixões, desmatamentos, desperdícios, exclusões e mortes precisam ser mudados já. Regenerar ambientes, em vez de destruí-los, e fortalecer comunidades, em vez de oprimi-las, requer cadeias econômicas harmonizadas com os ciclos biogeoquímicos naturais e modos de vida originais.

Uma nova economia regenerativadeve ser a plataforma propulsora de evolução social e equilíbrio climático e pode florescer rapidamente com incentivos a energias renováveis, agregando redes descentralizadas e fortalecendo comunidades; conservação de água – captação de chuvas, reuso, saneamento, reflorestamento e regeneração de rios, e bioeconomia, com agroecologia e bioindústrias potencializando as florestas vivas e as comunidades tradicionais.

Nesse rumo, é fundamental a circularidade, com indústrias reversas (resíduos virando insumos) empoderando cooperativas de catadores; mobilidade limpa, com biocombustíveis, hidrogênio verde e veículos elétricos públicos e compartilhados; ecourbanismo e biodesign, com redesenho verde das cidades e moradias acessíveis e seguras – mais de 8,3 milhões precisam sair das áreas de alto risco climático no Brasil; educação, arte e comunicação para promover um pensamento regenerativo, com qualificação profissional e programas culturais; pagamentos por serviços ambientais, com modelos cooperativos de créditos de carbono social para elevar renda e viabilizar justiça climática em áreas pobres; e gestão sistêmica digital, com softwares inteligentes, para governança de bens comuns em rede.

Todos esses eixos impulsionados conjuntamente possibilitam a criação de uma espiral de desenvolvimento regenerativo, melhorando indicadores socioambientais, saúde e qualidade de vida de todos. Políticas Públicas Sociais-Econômicas-Ambientais interconectadas devem orientar a formulação de leis e incentivos, considerando redução de desigualdades, negócios verdes e regeneração ambiental elementos indissociáveis. Planos de educação e capacitação profissional devem estar alinhados com as demandas da economia regenerativa, planejando e acelerando a migração de trabalhos fósseis para empregos sustentáveis. Agências de fomento, comprometidas com esses novos conceitos, podem orientar a elaboração de projetos regenerativos e facilitar captações financeiras, com centrais de informações on-line.

Para superar questões complexas, como desigualdades e colapsos ambientais, com visão conjunta de problemas e soluções é essencial ter mapas reunindo desafios, limites e alternativas regeneradoras disponíveis. Enxergar o todo e priorizar vulnerabilidades sociais, ambientais e econômicas são pontos de partida. Governar na era digital é clicar em mapas e saber passivos e potencialidades de cada lugar, para orientar a economia e tomar decisões, com rapidez e embasamento, considerando urgências, recursos, vocações e restrições naturais.

Planejamento e gestão governamentais devem saltar do offline, lento e obscuro, para a interatividade da web, com funcionalidades em tempo real, inteligência artificial, internet das coisas e as melhores tecnologias disponíveis, a serviço do público, com acessibilidade virtual e presencial. Tudo isso requer programas de capacitação de gestores e profissionais, de todos os setores, para abrir percepções, ligar múltiplos conhecimentos e desenvolver planos de transformação digital.

Novos modelos de desenvolvimento devem ser pensados a partir de biomas e bacias hidrográficas. Labs vivos de inovação, integrando governos (políticas públicas), academia (conhecimentos científicos), empresas (empreendedorismo e investimentos) e cidadania (representações comunitárias e ONGs) são bases práticas para formulação e aceleração de novos sistemas inclusivos e sustentáveis.

Os pioneiros Labs de Economia Regenerativa de Fernando de Noronha e do rio São Francisco (este último ligado aos projetos HidroSinergia.org e Nordeste Potência) usam essas referências e visam replicações em larga escala. Incentivando cooperativas inovadoras e entrelaçando cadeias produtivas verdes, como créditos de carbono, reflorestamentos, ecoeficiência hídrica e energia solar descentralizada, buscam modelos econômicos criativo e eficazes para atenuar mudanças climáticas, impulsionar regenerações e reduzir desigualdades.

A regeneração da política, da economia e do meio ambiente começa com um voto coerente, bem-informado e exigente. O programa de governo do seu candidato ou candidata agrega ideias regenerativas ou apontam armas para aumentar a desagregação e piorar os velhos modelos destrutivos?

Articulador da iniciativa Governadores Pelo Clima e dos Labs de Economia Regenerativa, no Centro Brasil no Clima – CBC

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