Ucrânia: um ano de horror

No próximo dia vinte e quatro de fevereiro, tristemente vamos então recordar o aniversário de um ano de guerra na Ucrânia, um conflito mais que emblemático, selvagem, criminoso por todos os ângulos que se olhe e também mais criminoso ainda, por aqueles que são os seus principais fomentadores, isto é, o líder da Rússia e a vasta camarilha da OTAN. Ninguém sabe ao certo quantos já morreram de um lado ou de outro, absolutamente ninguém é capaz de dizer quantos são os refugiados ucranianos ao redor do mundo por ocasião dessa violência sem sentido; um conflito que envolve política internacional, religião, fundamentalismos, dinheiro e poder sobre tudo e sobre todos, os que menos importam ou tem valor nesse conflito são as pessoas e isso já ficou claro há muito tempo; os que menos fizeram alguma coisa para a eclosão desse morticínio são justamente os que mais sofrem.

Em alguns círculos mais “sofisticados” da diplomacia estrangeira, temos a impressão de que essa guerra caiu no esquecimento, seus membros (e seus pensamentos vazios) estão já a tempos com a cabeça em outros lugares, mas ela (a guerra) está ali, uma tragédia sem precedentes ceifando todos os dias sabe-se lá quantas vítimas, assassinos de idosos, de pais de famílias, de mulheres, crianças e do meio ambiente em geral; igualmente temos uma sensação de que o mal, a destrutividade e a vileza, estão entre os atos mais desejados e praticados por ambos os lados que constroem essa guerra. Tristemente engraçado é prestarmos atenção aos discursos dos principais líderes envolvidos nessa violência, lhes é peculiar toda uma tagarelice a se perder de vista, uma linguagem despudorada, caras de pau ao máximo, líderes fracassados que merecem mais o título de criminosos de guerra.

Sim, todos esses seres humanos criminosos de guerra que estão atuando na Ucrânia possuem rostos, famílias, nomes respeitáveis a “zelar”, em ternos vistosos e gravatas da última moda, cafés, almoços e jantares luxuosos reúnem-se constantemente para jamais levantarem as suas vozes, mostrarem a sua indignação perante o morticínio que lá está ocorrendo, esses distintos senhores da vida e da morte estão imbuídos de uma certeza, isto é, se acham no direito de tornar a vida de todos, mais difícil, mais perigosa, transformam amigos em inimigos mortais, separam famílias em nome de suas ideologias ultrapassadas e agonizantes; mestres na arte de enganar, esses líderes “salvam” vidas num dia, para no seguinte fazê-las desaparecer para todo o sempre. A guerra na Ucrânia está carregada de símbolos, complexa, de longo alcance e com múltiplas mudanças para todos os países.

A invasão criminosa da Ucrânia, pelo governo russo, deixa o mundo apreensivo embora isso seja devidamente camuflado todos os dias, muitos dizem abertamente que esse conflito é já a terceira guerra mundial, devidamente fatiada ao gosto dos barões da morte, a crise civilizatória que se instalou no Planeta nas últimas décadas vem impactando de modo direto em todas as nossas relações cotidianas, muitos fantasmas começaram a nos rondar nos últimos tempos, o pior deles chama-se ataque nuclear de ambos os lados, com consequências devastadoras para todos, sabemos que todos os países envolvidos nesse embate possuem armas de destruição em massa aos milhares, estão ávidos para que o “outro” lado cometa uma falha e possam então acionar seus mísseis de alta precisão; o mundo nunca foi e nunca será  apenas um, como muitos senhores desta guerra anseiam.

O país Ucrânia não é uma terra de ninguém, que deva ser conquistado por quem quer que seja, ele é do povo ucraniano e como tal deve ser respeitado, bajular os senhores da guerra é dizer um não categórico à paz, apertar as mãos de assassinos simbolizando que tudo está bem é compactuar com a permanência do conflito, enviar mais armas, mais aviões, mais e mais instrumentos de morte é dizer que se vai até as últimas consequências se preciso for, esses demônios da guerra deveriam antes de qualquer coisa mandarem sim para o conflito, as suas esposas, os seus maridos, os seus filhos, os seus parentes mais queridos, que se matem eles se assim o quiserem e não colocarem em risco o Planeta todo, se querem se aniquilar, que sejam eles os primeiros a irem para a linha de frente do combate; nosso belo Planeta não merece essa e nenhuma outra guerra, ele não merece.

Bioeticamente, a trágica guerra na Ucrânia, levanta muitas questões de importância capital para todos nós, ali notamos claramente uma comunhão de interesses escusos de ambos os lados, ideologias fracassadas e que não nos dizem mais nada se digladiando às custas do sofrimento das pessoas e do meio ambiente em geral. Queiramos ou não esse insano conflito já está trazendo para o debate, a questão futura das diferentes formas de energia, crises econômicas em diferentes pontos do globo que podem ameaçar o todo, bem como a questão alimentar que avança a passos rápidos deixando todos apreensivos e vulneráveis. Não bastará apenas acabar com esse conflito, claro que ele é o objetivo número um hoje, mas juntamente com o seu término muitas outras questões menores precisam também ser resolvidas, os velhos mantras da decadente globalização e mercado precisam ser reformulados, pois eles são outro pano de fundo desta barbárie; curiosamente eles que eram tão festejados, saíram agora de cena; são eles sim uma vergonha para todos.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.

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