Um pássaro desconhecido

Hoje pela manhã, ao andar pelos pátios, “tropecei” com um pássaro, talvez um vizinho do qual nem me tenha dado conta; aliás, nem o vi, apenas senti sua voz solitária e comovente. Não sei seu nome, nem espécie, mas o impacto secreto e enigmático de seu “bom-dia” me deteve hipnotizado por alguns passos. Fiel e pontual, o sol mal havia iniciado seu percurso diurno, dissipando as sombras e despertando o semblante sonolento da noite e, com os dedos róseos da aurora, repintava a natureza com cores e encantos sempre novos, refletindo pingos de luz nas gotas de orvalho.

O que me impressionou, porém, foi o canto do pássaro desconhecido: único, insistente, sem resposta – misto doído de lamento e saudade; teria perdido a direção da casa, a companheira ou os filhotes? Alguém ou alguma coisa o teria incomodado? De qualquer forma, alheio e indiferente à manhã cheia de luz, ou justamente fazendo parte de sua liturgia celebrativa, a ave solitária seguia tenazmente, teimosamente seu gorjeio.  A presença do pássaro desconhecido ocupou minha alma. Não faltaram perguntas e dúvidas, memórias e interrogações: estaria ele cultivando um ritual fúnebre de perda e solidão, ou festejando, à sua maneira e em sua linguagem, as roupas novas que estreavam o novo dia?

As flores pareciam colorir aquele som que vinha das profundezas da alma e as pétalas de rosas, como um tapete vermelho, se estendiam pelo jardim. O céu, de um azul inusitado, tudo abraçava com seu manto; o verde de plantas e árvores distribuía sombra e luz por toda parte. A festa matutina prosseguia vigorosa e robusta. E, com ela, o canto triste e festivo do pássaro; no ar pairava misterioso o encanto do cotidiano e da vida docemente amarga ou amargamente doce.

Começo a pensar naquele comércio onde pássaros engaiolados são vendidos e comprados. As pessoas pensam que, se comprarem o pássaro certo, terão alegria. Mas pássaros engaiolados, por mais belos que sejam e por mais belo que seja seu “lar”, não podem dar alegria. Nossa, a alegria é um pássaro que só vem quando quer! Ela é livre. O máximo que podemos fazer é quebrar todas as gaiolas e cantar uma canção de amor, na esperança de que ela nos ouça. Oração é o nome que se dá a esta canção para invocar a alegria.

De repente, silenciou o pássaro e a oração colocou música no meu silêncio. A minha oração, neste momento, são palavras que pronuncio a partir do silêncio, pedindo que o silêncio me fale. Sinto que a oração é para a nossa alma como o ar para o nosso corpo. Pássaro desconhecido, agora entendo que o seu canto é de alegria e não de tristeza. Assim, nada impede que comecemos bem este novo dia. E começar bem é gostar das pessoas com quem se convive, se trabalha, sem o que a vida teria um gosto amargo. A vida fica mais bonita quando carregamos um sorriso no rosto e muita gratidão no coração. Que o seu dia seja muito abençoado!

Pe. Lino Baggio, SAC

Paróquia São Roque – Coronel Vivida

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