Velhos fanatismos com nova roupagem

Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla

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No último 27 de janeiro foi celebrado o dia internacional da lembrança do holocausto, um evento que à primeira vista parece estar muito distante no tempo, mas caso não seja constantemente relembrado poderá um dia voltar a acontecer, a data não foi escolhida por acaso, ou seja, nesse dia no ano de 1945, os aliados entraram no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, o qual foi considerado o principal complexo de extermínio de vidas humanas, o mais cruel de todo o regime nazista. As principais vítimas ali foram os judeus, mas grupos menores também foram ali mortos, tais como: deficientes mentais e físicos, opositores do regime, negros, homossexuais, ciganos, pessoas ligadas a qualquer tipo de religião; em resumo: Homens, mulheres e crianças, de onde quer que fossem e apresentassem qualquer condição não ariana eram mandados para esse matadouro único.

É pueril por demais acreditar que o holocausto começou assim do nada, ele foi arquitetado, projetado, planejado meticulosamente e posto em prática pela mente humana, não uma mente qualquer, sem conexão com a realidade, adveio de pessoas culturalmente excepcionais à época, lúcidas, altamente instruídas que sabiam exatamente o que estavam fazendo. Mais precisamente em 20 de janeiro de 1942 e é isso que assusta, apenas e tão somente quinze pessoas se encontraram numa região de Berlim, mais precisamente em Wannsee, nesse local deu-se o ponta pé para a solução final, pois até então os métodos de extermínio nazistas não estavam apresentando “resultados satisfatórios”; nessa reunião regada a muita comida, bebidas finas e principalmente cerveja, as autoridades nazistas deixaram tudo por escrito; como sempre a arrogância estava por cima e não tinha limites.

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Falar do holocausto, não podemos jamais nos esquecer de outra figura não menos sinistra, ou seja, trata-se de Otto Adolf Eichmann (1906 – 1962): um tenente-coronel da SS, (uma organização paramilitar ligada ao Partido Nazista) e um dos principais organizadores do Holocausto. Eichmann foi então designado pelo seu superior, Reinhard Heydrich para gerir a logística de todas as deportações em massa dos judeus para os guetos e campos de extermínio das zonas ocupadas pelos alemães na Europa Oriental durante a 2ª Guerra Mundial. Ao final dessa, Eichmann fugiu para a Argentina, vivia tranquilo, até que em 1960 ele foi descoberto e preso pelo Mossad; entre as idas e vindas teve um julgamento midiático sem precedentes até então, considerado culpado foi enforcado em 1962; sobre ele, Hannah Arendt escreveu o célebre: “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal”.

O primeiro campo de concentração fundado foi em 1933 e chamava-se Dachau, o mais conhecido campo Auschwitz foi um dos muitos campos de concentração criados pela racionalidade humana, nesse lugar havia três campos principais e mais trinta e nove secundários, já no campo de Chelmno, calcula-se que mais de trezentas mil pessoas judias morreram nesse campo. Em Treblinka calcula-se hoje que um milhão de pessoas foram mortas. Os métodos de eliminação variavam muito dependendo das “necessidades”; certo é que nesse ambiente foram testados e aprovados métodos que acabaram se perpetuando no tempo e tornaram-se ainda mais mortíferos ao longo das décadas seguintes com outros nomes mais sutis; a mente humana é capaz do melhor, mas também é portadora de faculdades estarrecedoras cujos tentáculos acabam se prologando por todos os pontos.

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Rememorar o holocausto judeu é trazer à tona uma das páginas tristes da história humana em busca do poder supremo, desde o fim da 2ª Guerra Mundial quando o mundo tomou ciência desses lugares de horror, aos poucos foram surgindo novos relatos de lugares semelhantes: A antiga União Soviética e seus gulags, imortalizados por Alexander Soljenítsin e Varlam Chalámov, a Villa Grimaldi de Augusto Pinochet, Manzanar, localizado em Serra Nevada, Califórnia, nos Estados Unidos que abrigava japoneses e descendentes, Portugal e seu campo de concentração do Tarrafal, na Espanha existiram os campos de concentração do general Francisco Franco Bahamonde. Muitos outros podem ainda ser citados: Em Cuba, na Argentina, China, Coréia do Norte, Japão, Reino Unido, França; todos em maior ou menor escala cultivaram ou ainda cultivam essa prática grotesca, abominável.

Bioeticamente, o holocausto é constantemente um vigoroso alerta para cada um de nós, pois nos últimos tempos temos acompanhado uma onda intensa de xenofobia, desprezo e atitudes deploráveis para com pessoas que não se encaixam num determinado modelo de civilização que se quer a toda força implantar no Planeta, os defensores desse tipo de comportamento se baseiam em antigos preceitos morais, religiosos e políticos para levarem seu projeto adiante. Consideram algumas pessoas mais pessoas do que as outras, por outras palavras, que algumas pessoas por sua posição social, cor, religião detém mais direitos do que as outras. Os arautos da modernidade e toda a sua aparelhagem técnica, quando confrontados com todos os episódios acima relatados, emudecem, dão de ombros ou viram as costas; no fim das contas o feitiço acabou se voltando contra o feiticeiro. O holocausto do século XXI além daqueles já conhecidos, poderá ter novas formas, novos campos de concentração poderão surgir, caso nossa memória se enfraqueça ou claudique.  

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.

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