Com a derrota da lista de direita apoiada pelo presidente Sebastián Piñera, os conservadores não terão poder de veto na discussão dos artigos, em um indício de que, com a nova Carta, os chilenos podem recriar serviços públicos privatizados na era Pinochet, tanto na saúde quanto na educação e em outros setores da economia.
Listas de candidatos independentes, de ideologia mais à esquerda, mas sem vinculação com partidos políticos tradicionais tiveram 46% dos votos e, juntos, terão 48 assentos na assembleia.
A principal força política dos independentes é a 18-0, lista criada por participantes dos protestos de 2019 que tomaram conta do país e levaram o governo a convocar um referendo sobre uma nova Constituição após semanas de violência. Com uma plataforma à esquerda, a 18-O não crê na política partidária convencional.
No entanto, a maioria dos eleitos na lista é composta por neófitos na política. São professores, profissionais liberais, ativistas de movimentos sociais e estudantes.
Fracasso da política tradicional
A lista Vamos por Chile, formada pelos conservadores e a centro-direita, tem a segunda bancada, com 37 deputados. A meta da coligação era passar de 50 assentos na Constituinte, para deter o poder de veto sobre artigos da Constituição e, desta forma, impedir mudanças mais amplas no atual texto constitucional.
A meta, no entanto, ficou distante. Mesmo com o campo da direita unido, liberais moderados têm maioria na lista diante dos conservadores.
“O povo deu seu recado claro ao governo e as forças políticas: não estamos sintonizados com suas demandas e estamos sendo desafiados por novas lideranças”, reconheceu o presidente Sebastián Piñera.
A lista de esquerda formada pela Frente Ampla e o Partido Comunista Chileno, tem a terceira bancada, com 28 deputados. O bloco optou por não se aliar à lista formada pela antiga Concertação de Esquerda, que governou o país durante a maior parte da redemocratização, com nomes como Ricardo Lagos e Michelle Bachelet. A lista da antiga Concertação foi a quarta mais votada e terá 27 assentos.
Analistas são unânimes em apontar a votação como a marca de uma nova etapa na história chilena, mas o futuro da estabilidade econômica chilena está em risco, caso não haja espaço para diálogo na Constituinte.
Incertezas pedem moderação
“Não sabemos ainda a duração nem a profundidade dessas mudanças que se anunciam”, avalia o cientista político Gonzalo Cordero.
Já para Claudia Heiss, cientista política da Universidade do Chile, o triunfo dos independentes dará um rosto mais cidadão à Constituinte, com mais legitimidade.
O cientista político Marcelo Mella, da Universidade de Santiago, acredita que caberá aos partidos moderar os independentes. “Os partidos resistiram a Pinochet. Esses terremotos passam. O mesmo ocorrerá agora”, aposta.
Moderação é também a palavra-chave para observadores do pujante setor econômico chileno. “O diálogo precisa ser preservado para evitar que extremistas de ocasião ganhem campo”, diz Joaquin Villarino, especialista em mercado de cobre, a principal commodity chilena. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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