O plenário virtual da Corte discute o tema nesta sexta-feira, 14, mas a maioria dos ministros já votou pelo adiamento do levantamento para o ano que vem, conforme defendia o sindicato. Os servidores estavam temerosos com o recrudescimento da pandemia de covid-19 no País, além de ressaltarem a falta de recursos e o atraso no cronograma para conduzir o censo este ano. A decisão do plenário do STF derruba a liminar do ministro Marco Aurélio Mello, que determinou no mês passado a realização do Censo ainda em 2021.
No fim de abril, o novo presidente do IBGE, Eduardo Rios Neto, afirmou que o órgão estava preparado tecnicamente para realizar o Censo Demográfico em 2021, “a depender das condições sanitárias” e da recomposição integral do orçamento de R$ 2 bilhões, e mesmo assim a tempo de que os preparativos fossem retomados de forma a levar a campo a coleta ainda este ano.
O Censo Demográfico, que visita todos os cerca de 71 milhões de lares brasileiros, foi orçado inicialmente pela equipe técnica do IBGE em mais de R$ 3 bilhões. Em meio a pressões do governo pela redução no orçamento, os questionários originais foram enxugados, e a verba encolheu para R$ 2,3 bilhões. Quando foi adiado para 2021, o governo federal reduziu ainda mais esse montante previsto, para R$ 2 bilhões. No entanto, apenas R$ 71 milhões foram aprovados pelo Congresso Nacional no mês passado, e o Orçamento sancionado e publicado no Diário Oficial da União trouxe um veto do presidente Jair Bolsonaro que cortou esse valor para apenas R$ 53 milhões, o que inviabiliza até os preparativos para o levantamento ir a campo em 2022, afirma o sindicato dos servidores do órgão.
Os sucessivos cortes no orçamento do censo geraram uma crise de comando no instituto. Em 26 de março, dia seguinte à aprovação pelo congresso da redução no orçamento que inviabilizava o censo em 2021, a então presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra, informou que entregaria o cargo, permanecendo por apenas mais duas semanas à frente do órgão. Ela cumpriu seu último dia de expediente em 9 de abril, sendo substituída interinamente pela diretora executiva do órgão, Marise Ferreira, servidora de carreira do IBGE há 37 anos. O novo presidente, Eduardo Rios Neto, era diretor de Pesquisas do IBGE empossado pela ex-presidente em 2019 e teve sua nomeação publicada no Diário Oficial da União em substituição a Susana apenas em 27 de abril.
As informações recolhidas pelo Censo servem de base, por exemplo, para o rateio do Fundo de Participação de estados e municípios, sendo essenciais também para políticas de saúde, como a necessidade de alocação de profissionais e equipamentos para atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e planejamento de políticas educacionais. Os dados são usados ainda como base para pesquisas amostrais, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do próprio IBGE, que levanta informações sobre o mercado de trabalho, como a taxa de desemprego, e até para pesquisas eleitorais.
Leia a íntegra da nota do sindicato de servidores do IBGE divulgada nesta sexta-feira, 14:
“A decisão plenária do STF que obriga o governo a realizar o Censo em 2022 é uma luz no fim do túnel do apagão estatístico que o país vive com o atraso de dois anos da pesquisa censitária.
Entretanto, é importante ressaltar que, para cumprimento do cronograma, com realização de todas as atividades necessárias, e garantia de segurança dos recenseadores, é determinante o complemento de recursos para as atividades preparatórias que precisam ser realizadas ainda este ano. Cabe às instituições democráticas lutar pela garantia de recursos para este ano corrente, no montante de R$ 250 milhões, valor superior ao destinado pelo governo no orçamento para 2021.
A pesquisa censitária não comporta imprevistos e, experiências compartilhadas de outros órgãos da América Latina, prenunciam os problemas que podem decorrer da não realização adequada da pesquisa.
O Sindicato Nacional dos trabalhadores do IBGE (ASSIBGE/Núcleo Chile) defende a realização presencial do Censo em 2022, que só será possível com a readequação orçamentária por parte do Governo Federal, a fim de garantir segurança estatística e sanitária para toda a população.”
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