Marcilei Rossi com Assessoria
A Secretaria de Assistência Social de Pato Branco iniciou nessa quinta-feira (23) um projeto para combater a pobreza menstrual. Nesta primeira etapa, cerca de 40 mulheres atendidas nos Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do município participaram de uma aula sobre o tema no Largo da Liberdade. O objetivo é que elas aprendam a produzir absorventes ecológicos e adicionem eles às cestas básicas doadas pela instituição.
“O encontro deste dia vem a somar com as nossas ações que abrangem o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, que são desenvolvidos através do Cras Alvorada e do Cras do Bairro São João”, destacou Liane Cristina, chefe dos projetos e políticas sociais. “Queremos garantir ao nosso público o conhecimento e a informação quanto à preservação do meio ambiente, através da utilização dos bioabsorventes, com o intuito de dialogar sobre os aspectos da saúde da mulher, bem como os cuidados ambientais que atualmente estão em evidência no cenário mundial e nacional”.
A aula foi ministrada pela artesã Mailane Junkes Raizer da Cruz, que há sete anos produz e utiliza absorventes ecológicos.
Após a aula, as mulheres devem iniciar a produção dos absorventes nos Cras a que são vinculadas, além de produzirem outros materiais nas oficinas de costura que possam ser revertidos em renda própria.
Auxiliarão nessa etapa Edna Zamboni, facilitadora do curso de feltro; Dercy Machado de Lima, com bordado em chinelo; Marlene Marcon, na costura básica; e Raquel Marques, na costura avançada.
Projeto
De acordo com as coordenadoras dos Cras São João e Alvorada, Viviane Martinello e Elaine Fátima Markoski, trabalhar este tema é olhar com sensibilidade às causas relacionadas diretamente às mulheres.
Segundo elas, é comum ocorrer pedidos de absorventes nos Cras ou de ouvir relatos que mostram o quanto a vulnerabilidade faz com que o que se tenha não seja suficiente para todo o ciclo menstrual.
Com estas medidas, o objetivo é que este gargalo seja sanado e que as mulheres tenham dignidade durante todo o período.
Este projeto iniciou ainda no mês passado, com a então secretária Barbara Padoan, que distribuiu em vários pontos da cidade caixas para coleta de doação de absorventes. Segundo Liane, a arrecadação será contínua para garantir o apoio durante todo o ano.
A iniciativa adotada em Pato Branco não é uma novidade em território nacional, grupos de mulheres, conselhos de direitos da mulher, associações de pais, diretores de escolas e secretarias municipais em todo o país se mobilizam para reduzir os impactos da pobreza menstrual
As ações variam desde a coleta de absorventes, a busca de aprovação de legislações que tornem obrigatório ao Poder Público o fornecimento de itens de higiene, até oficinas de confecção de absorventes com retalhos, um exemplo é o ‘Com asas ou sem abas’ desenvolvido em Florianópolis (SC), que por conta da pandemia foi paralisado e que está sendo retomado neste mês com estudantes do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental.
Pobreza menstrual
A problemática social que envolve a pobreza menstrual passou a ganhar notoriedade quando em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito das mulheres à higiene menstrual, como uma situação de saúde pública e de direitos humanos. Lembrando que muitas garotas deixam de frequentar a escola durante o ciclo menstrual, e mulheres inseridas no mercado de trabalho chegam até mesmo a se ausentar do trabalho.
O tema passou a ganhar ainda mais visibilidade pelo fato de que ao mesmo tempo em que se ampliou debate sobre mitos e tabus referentes a menstruação, uma grande parcela da população não tem condições de adquirir itens básicos para a manutenção da higiene que o período exige. A isso se soma ainda o fato de que muitos produtos serem considerados como de luxo, por atenderem o universo do “mercado rosa”.
Governos
No fim de agosto deste ano, a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) aprovou o projeto de lei 944/2019 que busca o combate da pobreza menstrual e garantia de dignidade a adolescentes e mulheres paranaenses em situação de vulnerabilidade social e econômica.
O texto fala em meio de promoção de ações de garantia da saúde básica para as adolescentes e mulheres em situação de vulnerabilidade social e a prevenção contra riscos de doenças.
Também em agosto passado, a Câmara Federal aprovou por unanimidade o Projeto de Lei (PL) que institui um programa para assegurar a oferta gratuita de absorventes higiênicos femininos para estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública de ensino.
A iniciativa também vai atender às mulheres em situação de rua ou em vulnerabilidade social, mulheres recolhidas em unidades do sistema penal e adolescentes em unidades de internação. A expectativa é que o projeto deve beneficiar cerca de 5,7 milhões de mulheres em todo o país. O texto agora segue para análise do Senado.
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