Associação Iguais Nas Diferenças buscam auxílio para manter a equoterapia

Durante uma Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Pato Branco, no dia 3 de agosto de 2022, a presidente da Associação Iguais nas Diferenças, Angélica Oliveira, em conjunto com a professora do curso de fisioterapia da Unidep, Luane Paula de Souza, estiveram presentes para falar sobre o projeto de equoterapia e as dificuldades que vem sendo enfrentadas pela associação.

Criado em 2019, a professora Luane é responsável pelos atendimentos, em conjunto com os alunos do curso de fisioterapia. De acordo com a presidente da associação, os cavalos, Chico e Butiá, foram cedidos, na época, para a Associação Iguais Nas Diferenças, por membros da sociedade civil, enquanto o projeto, assim como a entidade, recebia doações, em boa parte, pelos colaboradores do projeto e também através de ações realizadas.

No entanto, durante a sessão da Câmara Municipal, a presidente citou as dificuldades enfrentadas para manter o projeto após os dois anos de pandemia da covid-19, onde não foi possível realizar eventos e ações presenciais, além da perda de alguns dos ‘padrinhos’ do projeto de equoterapia.

Angélica explica que, para manter um cavalo pelo período de um mês, além do pagamento de R$ 1.300, o total de R$ 2.200 com encargos, do funcionário responsável pelo cuidado com o animal, mais R$ 320 de insumos, “isso sem pagarmos fisioterapeuta, porque para ter a prática da equoterapia, temos que ter equipe multidisciplinar e se calculássemos, seriam R$ 2.000 o salário e mais R$ 800 dos encargos”, explica.

De acordo com a presidente da associação o montante de gastos anuais previstos em projeto passaria de R$ 57 mil, porém, com a parceria com a Unidep e sem a necessidade de custear profissionais de fisioterapia e também com os veterinários e alunos do curso de medicina veterinária da Unimater, que atendem os animais sem custo, o montante gasto tem sido menor, “mas outros custos são da associação, sem honorários e sem verbas públicas”, comenta.

A cobertura da equoterapia é garantida pelo Sistema Único de Saúde e em abril de 2022 foi instituído o Programa de Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Equoterapia para Pessoa com Deficiência (PcD), através do projeto de Lei n° 64, de 2021, de autoria do vereador Rafael Celestrin.

Em unidades privadas, o valor aproximado de uma sessão de equoterapia varia entre R$ 150 e R$ 300 e, durante o atendimento, dois profissionais dão suporte ao atendimento, além de um auxiliar para puxar o cavalo.

Atualmente, a lista de espera do tratamento na Associação Iguais nas Diferenças chega a 10 crianças, enquanto a Unidep possui uma lista de espera de 5 crianças. “Muitas pessoas não sabem dessa oferta e a demanda fica restrita ao estágio do curso”, aponta.

Funcionário

Em entrevista ao Diário do Sudoeste, Angélica comenta que o funcionário responsável por fazer o trato com os cavalos se desligou da associação para assumir um novo emprego. “O nosso funcionário morava em uma casa cedida pelo Núcleo dos Criadores de Cavalos, porém, ele foi trabalhar em outro local. O atual presidente da associação de cavalos crioulos sempre nos deu total apoio, porém, em conversa com alguns dos pais, foi levantada a hipótese de que não será mais possível utilizarmos a casa cedida anteriormente”, afirma, ao citar que estão em busca de alguém para tratar, dar banho, puxar o cavalo durante a equoterapia, além de procurar auxílio do município para a questão do novo funcionário.

“O que a gente busca junto ao município, como foi aprovado o projeto da fisioterapia e equoterapia das pessoas com deficiência, que venha junto com a associação que já tem os cavalos, tem a parceria com a unidep para nos dar esse apoio, então nós estamos conversando com a APAC porque tem funcionários que fazem serviço para o município, então fazer a parceria, tentar transferir um funcionário para ajudar com a puxa dos cavalos.”, declara.

A presidente da associação afirma que, com a parceria do município, haverá a possibilidade de atender mais crianças, aumentando de 9 para 40 atendimentos por semana e possibilitando o atendimento a outros municípios também.

Dificuldade de atendimento

O atendimento para pessoas com deficiência através do Sistema Único de Saúde é exposto pela presidente da associação como de difícil acesso. Angélica cita que há escassez de tratamento fonoaudiológico para as crianças. “O número de autistas e outros tipos de deficiência está subindo e faltam profissionais para realizar o atendimento”, afirma.

Angélica destaca que há crianças na lista de espera há mais de dois anos para receber atendimento de fonoaudióloga, “então é uma política pública que tem que ser criada pelo município”.

“Já existem leis federais para dar aporte ao atendimento prioritário e hoje não acontece porque as pessoas com deficiência são invisíveis para a sociedade, porque acham que as pessoas com essas condições não tem capacidade nenhuma”, aponta Angélica, afirmando ainda que, para mudar esse preconceito, a Associação Iguais nas Diferenças vai lançar uma exposição artística realizada por pessoas com deficiência. “Estamos programando para setembro fazer o lançamento dessa exposição, para mostrar o outro lado, porque sempre batemos na mesma tecla, no que falta, mas agora vamos expor o que essas pessoas são capazes”.

Outro atendimento em falta no município é a neurologia, especialidade de extrema importância para as pessoas com deficiência.

“As mães esperam um mês para consultar o filho (a), depois, são dois meses para o retorno, é difícil a situação. Esse ano, quando realmente abrimos as portas da associação para o atendimento, vimos todas as dificuldades”, explica.

Para a presidente da associação, o fato de não haver um quantitativo de quantas pessoas com deficiência existem no município, em cada área, dificulta o atendimento médico e especializado. “Precisamos de um mapeamento em cada bairro para saber onde essas pessoas estão”.

Desanimo

De acordo com Angélica, é comum ouvir relatos de mães que pensam em alguns momentos em desistir, devido à dificuldade de receber apoio e o atendimento necessário para seus filhos.

“Uma mãe me relatou: ‘Angélica, as vezes a gente desiste, porque estamos tão cansadas de levar o não, levar porta na cara, que as vezes a gente desiste de lutar pelo filho da gente. Aí espera um mês, depois volta, pois lembra que precisa lutar”, comenta a presidente.

A necessidade de fazer cobranças excessivas para conseguir um medicamento ou um tratamento é exaustiva, segundo Angélica, para a própria pessoa que necessita e também para os familiares que cuidam dessas pessoas. “Sabemos que faltam profissionais, mas a saúde, educação, é uma base para as pessoas. Se já é lei, por que não faz?”, questiona.

O olhar pelas mães que tem todo esse cuidado com seus filhos também se faz necessário. Já que a falta de apoio em seus relatos podem resultar em consequências físicas e emocionais para essas mulheres. “É preciso dar uma atenção para essas pessoas com deficiência e também para suas famílias. A carga emocional dessas mães é muito grande e, se não estiverem bem, quem vai ficar com a pessoa que estão cuidado?”

Para finalizar, Angélica pediu socorro para a equoterapia, “não podemos deixar o projeto passar por pessoas que não entendem que a equoterapia faz parte de uma terapia para pessoas com deficiência”, comenta, além de apontar a existência “de pessoas maldosas e preconceituosas. A gente é um ser humano, hoje pode estar andando e amanhã sofrer um acidente e ficar em uma cadeira de rodas. Precisamos pedir por mais empatia”, conclui.

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