Por outro lado, o atleta de 27 anos está em um novo patamar inédito na carreira. Dono da medalha de bronze no solo nos Jogos do Rio-2016 e campeão mundial na barra fixa em 2019, Arthur Nory é um dos ginastas a serem batidos.
Duas cenas recentes ilustram o amor e o ódio que cercam a preparação final do atleta – sua estreia será neste sábado. A primeira delas foi uma discussão nas redes sociais com a cantora Valeska Popozuda. Nesta terça-feira, o ginasta reclamou do “ódio” no Twitter. “É normal tanto xingamento, ódio e desejar o mal aqui no Twitter?”, desabafou. Ela rebateu. “Não é. Mas quando a gente erra, é melhor assumir o erro e pedir desculpas. Porque aqui no Twitter ninguém passa pano mais não”, escreveu.
Arthur deu sua réplica. “Eu errei e eu assumi. Paguei por ele e, até hoje, pago por isso! Nunca escondi meu erro e sempre busquei conhecimento para me tornar uma pessoa melhor. Eu não sou o mesmo de cinco anos atrás”. Logo depois da conversa com a cantora, a conta do ginasta saiu do ar. A assessoria de imprensa de Nory informou que ela passou por momentos de instabilidade, mas que voltou ao ar normalmente.
Vale relembrar o episódio que é o pano de fundo do bate-boca. Em 2015, Arthur postou um vídeo nas redes sociais em que ele fazia comentários racistas contra Assumpção, o único negro na seleção brasileira de ginástica na época. Fellipe Arakawa e Henrique Flores também estavam presentes. Com a repercussão negativa, Nory teve sua conta no Snapchat suspensa. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) afastou os atletas, que admitiram o erro e gravaram um vídeo com um pedido de perdão ao lado de Ângelo Assunção.
Em setembro de 2020, cinco anos depois, Nory revelou um longo processo de desconstrução, onde conta ter estudado sobre racismo estrutural e racismo recreativo. “Entendo que cometi um erro, um erro inaceitável, e fui atrás para entender o que é o racismo, o que é um racismo estrutural, o que é o racismo recreativo que é mascarado em piada”, disse.
Após a discussão, vários internautas afirmaram que pretendem torcer contra o ginasta, uma das grandes esperanças de medalha do Brasil, por causa do episódio de injúria racial.
Arthur Nory é bastante ativo nas redes sociais. Com 1,2 milhão de seguidores no Instagram, ele foi o atleta mais “influente” do Time Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima. Em Tóquio, já retomou o hábito com publicações com os companheiros de ginástica e também com o colega de quarto, o também ginasta Diogo Soares.
ADMIRAÇÃO – A segunda cena que ajuda a entender o momento atual de Arthur Nory, diametralmente oposta aos ataques nas redes sociais, mostra como o ginasta evoluiu como atleta. Após um treino no Esporte Clube Pinheiros em maio, o ginasta foi surpreendido por um colega mais novo que se aproximou para mostrar um vídeo no celular. As cenas eram de uma série que o medalhista olímpico havia feito no dia anterior. Era por ali que o novato estava treinando.
Questionado pelo Estadão como é chegar à Olimpíada como campeão mundial, o ginasta reconhece as diferenças. “É novo e diferente. Eu sonhei muito com a medalha mundial. Agora, como campeão mundial é bastante diferente até a relação com as pessoas. Venho trabalhando bastante nisso”, afirmou.
Depois da medalha no Rio-2016 e do título mundial, Arthur Nory evita cravar uma meta em Tóquio. “A ideia é buscar o maior número de finais. A gente costuma não pensar no resultado em si. A medalha é consequência do trabalho diário”, disse o ginasta.
A trajetória de cinco anos entre o Rio e Tóquio foi marcada por outras dores também, agora físicas. Arthur Nory colecionou cirurgias no período, entre elas, o tornozelo direito, o dedo indicador da mão esquerda e o olho direito e duas cirurgias nos ombros.
Após ser diagnosticado com um desgaste crônico no joelho esquerdo, o ginasta passou a focar na barra fixa, que exige menos esforço na região e que sempre foi o seu aparelho favorito. Com esse direcionamento, Arthur Nory cresceu. Nos Jogos Pan-Americanos, ajudou a equipe de ginástica artística a conquistar a medalha de ouro e ainda levou a prata no individual geral e na barra fixa.
“Depois das cirurgias, a gente não volta igual. É preciso paciência para respeitar o corpo. A gente vai ficando mais velho e isso se soma a toda a carga de treinos. Minha última competição individual geral, que exige bastante fisicamente, foi nos Jogos Pan-Americanos. Ali, eu exigi muito do meu ombro. Eu sabia que poderia comprometer o desempenho na barra, que era meu melhor aparelho.
“A dor faz parte da vida do atleta. A gente salta, repete e força. Existe uma equipe multidisciplinar que cuida do esforço físico e mental e também da recuperação. Somos atletas mais velhos. Estamos na estrada há bastante tempo.
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