Ataques de abelhas crescem no Brasil e expõem falta de antídoto

Os ataques de abelhas africanizadas (Apis mellifera) registraram forte crescimento no Brasil e se consolidaram como um problema de saúde pública. Em 2024, foram 34.260 notificações e 117 mortes, segundo o painel do Ministério da Saúde. Os números representam um aumento de 82% em relação a 2020, quando havia 18.818 registros, e de 56% em relação às 75 mortes daquele ano.

Terceira maior causa de envenenamento

Os acidentes já são a terceira maior causa de envenenamento por animais peçonhentos no país, atrás apenas de escorpiões e aranhas. Desde 2023, superaram até as ocorrências envolvendo serpentes.

De acordo com o professor da Unesp e diretor do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap), Rui Seabra Ferreira Júnior, a expansão da apicultura e as mudanças climáticas ajudam a explicar a maior presença desses insetos em áreas urbanas e rurais. “Trata-se de um problema de saúde pública que é, muitas vezes, negligenciado”, afirmou.

Falta de tratamento específico

O tratamento atual é apenas de suporte hospitalar, focado no alívio dos sintomas. Casos leves são tratados com anti-histamínicos, corticoides tópicos e analgésicos, enquanto quadros graves, como anafilaxia, exigem o uso imediato de epinefrina.

Não há, até o momento, antídoto específico para o veneno de abelhas — diferentemente do que ocorre com escorpiões, cobras e aranhas, que já possuem soros padronizados.

Pesquisas brasileiras avançam

Após décadas de tentativas frustradas, pesquisadores da Unesp, em parceria com o Instituto Butantan e o Instituto Vital Brazil, desenvolveram o antiveneno apílico, um soro experimental contra o veneno de abelhas africanizadas.

Ensaios clínicos de fase 2 publicados em 2021 mostraram resultados promissores: 20 pacientes atacados por enxames com mais de 500 abelhas apresentaram melhora significativa em até 30 dias após a aplicação do soro. Os efeitos adversos foram leves e controláveis.

Segundo Ferreira Júnior, um ensaio clínico de fase 3 está em avaliação pelo Ministério da Saúde. Caso aprovado pela Anvisa, o antiveneno poderá ser distribuído pelo SUS e exportado para outros países.

Quando procurar ajuda médica

Especialistas alertam que as situações mais graves envolvem:

  • Pessoas com alergia prévia a picadas, que podem evoluir para anafilaxia;
  • Vítimas de múltiplas ferroadas (acima de 50), com risco de envenenamento sistêmico.

Os sintomas de alerta incluem dificuldade para respirar, inchaço da língua e lábios, dor abdominal intensa, desmaios, diarreia e vômito. Nestes casos, a recomendação é acionar o SAMU (192) imediatamente.

Como agir diante de um enxame

  • Afaste-se rapidamente do local, de preferência em zigue-zague;
  • Procure abrigo em ambientes fechados;
  • Evite movimentos bruscos, que atraem mais abelhas;
  • Retire os ferrões com objetos firmes (como cartões) nos primeiros minutos após a picada.

Segundo o médico emergencista Gustavo Fernandes Moreira, do Hospital de Urgências de Goiás, o socorrista também deve avaliar se há segurança para intervir: “Antes de ir até a vítima, o socorrista precisa verificar se aquele momento é seguro, senão, ao invés de um paciente, teremos dois”.

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