Os cuidados durante o pandemia nunca cessam. Eles começam com os protocolos para evitar a infecção pelo Sars-COV-2, o que não é tão simples a todos que precisam sair de casa para trabalhar. Quem acaba tendo contato com o vírus precisa se cuidar durante as fases da covid. E, ao contrário do que muita gente imagina, esses cuidados não param depois de 14 dias, tempo que dura o isolamento, mas devem seguir principalmente em relação ao monitoramento de sequelas, algo que tem sido muito comum a quem passou pela doença.
Conforme Luiz Fenando R. Morrone, médico cardiologista da NEOCOR – Centro Médico Integrado, para saber quais cuidados devemos ter após sermos acometidos pela patologia, primeiro é preciso entender o que é a covid-19, doença viral causada pelo Coronavírus Sars-COV-2, que vem causando essa pandemia mundial. “Essa pandemia que originou-se na China, atualmente é o maior desafio de saúde pública no Brasil e no mundo. A quantidade de pessoas infectadas cresce exponencialmente”, diz.
Morrone explica que a doença passa por diversas fases. “Quando o vírus penetra no organismo do hospedeiro, e em suas células ele começara a se multiplicar, esta fase é chamada de fase de replicação viral, e o indivíduo pode permanecer assintomático”, conta. “Após esta fase tem início a fase imunológica, onde o organismo do hospedeiro tenta combater a presença do vírus, e dependendo da intensidade desta resposta, quando ocorre de forma excessiva, pode levar terceira fase, chamada de inflamatória, onde todos os órgão são afetados por esta inflamação, em maior ou menor grau, podendo levar a morte e sequelas futuras”, alerta. “Por isso é de extrema importância todos os cuidados durante a fase aguda e no pós-covid ou ‘long covid’”.
Síndrome pós-covid ou long covid
Morrone explica que, por causar um processo inflamatório sistêmico do organismo humano, vários órgãos podem ser acometidos em maior ou menor grau, inclusive o coração e vasos sanguíneos, cuja manifestação clínica podem estar presentes ainda na fase aguda ou manifestar-se dias, semanas ou até meses depois, gerando uma série de sintomas e complicações chamada “Síndrome Pós-Covid ou long covid”. “Estas alterações podem ocorrer mesmo em casos assintomáticos ou com sintomas leves. O vírus da covid-19 está associado a doenças cardiológicas e vasculares, podendo levar a sequelas e, nos piores casos, a morte súbita”, alerta.
Conforme o cardiologista, estima-se que aproximadamente 80% dos pacientes que passaram pela covid apresente sintomas ou manifestações clínicas relacionados a “Síndrome pós-covid”, sendo os mais frequentes cansaço, perda de memória, queda de cabelo, taquicardia, insônia, depressão, angustia, falta de ar, perda de olfato, paladar, dor no peito, arritmias cardíacas, fenômenos trombóticos, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (derrame), etc.
Como monitorar?
A primeira recomendação de Morrone em relação ao monitoramento adequado da saúde é que, desde o início da doença, ainda na fase aguda, que se procure acompanhamento médico adequado para avaliar qual o melhor tratamento, o mais indicado. “Desde o início já pode ser verificado, ainda nesta primeira fase, quais sintomas estão persistindo e quais estão aparecendo. O médico e equipe devem saber qual o grau de comprometimento inflamatório do paciente, se existem fatores trombogênicos envolvidos naquele momento, se existe comprometimento do coração, fígado, pulmões, sobretudo nos casos graves”, informa.
Após a fase aguda ou alta hospitalar, começa a fase do pós-covid, é nesta fase que os pacientes precisam de uma equipe de referência multidisciplinar em pós-covid, com fisioterapeuta, nutricionista e médicos pneumologistas, cardiologistas, familiarizada com os sintomas e possíveis complicações que podem ocorrer nesta fase. “Vários pacientes relatam que procuram atendimento no pós-covid com sintomas, muitos deles típicos, e tudo que ouvem é: ‘Isso é da covid, é assim mesmo, você tem que se adaptar’. Sabemos que isso é da covid, mas podemos, a partir de uma avaliação completa, diminuir os riscos, sobretudo cardiovasculares e trombóticos, esclarecer as dúvidas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, informa.
Morrone reforça que todos os órgãos podem ser acometidos em maior ou menor grau, alguns mais que outros, como pulmão, coração, sistema circulatório e sistema nervoso central. “No coração, podem existir derrame pericárdico, arritmias cardíacas, infarto agudo do miocárdio, formação de trombo dentro das cavidades do coração e miocardite, que é a inflamação do músculo do coração, que pode ocorrer em indivíduos assintomáticos pós-covid, inclusive em atletas. Se estas situações não forem diagnosticadas em tempo hábil, poderão deixar sequelas permanentes e levar até mesmo a morte súbita cardíaca”, diz.
Atividades rotineiras, como a prática de atividade física, para que possam ser retomadas com segurança, precisam de validação médica. “A prática de atividade física é de extrema importância para saúde de todos os indivíduos e deve ser estimulada, porém para evitar riscos desnecessários, principalmente no pós-covid, é obrigatório uma avaliação completa para um retorno seguro e gradual, sendo de extrema importância uma equipe treinada e atualizada nos protocolos de atendimento pós-covid”, recomenda.
Na Neocor – Centro Médico Integrado, onde o cardiologista atua, foi desenvolvido um protocolo próprio, aplicado a atletas de alta performance, para tentar garantir um retorno mais seguro, com menor risco de sequelas e complicações cardiovasculares. “O Protocolo leva em conta tempo de evolução da doença, sintomas iniciais, sintomas nas últimas 72 horas previas à avaliação, resultados de exames de laboratório, da tomografia de tórax na fase aguda, eletrocardiograma, ecocardiograma, teste de esforço e até ressonância cardíaca quando necessária. Este protocolo pós-covid pode ser aplicado na população geral, com orientação do que fazer, como fazer e a partir de quando fazer”, indica.