Em entrevista exclusiva ao Estadão, o folclórico ex-atacante falou da fase iluminada do alvinegro de Minas Gerais, disse que o time joga pelo treinador e fez uma projeção ainda mais audaciosa: “O Galo tem time para ganhar também a Libertadores e a Copa do Brasil.” O Atlético-MG lidera o Brasileirão e está na semifinal dos outros dois torneios. Na terça-feira, no Allianz Parque, empatou com o Palmeiras por 0 a 0 no jogo de ida pela semifinal da Libertadores. A partida de volta é na próxima terça-feira, no Mineirão.
Principal jogador da equipe, Hulk também foi pauta da conversa com Dario por telefone. Para o ex-atacante, ele é diferenciado e também um atleta de grupo. Na comparação entre ambos, porém, Dadá destacou uma diferença: “O Hulk está mais para craque do que goleador, ao contrário de mim. Mas nesse Brasileiro, para ele se igualar ao Dadá de 1971, ele vai ter de ser campeão, artilheiro e fazer o gol do título. Convenhamos que não é fácil.”
Os matemáticos estão colocando o Atlético-MG com 80% de chance de ser campeão. Como você vê essa vantagem do time mineiro?
O Atlético-MG está no caminho certo. O Cuca está fazendo o time jogar bonito. Você tem um elenco em que os jogadores são solidários. Eles jogam pelos companheiros. Aliás, o que a gente percebe é que o time joga pelo treinador e isso é muito importante em um esporte coletivo. Um atleta depende do outro.
Uma vantagem de sete pontos para o segundo colocado dá para ser administrada até o final?
Tenho mais de 50 anos de futebol e ganhei muitos títulos importantes na maioria dos clubes que passei. O respeito entre os companheiros e o bom ambiente no grupo facilita muita coisa. Eu vejo o Atlético com uma educação desportiva muito grande.
O que seria essa educação desportiva?
É o companheirismo e o comportamento dentro de campo. No Flamengo, por exemplo, os jogadores discutem o tempo todo. Um xinga o outro. Chuta a bola para longe por qualquer coisa. Você percebe que tem uma turbulência. Isso tira a concentração do jogador. O adversário percebe, dá uma provocada, e a equipe pode perder o foco. O Atlético-MG é um grupo unido, onde todo mundo sabe bem o que faz e porque está cumprindo determinada função.
E como você vê o Palmeiras nesse sentido?
O Palmeiras tem uma grande equipe, mas andou tropeçando demais e isso tira um pouco a confiança. Mas é um baita time e tem que ter respeito. O Cuca é atento a esses detalhes, como o Telê também era. Isso de 80% de chances, de favoritismo, fica para a torcida. Na minha época de Galo, o Telê dizia que se ouvisse de algum jogador que o nosso time já era campeão, ele até tirava o cara do time. O Cuca é assim também. E pensando dessa maneira, o Atlético-MG só perde o Brasileiro se rebolar.
O Hulk é o principal jogador do Atlético-MG e o artilheiro do time. Dá para compará-lo com o Dadá de 1971?
O Hulk é diferenciado. Tá mais para craque do que para goleador. Já o Dadá era um goleador nato. Costumo dizer que tem duas coisas na vida que não aprendi a fazer: jogar futebol e perder gols. Sempre fui muito ruim, mas treinava demais. Cem chutes de direita e de esquerda e mais cem cabeçadas. Na hora do jogo, não tinha como perder gols. São 926 bolas na rede que eu enderecei ao gol adversário durante a minha carreira. Não é pouca coisa.
O Hulk tem tudo para se igualar ao Dadá Maravilha na galeria de ídolos do Atlético-MG?
Não só o Hulk, mas outros jogadores também. Temos um goleiro muito bom (Everson). O Arana tá arrebentando na lateral esquerda. Tem o Diego Costa. É muita gente boa. E o Hulk é a estrela da companhia. Atencioso com os torcedores. Foi uma baita contratação e torço muito por ele. Agora, para se igualar ao Dadá é complicado. Ele tem que ser campeão como eu fui em 1971, terminar o campeonato como artilheiro, como eu também encerrei o torneio e ainda fazer o gol do título. É coisa para caramba.
Você fala com muito carinho da campanha do Brasileiro que o Atlético-MG ganhou há 50 anos. Lembra da escalação?
Isso é mole para o Dadá. Renato no gol, Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair. No meio-campo, Vanderlei e Humberto Ramos. Na frente, Ronaldo, o primo do Tostão, Lola, eu e Tiãozinho, ou o Romeu. O Dadá era ruim de bola, mas facilitava muito a vida dos companheiros. Eu fazia cem metros em dez segundos. Tinha uma impulsão maravilhosa. Saltava 80 centímetros do chão. Então, ou era lançar, ou jogar na área.
E as grandes forças para ganhar os títulos neste segundo semestre são mesmo Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo?
Difícil algum outro time aparecer por fora e barras essas três equipes. Mas pelo que vejo, o Atlético-MG tem elenco para ganhar não só o Brasileiro, mas também a Copa do Brasil e a Libertadores. O elenco é muito bom, a estrutura do clube oferece todas as condições e o time está embalado. Vem se dando bem contra o Flamengo nos últimos jogos, venceu o Palmeiras com autoridade no primeiro turno. É entrar em campo e jogar futebol. O favoritismo fica com o torcedor, com os matemáticos, com a imprensa.
Se você jogasse futebol atualmente, acha que teria a mesma fama de artilheiro construída ao longo da carreira?
Eu sempre fui uma máquina de fazer gols. Isso porque eu não era craque, pelo contrário. Mas sempre fiz o que o torcedor gosta, que é gol. Se naquela época, que tinha grandes jogadores de defesa, era difícil parar o Dadá, imagina agora. Consegui conquistar títulos importantes por onde passei e fazendo gols em jogos decisivos. Mas sempre dividia as glórias por tudo que conquistei com os companheiros. Se eles não lançassem, não cruzassem na área, não existiria o Dadá. Mas graças a Deus eu construí uma história muito bonita no futebol.
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