Michele Muniz e suas múltiplas facetas lapidadas pela determinação, amor pela arte e valorização da educação
“Sou uma insistente”, é assim que Michele Muniz se define em poucas palavras, no entanto, poucas palavras não combinam com esta paulista de Ribeirão Pires, que já correu o Brasil e atualmente mora em Pato Branco.
Michelle é daquelas mulheres de riso fácil e de conversa agradável, que se abre com a autenticidade de quem está disposta a conhecer várias culturas, lugares, mas acima de tudo, contribuir com estes locais.
Quem sabe, estas características tenham sido moldadas com o tempo, com a experiência e com a própria formação de atriz, mas ela assegura firmemente que tudo começou quando ainda era muito nova, quando teve o primeiro contato com o teatro, e ainda em sua cidade natal, passou a fazer parte de uma oficina de teatro. Daquela época Michele recorda, “eu já sabia o que queria fazer, queria ser artista, queria me desenvolver, e pasme, não sonhava naquela época ter uma família. Queria ser independente.”
Passados alguns anos dos sonhos de infância, hoje, ela é atriz formada pela PUC-SP, em Comunicação das Artes do Corpo; produtora, com a experiência adquirida com a profissão; roteirista pós-graduada em Cinema e Televisão pela FAAP, e mãe de Pietra (8 anos) e José Mario (5 meses).
No entanto, ela mantém viva a chama daquela menina de 12 anos, que se apresentou pela primeira vez com a peça “Se essa rua fosse minha”, da oficina de teatro. Sem falar que a isso ainda soma-se o fato de que firme ela afirma, “nunca temi o que viria pela frente. Sempre soube o que eu queria, busco passar isso para a Pietra e pretendo fazer o mesmo com o José [Mário], pois acho importante se conhecer e saber o que quer”, afirma ela completando, “isso já é mais de 50% do caminho para enfrentar as coisas que vem.”
Parte desta força, Michele faz questão de atribuir a seus pais e a forma que foi criada. “Fui uma menina que teve isso (clareza nos objetivos) muito forte da educação passada pelos meus pais”, inclusive é dos pais que ela atribuiu outra característica, o desejo de sempre manter ativa nos estudos.
“O conhecimento sempre foi prioritário em casa. Conhecimento ninguém tira, como todo mundo fala, sem falar que conhecimento pode ser compartilhado com outras pessoas”, defende a mulher que aos 17 anos já tinha registro profissional de atriz, estreou profissionalmente com o espetáculo “Mulheres de Rosa”, dirigido por José Rubens Siqueira, e que após a faculdade, isso em meados dos anos 2000, foi aprovada e dirigida por Gisela Arantes, na peça “O enigma de Apsu”, que integrava o projeto Planeta água, Mata Atlântica e paisagens.
Ainda com relação a sua primeira peça a percorrer o Brasil, Michelle afirma que foram dois anos gratificantes, em que pode passar a estudantes da Rede Municipal de Ensino de diversos municípios brasileiros, muito mais do que sua arte, sua contribuição para educação através de um espetáculo de relevância social.
“Ser artista não é ser somente o protagonista da novela, ser reconhecido. Tem toda uma equipe que envolve esse universo, de técnico de som, luz, figurinista, alguém que pensou a arte do programa, da peça (…)”, recorda ao afirmar que deixando o eixo Rio/São Paulo, que é mais comercial culturalmente, teve a oportunidade de entender que “não é o Brasil, são os brasis. O Brasil é múltiplo e entender que o Brasil não é a avenida Paulista, foi muito importante para mim.”
Projetos
“Temos que fazer o que é importante”, assim Michele avalia seu amadurecimento profissional, que passa pelas atuações no teatro, pela função de coordenadora de núcleo, produção de espetáculos, e mais recentemente, ou melhor, após sua pós-graduação, no posto de roteirista.
Michele assina juntamente com Marcelo Correa e Mônica Carvalho, o filme que deve ser lançado ainda este ano, e que surgiu de um projeto lançado em 2020, em seu canal do YouTube.
“Depois de anos trabalhando com teatro, escrevendo para teatro, me propus trabalhar com o audiovisual, e neste momento, as séries para o YouTube e streaming e em meio a vários trabalhos conheci a Mônica Carvalho, que me disse que escrevia e sabia que eu também, e com isso começamos uma sala de roteiro, trocando ideias, escrevendo juntas”, abrevia Michele ao contar que como ela e Mônica são bastante inquietas, ainda no início da pandemia de covid-19, passaram a fazer reuniões remotas e assim surgiu inicialmente de forma “caseira” o projeto Sara, Lia e Léia, que em 2021, com as questões sanitárias permitindo algumas atividades, foi adaptado e gravado em novembro, em Maragogi (AL).
“Sara, Lia e Léia, são três amigas, que tinham vários projetos na virada de 2019 para 2020, mas se deparam, assim como o mundo todo, com a pandemia. Elas dividem um quarto e sala, e viveram todas as incertezas daquele momento”, resume Michele comentando que a iniciativa de adaptar o roteiro para o cinema partiu de Mônica.
“Temos a previsão de estreia nesse ano, está na finalização, montagem e coloração. Ele chega num momento oportuno, um momento de reflexão. Ele não é um filme que fala sobre pandemia, ele fala sobre relações, amizade, o quanto estamos no piloto automático e de repente, chega algo inesperado e muda, sacode tudo”, afirma a atriz que interpreta Léia, e tem como colegas de cena ainda Mônica Carvalho (Sara) e Danielle Wints (Lia). O filme que tem direção de Hsu Chien Hsin, tem ainda no elenco André Mattos, Henri Castelli e Luíza Tomé.
Versão mãe
Ainda nas primeiras conversas Michele deixa claro, que diferentemente da carreira, que sempre soube o que queria ser, a maternidade não era um sonho de menina, mas segundo ela ocorreu no momento certo. “Engravidei da Pietra quando eu tinha 29 anos. Ela foi meu relógio, e foi algo que eu quis. Por isso acho tão importante a mulher ter o conhecimento de si mesma. O nascimento da Pietra foi uma grande transformação na minha vida, foi quando eu olhei para mim mesma, e vi que minha vida precisava de uma transformação, foi a partir da maternidade que eu percebi que precisava acertar um monte de coisa na minha vida”, revela a mãe orgulhosa de ter levado a filha ainda bebê para as coxias de teatro e acredita que conviver com o ambiente cultural contribuiu para o amadurecimento pessoal e lúdico da filha.
Além disso Michele é mãe do pequeno José Mário do casamento com o jogador de futsal Danilo Baron.
“Busco passar para Pietra e farei o mesmo com o José, o que apendei com meus pais, de apoio ao próximo, de solidariedade, de respeito. Meus pais sempre me passaram que por muitas vezes desanimamos, mas que acima de tudo o que te move, o que é sua vocação, essa requer o seu amor”, comenta a mulher que com o filho tendo apenas 40 dias de vida, mas sem deixar sua essência de lado, mudou radicalmente sua rotina, para morar em Pato Branco. “Estou com meu coração bem aberto, acredito que tudo tem um porque, tudo tem um momento e como não paro quieta, estou de braços acertos para acolher e ser acolhida nesta minha nova fase”.
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