Atuação de psicólogo escolar no bullying

FLORI ANTONIO TASCA

Embora a atuação do psicólogo escolar ou educacional tenha sido inicialmente de cunho clínico, identificando alunos com distúrbios de aprendizagem, problemas de conduta e de personalidade, cada vez mais a atuação desse profissional tem tomado novas direções e se comprometendo com o aspecto social. Nessa perspectiva, o próprio bullying passa a ser visto como um fenômeno social, cujas formas de enfrentamento e prevenção devem considerar o contexto em que ocorre, mais do que características pessoais dos alunos.

Pensando na atuação desse profissional no combate ao bullying, duas pesquisadoras, Alane Novais Freire e Januária Silva Aires, realizaram o estudo “A contribuição da psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do Bullying”, publicado em 2012 na revista “Psicologia Escolar e Educacional”. Para elas, as medidas psicopedagógicas e preventivas devem levar em consideração aspectos sociais, psicológicos e econômicos muito mais do que medidas caracterizadas por punição, ameaças ou intimidações.

Isso significa que elas se opõem às abordagens mais individualistas que entendem o problema do bullying como derivado unicamente de problemas gerados na escola. Elas defendem a necessidade de analisar e compreender o ser humano em diversos contextos, incluindo as suas características pessoais. Os contextos familiares, sociais e escolares exercem influência nos comportamentos agressivos tanto quanto a personalidade.

Elas acreditam que não se deve partir de receitas prontas para lidar com o bullying, já que cada escola apresenta uma realidade específica, de modo que também o bullying irá aparecer de formas diferentes. A atuação do psicólogo escolar deve ser de caráter preventivo, analisando e intervindo na realidade educacional a partir de suas especificidades. Um trabalho eficiente em Psicologia Escolar começaria pela análise da instituição e de suas relações com a família e a comunidade, além das relações interpessoais em geral.

Esse profissional deve ajudar a escola a construir espaços e relações mais saudáveis. Para isso, é necessário que ele esteja inserido no ambiente da escola, participando do seu cotidiano, para que assim tenha uma atuação mais específica e voltada à realidade. Ele deve promover reflexões sobre a violência, conscientizando agentes institucionais a respeito dos seus papéis, e possibilitar que sejam criados espaços de discussão para que os problemas sejam debatidos e a busca por soluções seja compartilhada.

Também caberia a esse psicólogo, na visão das autoras, assessorar o trabalho coletivo da escola, instrumentalizando a equipe mediante estudos e capacitações, contribuindo na formação de professores e os posicionando como coparticipantes nesse trabalho. Assim eles estarão mais aptos a resolver os problemas cotidianos de maneira mais consciente, reflexiva e dialogada, o que irá possibilitar uma melhoria no clima de convivência.

O psicólogo também pode dar a sua contribuição na elaboração das normas e regras institucionais, dando suporte aos professores e gestores a fim de que essas normas não estejam relacionadas somente ao âmbito pedagógico, mas também voltadas para a organização e fortalecimento das relações entre os alunos, entre os professores e os alunos e entre a escola e as famílias. Ele desenvolverá estratégias de prevenção e de intervenção que permitam o desenvolvimento de habilidades em todos os envolvidos.

Assim sendo, a inserção do profissional de Psicologia no ambiente escolar é vista como fundamental não apenas para trabalhar o desenvolvimento cognitivo, mas também o desenvolvimento emocional e pessoal dos estudantes e profissionais de educação, por meio de trabalhos preventivos com ênfase na cidadania, incentivando a solidariedade, a generosidade, a paz, a tolerância e o respeito às diferenças.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa, Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br

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