Auditoria do Nota Paraná revela irregularidades em 616 entidades

A Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa) anunciou, em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira, 9 de abril de 2025, que uma auditoria no programa Nota Paraná identificou irregularidades em 616 das 1.860 entidades sociais participantes, equivalente a cerca de um terço do total. Como medida imediata, essas organizações tiveram o acesso aos recursos provenientes de doações de notas fiscais bloqueado, visando proteger a integridade do programa.

As infrações detectadas variam em gravidade. Algumas são questões administrativas simples, como ausência de documentos ou informações incompletas, que podem ser corrigidas para o desbloqueio dos recursos. No entanto, casos mais sérios incluem violações das regras do programa, inconsistências na prestação de contas e tentativas de fraude. Segundo o secretário da Fazenda, Norberto Ortigara, o aumento de denúncias motivou uma fiscalização mais rigorosa, resultando em notificações a entidades e estabelecimentos comerciais, além do encaminhamento de casos graves ao Ministério Público do Paraná (MPPR).

Além de combater fraudes, a iniciativa busca fortalecer o Nota Paraná para os próximos anos, garantindo que os recursos doados por consumidores paranaenses sejam direcionados exclusivamente a entidades comprometidas com causas sociais, como assistência social, saúde, cultura, defesa animal e esportes. Desde sua criação, o programa já repassou mais de R$ 468,5 milhões às instituições, sendo R$ 63,1 milhões apenas em 2024.

Como funciona a doação de notas fiscais

No Nota Paraná, consumidores que optam por não incluir o CPF em suas compras podem doar as notas fiscais depositando-as em urnas identificadas com o selo do programa e informações da entidade beneficiada. Essas doações geram créditos de ICMS, distribuídos às organizações cadastradas. Contudo, algumas entidades exploraram o sistema de forma ilícita, comprometendo a equidade na distribuição dos recursos.

Irregularidades destacadas

A coordenadora do Nota Paraná, Marta Gambini, destacou que as fraudes abalam a confiança construída ao longo de quase uma década. Entre os casos mais graves estão:

  • Roubo de notas fiscais: Entidades foram denunciadas por coletar notas destinadas a outros grupos, inclusive se passando por representantes do programa. Gambini relatou denúncias quase diárias de furtos de urnas e comprovantes.
  • Entidade inativa recebendo créditos: Uma organização de defesa animal de Londrina recebeu R$ 460 mil após encerrar atividades, reativando seu CNPJ em janeiro de 2025 para resgatar mais recursos, conforme denúncia ao MPPR.
  • Manipulação de notas fiscais: Algumas entidades cadastraram notas indevidamente por meio de planilhas enviadas por contadores. Em um caso, uma instituição registrou 745 mil notas em dois meses, prática que distorce a escolha espontânea do consumidor.
  • Esquema com rede de postos: Uma entidade ligada a uma rede de postos de combustíveis gerou quase R$ 1,5 milhão em créditos ao direcionar todas as notas do estabelecimento para si mesma, violando as regras do programa.
  • Uso indevido de recursos: Há casos de entidades que contrataram empresas para coletar notas com recursos do próprio programa, além de práticas como suborno a lojistas. Em Toledo, uma organização cultural foi bloqueada após gastar R$ 8 mil em chocolates, supostamente para presentear comerciantes, e fornecer bobinas térmicas para impressão de notas.

Gambini classificou essas práticas como uma “indústria de desvio de notas fiscais” que beneficia grandes entidades em detrimento de organizações menores, comprometendo a essência do programa.

Medidas para coibir fraudes

Para enfrentar essas irregularidades, a Sefa implementou ações como:

  • Fiscalização contínua: Além da prestação de contas anual, a equipe do Nota Paraná conta com denúncias de cidadãos e entidades para identificar infrações.
  • Mudanças nas regras: A distribuição de créditos de ICMS foi ajustada para maior equidade, incluindo a limitação do número de notas que uma instituição pode cadastrar, medida que visa reduzir manipulações como o uso de planilhas e roubo de urnas.
  • Denúncias ao MPPR: Casos graves estão sendo encaminhados para investigação, com quatro pedidos de apuração enviados desde o início de 2025.

Marta Gambini destacou a colaboração das próprias entidades idôneas, que frequentemente alertam sobre práticas irregulares, como o caso de uma rádio comunitária que se passava por ONG de proteção animal para atrair mais doações.

Cidadãos podem reportar suspeitas de fraudes no Nota Paraná pelo WhatsApp, no número (44) 98831-9499 (exclusivamente por mensagem), ou pelo site do eProtocolo. Essas denúncias são essenciais para manter a transparência do programa.

Futuro do Nota Paraná

Norberto Ortigara reforçou que o Nota Paraná seguirá ativo, apoiando instituições sérias e distribuindo prêmios, mas com maior rigor contra irregularidades. “Vamos continuar firmes, mas endurecer com quem não segue as regras”, afirmou. As medidas visam preservar a confiança dos paranaenses e garantir que os recursos cheguem às organizações que realmente fazem a diferença.

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