Dirceu Antonio Ruaro
Caros leitores, na semana que passou, abordamos o tema, mesmo que superficialmente da “criança autoritária”. É verdade que em muitas casas se vive a “síndrome do imperador” ou “imperatriz”, ou seja, o reinado tirânico do filho ou da filha. Por isso, hoje, vou aprofundar um pouco essa questão.
E essa situação é bem mais comum do que se pensa. Quem lida com educação, sabe que inúmeras famílias, de todas as classes sociais e raças, passam, na atualidade, por situações inusitadas de mando dos filhos.
Parece que há um, por assim dizer, “movimento cadenciado e sutil” contra a autoridade parental, refletindo em todas as etapas e tempos do desenvolvimento dos filhos.
Muitos autores tem trazido à discussão a questão do filho que manda em casa muito mais do que os pais. E, diversos autores tem dito que se trata de uma crise denominada de “síndrome do imperador”.
Quem atua no serviço de “orientação educacional” nas escolas, tem percebido que é cada vez mais comum e nas fases da educação infantil, inclusive, ver crianças desafiando e provocando seus pais ou a professora, como se dissessem textualmente “você não manda em mim”.
O pior é que essas atitudes, que vem ocorrendo há um bom tempo, podem ir até o ponto extremo que os pais sejam maltratados pelos filhos. E, não se trata apenas de mal tratos físicos. Muitas crianças, adolescentes e jovens sentem-se de alguma forma satisfeitos, quando ofendem seus pais por meio de gestos e palavras. Essas atitudes precisam ser coibidas urgentemente, para que não se configurem no “comportamento tirano” do filho que sente prazer em menosprezar os pais.
Por isso, é preciso entender que a autoridade parental precisa ser exercida para, de alguma forma “barrar” a tendência social que vivemos na qual insultar, oprimir, tirar sarro e dizer que os pais não sabem nada é prática comum.
Os educadores têm dito que “parece que os pais sentem receio de dizer não e de contrariar os filhos”. Ora, quanto mais os pais se submeterem aos caprichos dos filhos, tanto mais a sua autoridade será abalada. E a conclusão a que os educadores tem chegado é que sentem que os pais, “oprimidos pelas exigências dos filhos, acabam se sentindo culpados por não dar o que os filhos desejam”.
E, esse sentimento de culpa, leva os pais a reiniciarem aos seus deveres de exercer a autoridade parental, que tem de estabelecer limites claros para as crianças, dizendo por meio das atitudes que as crianças têm o direito de fazer o que quiserem, no momento e do jeito que elas querem.
Essa renúncia, leva a criança a entender que não precisa respeitar nada e ninguém, que o mundo gira em torno dela e que ela decide o que quer e o que não quer fazer, mesmo com seis anos de idade. E, o pior, que isso vai se aprofundando e temos as crianças impossíveis de doze anos e os adolescentes intratáveis de quinze.
É evidente que não podemos ignorar a influência da sociedade, como me referi acima, que, sutilmente, por meio de filmes, séries, redes sociais, consumo de bens materiais, individualismo, entre outras coisas, em que estamos imersos e, nem mesmo, a ausência dos pais em casa, seja pela jornada de trabalho ou pela indiferença.
Nós, educadores, sabemos que se combinarmos esses e outros fatores familiares e entre eles, exatamente a falta do exercício da autoridade dos pais, entendemos que os filhos se acostumaram a não valorizar o que a família tem e pode e passaram a priorizar seus desejos imediatos. Lógico que a frustração é tanto dos filhos quanto dos pais, pois façam o que fizerem eles não se dão por satisfeitos.
A vida é feita, também de frustrações. Desde pequena a criança precisa aprender que a frustração não é o fim da vida. Precisam aprender que, muitas vezes, um desejo terá de ser adiado e que, até nunca se realizará.
É essencial que os pais exerçam a autoridade parental, e sejam os instrumentos de experiência de que algum grau de frustração ocorrerá na vida de todos nós.
O exercício da autoridade parental deve ser feito de tal maneira que a criança aprenda que não pode ter tudo e nem ao tempo que quiser. Que a vida é feita de conquistas, de lutas, de vitórias e de derrotas e que é preciso aprender a lidar com as dificuldades que a vida apresenta. Que precisa aprender a resolver as dificuldades se se apresentam sem passar por cima dos outros, e que nem tudo será como a gente gostaria que fosse.
Por isso, exercer a autoridade parental, esse poder saudável que os pais devem ter sobre os filhos, para organizá-los, orientá-los e mostrar-lhes os caminhos não pode ser ignorada ou simplesmente renunciada, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER