“Está insuportável, é quase impossível sair à rua”, disse Meghan Fandrich, moradora de Lytton, na Província de Colúmbia Britânica, no Canadá, que registrou o recorde histórico de 49,6°C. “Estamos tentando permanecer dentro de casa a maior parte do tempo. Nós até estamos acostumados com o calor seco, mas 30°C é diferente de 47°C.”
O drama dos canadenses é que muitas casas não têm ar-condicionado. Por isso, em Vancouver, os hotéis estão lotados de moradores que tentam escapar do calor opressivo se trancafiando em um quarto mais fresco. “Eu nunca vi nada parecido”, disse Jason Blackman, morador da cidade há 16 anos.
Do lado americano, a situação também é crítica. No domingo, em Portland, o calor foi tão forte que derreteu os cabos elétricos, interrompendo o serviço municipal de bondes. Em Seattle, o pavimento da rodovia interestadual 5 rachou em vários lugares, forçando o fechamento de algumas faixas. “O calor expande o concreto e o asfalto. Eles se chocam, criando lombadas”, explicou Morgan Balogh, do Departamento de Transporte do Estado de Washington, ao jornal Seattle Times.
Jeremy Hess, médico de um hospital de Seattle, contou que muitos pacientes estão sendo internados por transtornos ligados ao calor, alguns com problemas renais e cardíacos. Um homem, segundo ele, teve queimaduras de terceiro grau por andar no asfalto descalço. Hess comparou o número de pacientes com insolação com a quantidade de pessoas internadas com covid início da pandemia. De acordo com ele, só na segunda-feira foram 223 internações causadas pela onda de calor.
Na terça-feira, 29, em Spokane, também no Estado de Washington, a companhia de eletricidade iniciou o corte seletivo de luz para evitar o colapso do sistema em razão do aumento da demanda, causado pelo número de aparelhos de ar-condicionado ligados. No Estado vizinho do Oregon, um trabalhador rural foi encontrado morto em uma fazenda, no final da tarde de sábado. Desde então, muitos agricultores estão trabalhando em jornada reduzida, só até o meio-dia.
A atual onda de calor é provocada pela movimentação de um sistema atmosférico de alta pressão, que empurra o ar quente em direção ao solo. Esse ar aquece ainda mais à medida que é comprimido, fazendo quem está na região sentir muito mais calor.
O fenômeno é conhecido como “cúpula de calor” e atua de forma semelhante a uma tampa sobre uma panela. À medida que o solo esquenta, ele perde umidade, intensificando ainda mais o aquecimento. Isso também reduz o vento e a cobertura de nuvens, e muda o curso de outros sistemas atmosféricos, podendo durar dias.
No noroeste do Pacífico, o calor e a seca estão trabalhando em conjunto, agravando o problema e fazendo com que a temperatura bata cada vez mais recordes. Os climatologistas afirmam que a intensidade e a duração da onda de calor podem ser atribuídas ao aumento das temperaturas globais.
John Horgan, governador de Colúmbia Britânica, no Canadá disse que a onda de calor demonstra os perigos do aquecimento global. “A grande lição que aprendemos nos últimos dias é que a crise climática não é uma ficção”, disse Horgan. “É absolutamente real. Isso não é um problema de Colúmbia Britânica, não é um problema do Canadá, é um desafio global. E precisamos fazer com que os cidadãos do mundo se unam.”
Adam Rysanek, professor de sistemas ambientais da Universidade da Colúmbia Britânica, acredita que a onda de calor será um problema cada vez mais recorrente de agora em diante.
O Serviço Meteorológico dos EUA (NWS, na sigla em inglês) advertiu que o calor excessivo deve prosseguir até o domingo à noite. “Procurem ar-condicionado, se possível. Mantenham-se hidratados e façam pausas frequentes em suas atividades”, aconselhou a agência.
O presidente americano, Joe Biden, participou ontem de uma reunião virtual com os governadores de Estados do Oeste dos EUA para discutir estratégias para evitar possíveis crises provocadas pelas altas temperaturas. Biden disse que essa onda de calor é “um alerta” sobre as realidades da mudança climática.
“Temos de agir rápido. Estamos atrasados no jogo”, afirmou o presidente, que disse ter incluído US$ 50 bilhões do pacote de reforma da infraestrutura para combater incêndios e secas. “As mudanças climáticas estão causando uma perigosa confluência de calor extremo e seca prolongada.” (Com agências internacionais)
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