Dor de cabeça forte, vertigem, dificuldade de caminhar e perda da visão momentânea podem ser sintomas associados a várias situações e enfermidades, desde uma pequena indisposição até um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Por conta dessa pluralidade de possibilidades, muitos brasileiros, acabam recorrendo aos buscadores de internet para sanar possíveis dúvidas sobre o AVC, que é a segunda doença que mais mata os brasileiros e a principal causa de incapacidade no mundo.
De acordo com uma pesquisa realizada por um grande buscador, o consumo de conteúdo sobre saúde na internet tem aumentado no Brasil. O índice de brasileiros que recorrem aos buscadores como primeira fonte de informação, em casos de problemas de saúde, chega à 26%, contra 35% que recorrem a um médico. Por isso, conhecer os sinais de alerta do AVC, chamado popularmente de “derrame”, e buscar atendimento médico o mais rápido possível pode salvar vidas e reduzir possíveis sequelas.
E para sanar as principais dúvidas sobre o AVC, a professora livre-docente em neurologia da Universidade Federal de São Paulo, Dra. Gisele Sampaio, respondeu os questionamentos mais buscados pelos brasileiros na internet.
O que é AVC?
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma doença causada por interrupção de fluxo em vasos sanguíneos do sistema nervoso central (subtipo isquêmico) ou por extravasamento de sangue dos mesmos vasos (subtipo hemorrágico).
O que é AVC isquêmico?
O AVC isquêmico é o mais comum, sendo responsável por 80 a 85% dos casos diagnosticados. De acordo com a Dra. Gisele Sampaio, ele ocorre quando existe uma obstrução ou redução brusca do fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral. “Essa obstrução acontece devido a um coágulo local que pode ter migrado de outras regiões do corpo, como o coração, ou ter se formado nas artérias cerebrais, impedindo o sistema nervoso de receber sangue e oxigênio, e ocasionando morte das áreas afetadas”, explica a especialista.
O que é AVC hemorrágico?
O AVC hemorrágico ocorre quando há o extravasamento de sangue para o tecido cerebral devido à ruptura da parede de uma artéria. “Esta é a forma mais grave pois, devido à quantidade de sangue que flui decorrente dessa ruptura, podem acontecer complicações como o aumento súbito da pressão dentro da calota craniana e o óbito”, esclarece a especialista.
Quais os principais sintomas de um AVC?
Os sinais de alerta para o AVC são: perda súbita de força ou formigamento de um lado do corpo (face e/ou membro superior, e/ou membro inferior), dificuldade de falar ou compreender a fala, perda visual súbita em um ou ambos os olhos, tontura, perda de equilíbrio e/ou coordenação, dor de cabeça intensa e sem causa aparente.
Quais as sequelas de um AVC?
Aproximadamente 70% das pessoas não retornam ao trabalho após um AVC devido às sequelas e 50% ficam dependentes de outras pessoas no dia a dia. Por isso, Dra. Gisele ressalta a importância da agilidade no atendimento, pois quanto mais rápido o paciente inicia o tratamento, mais chance de salvar o tecido cerebral. “Muito depende da forma e rapidez do tratamento, pois quanto mais rápido o atendimento menos danos se mantém durante a recuperação. As sequelas mais frequentes são as mesmas dos principais sintomas da doença – perda de força, dificuldade na fala, perda de equilíbrio e alterações de sensibilidade que podem se manter fixas após o AVC agudo”.
É possível prevenir o AVC?
Os principais fatores de risco podem ser divididos em fatores modificáveis e os não tratáveis. Dentre os não modificáveis está a idade, pois conforme ela aumenta maior é a chance de ter um AVC5. Dra. Gisele esclarece que a principal forma de prevenção é cuidar dos fatores de risco tratáveis como: pressão alta, obesidade, sedentarismo, colesterol elevado, doenças do coração como arritmias, diabetes, tabagismo e etilismo.
Quais os tratamentos para o AVC isquêmico e hemorrágico?
O tratamento do AVC, tanto isquêmico quanto hemorrágico, requer a ida ao hospital o mais rápido possível ao se identificar qualquer um dos sintomas. “No AVC isquêmico podem ser administrados medicamentos que dissolvem o coágulo. Além disso, existe o tratamento por cateter, no qual é feita a desobstrução do vaso sanguíneo ocluído”, explica a especialista. Já para o tratamento do AVC hemorrágico, a médica ressalta que, em geral, não há remédios ou tratamento específico, exceto nos casos de pacientes em uso de medicações anticoagulantes que devem ter suas ações rapidamente revertidas. “Dependendo do caso são necessários cuidados globais, alocação em unidade de terapia intensiva ou procedimentos cirúrgicos. Tais cuidados, feitos de forma rápida e com eficácia, ajudam a melhorar o prognóstico do paciente e diminuir sequelas”, finaliza.
Teste SAMU
Uma informação importante que a especialista ressalta para identificar um possível AVC é fazer o teste SAMU:
Sorriso – peça para a pessoa sorrir. Note se um lado do rosto não mexe.
Abraço – veja se o paciente consegue elevar os dois braços como se fosse abraçar.
Música – solicite que a pessoa cante uma música e atente para a voz “enrolada” ou arrastada.
Urgente — caso identifique um ou mais desses sinais, dirija-se a um atendimento médico de urgência.
Relação do AVC com a Covid-19 e doenças do coração
Conforme o neurologista Dr. Maurício Hoshino, os pacientes que se recuperam do AVC podem apresentar um risco maior de complicações para outras duas condições que estão entre as mais letais do Brasil: a Covid-19 e o infarto. Um estudo recente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostrou que o AVC isquêmico está relacionado a casos de infarto do miocárdio. Já durante uma infecção pelo coronavírus, o tratamento em hospital com uso de medicamentos imunossupressores pode levar a uma maior vulnerabilidade do sistema imunológico.
Você sabia?
A cada minuto sem atendimento dois milhões de neurônios morrem. É por isso que, assim que começarem os sintomas, é importante buscar ajuda imediatamente para um centro de atendimento médico. “Cada minuto faz a diferença para salvar o cérebro e tentar recuperar a sua função, evitando sequelas futuras”, afirma Dra. Sheila Martins, presidente eleita da World Stroke Organization.