Se até anos atrás nomes como Eurico Miranda, Juvenal Juvêncio, Mustafá Contursi e Alberto Dualib soavam como “poderosos chefões” dentro de clubes, a situação agora é outra. Em vez de uma figura política no controle do futebol, os times têm procurado profissionais especializados nesse tipo de gestão. Quem atua na área tem se articulado até mesmo para que a profissão seja regulamentada no Brasil.
Somente a Associação Brasileira dos Executivos de Futebol (Abex) conta com quase 90 filiados. A fila de interessados em fazer parte desse área só aumenta. A Universidade do Futebol, um dos principais centros de formação da área, avalia ter formado nos últimos oito anos cerca de 2 mil alunos no curso de executivo do futebol. A CBF Academy também abriu uma turma voltada para essa finalidade. Entre os matriculados, 76% tem menos de 45 anos.
“O futebol inteiro está exigindo uma qualidade melhor dos profissionais de gestão dentro e fora do campo para ser competitivo”, disse o diretor de Recursos Humanos da CBF Academy, Marco Del Pozzo. “O interesse pela formação (de executivo) é crescente, mesmo entre quem já atua na área. O futebol é uma indústria que cada vez está mais interessada na formação profissional”, disse a CEO da Universidade do Futebol, Heloísa Rios.
No Brasil, a profissão de executivo tem entre os expoentes nomes como Edu Gaspar, Rui Costa, Alexandre Mattos, Rodrigo Caetano, Anderson Barros, entre outros. Todos têm passagens por vários clubes brasileiros e, assim como os jogadores, trocam de camisa conforme novas oportunidades profissionais aparecem.
Quem preside clubes garante que fazer futebol hoje em dia sem executivos é praticamente impensável. “Ter um executivo é fundamental, porque traz a visão profissional de quem centraliza vários elementos, como a gestão de projetos, negociações de atletas, fisiologia, ambiente do elenco, entre outros. É fundamental ter alguém para orquestrar tudo isso”, disse ao Estadão o mandatário do Inter, Alessandro Barcellos.
Embora se tornem conhecidos do público e da imprensa pela atuação em buscar reforços, os executivos garantem que o trabalho é bem mais amplo que isso. “Contratar jogadores é o que menos a gente faz se for calcular o índice de ações em uma temporada inteira”, explicou o dirigente do Inter, Paulo Bracks. “O executivo é quem dialoga com todas as áreas dentro do clube, é o centro de várias ações”, completou.
A posição de comando tem um preço. A pressão é gigante. “Em um dia normal de trabalho, recebo até 40 ligações. Conversas de WhatsApp são até o dobro disso. E eu preciso responder para atender as diferentes necessidades”, explicou Júnior Chávare, executivo do Bahia. “Em um clube grande, em sete dias você joga três partidas e se arrisca a ser cobrado. Você precisa lidar com ingerência política, torcida e com uma mão de obra jovem, os jogadores”, comentou o diretor do Atlético-MG, Rodrigo Caetano.
Segundo os dirigentes, o futebol brasileiro passou a ter mais figuras como executivos de futebol a partir dos anos 2000. Foi quando os clubes aumentaram a estrutura de departamentos, as comissões técnicas ficaram mais numerosas e passou ser necessário alguém gerenciar tudo isso com dedicação exclusiva, e não mais como voluntário.
Atualmente no Botafogo-SP, o dirigente Paulo Pelaipe vivenciou essa transformação. Na década 1970, ele iniciou como diretor do Grêmio e a partir dos anos 2000, tornou-se de vez um executivo remunerado. “Quando se tem apenas um cargo estatutário no clube, não tem como trabalhar 12h por dia. Eu precisava me dedicar à minha atividade para me sustentar. Hoje o futebol exige cada vez mais profissionalismo”, explicou.
ENTRADA NO MERCADO – Apesar do interesse crescente de jovens e da estabilização da profissão, quem atua no mercado de executivos de futebol garante que não há um caminho certo para iniciar na área. Os cursos de formação são um caminho para se fazer contatos e conhecer um pouco mais sobre a área. Mas entrar no meio fechado do futebol ainda é um desafio.
“Não tem uma ‘receita de bolo’ para você entrar na área. O importante é se dedicar e buscar atualização constante”, afirmou Chávare, do Bahia. “Um caminho importante é iniciar trabalhando nas categorias de base e investir na rede de contatos. Algo importante para um executivo é ter muito comprometimento e não se deixar levar por opiniões externas sobre o seu trabalho”, comentou Rodrigo Caetano, do Atlético-MG.
Para o executivo do Fortaleza, Sérgio Papellin, apesar da concorrência e da pressão, o futebol possibilita recompensas que poucas profissões são capazes. “É apaixonante, porque toda semana você convive com um jogo, com uma disputa. E isso motiva demais a nossa vida por causa da competitividade”, disse.
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