Baixa procura por doses de reforço resulta em vencimento de vacinas contra a covid-19

2.690 doses de imunizantes para covid-19 estão retidas em Pato Branco por validade. Setor responsável aguarda definição da Anvisa para a destinação correta 

Aline Vezoli e Marcilei Rossi

Há pouco mais de um ano o que mais se ouvia da população era o desejo de receber o imunizante contra a covid-19. Naquele momento, os calendários municipais eram aguardados com grande apreensão, contudo, esse mesmo comportamento não vem sendo observado no que se refere a aplicação das doses de reforço.

Na segunda-feira (8), o setor de Imunização, da Secretaria Municipal de Saúde de Pato Branco divulgou ter recebido 230.054 doses de imunizantes contra a covid-19, desde o início da campanha. Deste montante, quase 31 mil doses ainda não foram aplicadas.

Porém, chama a atenção dado repassado pelo setor ao Diário do Sudoeste, de que 2.690 doses de imunizantes da Oxford estão retidas no município por questão de validade. De acordo com o setor de Imunização para a destinação ou utilização destas doses é aguardada orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Paraná (Cosems-PR), Ivoliciano Leonarchik, confirmou que a recomendação do Estado é para que os municípios segurem as doses que estão vencendo, aguardando a orientação da Anvisa, já que todo o Brasil está enfrentando a possibilidade de vencimento das doses. Para tentar encontrar uma solução, um levantamento deve ser realizado para entender qual a conduta necessária perante a perda dessas doses de imunizantes contra a covid-19.

“Vai ser uma padronização a nível central, não é cada município aleatoriamente, tivemos essa provocação na semana passada, eu estava em Curitiba, estou aguardando o posicionamento da central de abastecimento de imunização, qual seria a estratégia, de como conduzir”, aponta.

Ivoliciano explica que uma das condutas que vem sendo utilizadas pelos municípios é dar maior enfoque para as campanhas de imunização e manter a busca ativa de pessoas que não foram imunizadas para tentar utilizar os imunizantes que estão com prazo de validade mais curto. As medidas vêm se intensificando pois, mesmo que ainda em pequenas proporções, há situações em que há vacinas vencendo e “o grande desafio é conduzir isso para que a gente não perca, até porque é recurso público e o que tenho notado é essa baixa adesão da população”.

Entre as medidas utilizadas para que a população procure mais ativamente pelos imunizantes é a realização de ações para repescagem, diversos dias ‘D’ em finais de semana e atendimento durante horários estendidos. “Estamos muito ansiosos, fazendo diversas ações, mas mesmo assim a população não tem aderido”, afirma o presidente do conselho.

A baixa procura pelos imunizantes está fazendo com que a administração pública volte a se preocupar com a possibilidade de aumentar novamente os casos da covid-19, resultando em mais internamentos hospitalares e consequentemente na taxa de óbitos.

“Vemos que a população não quer tomar a vacina, inclusive, eu falo para vocês que equipes chegaram a ir em residências, fazer isso in loco, na casa do cidadão, e eles simplesmente negarem, isso para nós é muito ruim”, afirma, complementando que há a possibilidade de um novo surto, elevando o número de casos, já que os ciclos das vacinas também vão se enfraquecendo e por isso há a necessidade de tomar as doses de reforço.

Entre os motivos citados pela população para evitar o imunizante, de acordo com Ivoliciano, estão a dor e o medo da reação. “Infelizmente, tem se observado muito na população, no sentido de que não está dando nada, não tem gente internada, nem gente morrendo. A partir do momento em que começa a ter um número elevado de internações e começam a ter óbitos novamente, infelizmente a população acorda para a realidade e busca a dose do reforço”, lamenta.

Sesa

A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou no fim da manhã dessa terça-feira (9), que “o Paraná estima que existem cerca de 200 mil doses em todo o Estado com prazo de validade dentro dos próximos 30 dias”, ou seja, estão em vias de vencer a validade dos imunizantes

Ainda conforme a comunicação da Sesa, das aproximadamente 200 mil doses, cerca de 3 mil são referentes à 7ª Regional de Saúde.

“É válido reforçar que esse levantamento é dinâmico e não indica, necessariamente, que esse montante chegará ao vencimento.  A orientação dos municípios é de que realizem a busca ativa para ampliar a cobertura vacinal”, ressalvou a secretaria por meio do setor de Comunicação.

Crédito: Fabio Rpdrigues Pozzebom/Agência Brasil

Campanha de múltipla vacinação

O Governo Federal lançou mais uma campanha de vacinação contra a poliomelite, voltada para crianças e adolescentes, porém, o mundo passa por um momento onde muitos profissionais de saúde e pais que pregam a não imunização para as crianças.

Segundo o presidente do Consems-PR, garantir a vacinação para a população tem sido um grande desafio, porém, quando diz respeito a crianças, há mecanismos que possibilitam essa garantia, como o Conselho Tutelar.

“Iniciamos na segunda-feira a campanha de vacinação contra a poliomelite, para crianças de 1 a 5 anos. Não gostaríamos de utilizar a ferramenta do Conselho Tutelar, mas a criança tem o direito a vacinação previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente”, aponta.

Enquanto isso, para os adultos, há uma baixa adesão, causada muitas vezes por preconceito, mesmo a imunização sendo um dos principais indicadores de avaliação do Ministério da Saúde para os municípios.

“Temos sofrido muito, porque não é falta de acesso, mas sim da população que não quer fazer vacina”, aponta, ao comentar que antigamente o Brasil era campeão de imunização. “Tínhamos uma facilidade muito grande, muitas doenças foram erradicadas. Na questão da covid, parece que esse anseio que tinha, porque não tínhamos dose, era uma coisa, agora que temos dose e capacidade de fazer a vacinação rápida, a população está com preconceito, principalmente na questão da reação, que não quer injetar mais vírus, todas são desculpas sem argumentos”, conclui.

Segundo o secretário, a vacina, por ser um bem público, quando não utilizada, “estamos jogando dinheiro no lixo”, já que não há formas de reaproveitar o recurso “que é nosso e tão escasso, pode ter tanta importância salvando vidas, evitando um número de internações e até mesmo de óbitos”, finaliza.

Imunização em Pato Branco

De acordo com o vacinômetro de Pato Branco divulgado na última segunda-feira (8), o município já recebeu 230.054 imunizantes contra a covid-19. Desse montante, 79.900 doses 1 foram aplicadas, enquanto 79.850 doses foram utilizadas para a segunda dose. Desse total, 1.787 foram doses únicas. Referente ao 1° reforço, 44.152 doses foram utilizadas e, para o 2° reforço, apenas 11.527 doses.

O total da população imunizada com a primeira dose, até o momento, soma 88,77% da população, enquanto 92,42% recebeu a segunda dose ou a dose única.

Já o percentual referente a população que foi imunizada com as doses de reforço contra a covid-19 está abaixo do esperado. Apenas 58,37% recebeu o 1° reforço, enquanto a taxa referente ao 2° reforço é ainda menor, com apenas 26,10% da população vacinada.

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