A crise econômica trazida pela pandemia do novo coronavírus fez o endividamento das famílias bater novo recorde no Brasil. Dados divulgados nesta quarta pelo Banco Central mostram que, em abril, o endividamento das famílias com o sistema financeiro chegou aos 58,5%. Este é o maior porcentual da série histórica, iniciada em janeiro de 2005.
O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas bancárias dividido pela renda das famílias no período de 12 meses. Como incorpora dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (Pnad) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE, o porcentual possui certa defasagem. Por isso o resultado divulgado hoje é de abril.
Fernando Rocha também disse que há uma desaceleração no crescimento do crédito para empresas, enquanto o estoque para famílias segue aumentando de ritmo.
“No segundo semestre do ano passado, tivemos um crescimento muito grande no crédito para pessoas jurídicas, com os programas lançados durante a pandemia. Como esses programas não existem mais, é normal que haja uma desaceleração dos saldos em 12 meses. Já no caso das pessoas físicas, o estoque segue em alta sendo puxado pelo crédito pessoal”, explicou Rocha.
O estoque total de operações de crédito do sistema financeiro subiu 0,9% em junho ante maio, para R$ 4,213 trilhões, informou hoje o Banco Central. Em 12 meses, houve alta de 16,3%. Houve alta de 1,5% no estoque para pessoas físicas e elevação de 0,1% no estoque para pessoas jurídicas.
Consignado
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central destacou o crescimento de 1,5% em junho do crédito consignado de maio para junho. Em 12 meses, o estoque do consignado tem alta de 19,2%. “O consignado representa 36% do crédito livre para pessoas físicas e tem apresentado crescimento nos saldos de todas as modalidades, seja para aposentados, servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada”, apontou.
Já o saldo do crédito pessoal não consignado cresceu 2,7% em junho e acumula alta de 26,3% em 12 meses. “Nesse caso, as taxas de juros são bem mais elevadas, devido ao menor nível de garantia quando comparado ao crédito consignado”, lembrou Rocha.
Capital de giro
Fernando Rocha destacou, ainda, o crescimento de 1,9% em junho dos saldos do capital de giro com prazo superior a 365 dias. Em 12 meses, a alta é de 26,4%. “Capital de giro é a modalidade mais importante em termos de saldos para pessoas jurídicas, e as operações mais longas dizem respeito à maior parte desse volume”, afirmou.
Já o saldo das operações com menos de 365 dias recuou 12,0% em junho e 32,3% em 12 meses. “No caso do capital de giro de curto prazo, há uma redução em relação ao ano passado, porque essas operações foram mais demandadas na crise, entre março e agosto de 2020. Mesmo com o recuo desde então, o saldo ainda 40% superior ao que era antes da pandemia”, completou.
Rocha chamou atenção ainda para o crescimento de 14,3% do saldo de desconto de duplicatas em junho, sazonal em todo final de trimestre. “Mas essa linha tem mostrado um crescimento sustentado nos últimos 12 meses, para além do seu padrão sazonal”, acrescentou.
Captação dos bancos
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC disse que o aumento da taxa Selic nos últimos meses já ocasionou uma elevação no custo de captação dos bancos. Por outro lado, as taxas de juros cobradas dos tomadores de empréstimos têm se mantido estáveis, o que denota uma redução dos spreads.
Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou pela terceira vez consecutiva a Selic em 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano. O colegiado passou a considerar apropriada a normalização da taxa de juros para o patamar neutro e indicou um novo ajuste de mesma magnitude ou ainda maior na Selic na próxima reunião, em agosto.
O spread bancário médio no crédito livre passou de 21,8 pontos porcentuais em maio para 21,4 pontos porcentuais em junho. Para pessoa física o spread médio foi de 32,7 para 32,6 pontos porcentuais no período. Para pessoa jurídica, o spread médio passou de 8,4 para 8,1 pontos porcentuais.
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