Campos Neto reconheceu que houve mais surpresas de alta na inflação nos últimos meses, com os choques se espalhando, com os preços de serviços acima do esperado no IPCA – o índice oficial de inflação – em julho.
Ele ainda comentou que há muita desancoragem nas expectativas de inflação em 2021, com os choques do início do ano, em alimentos, energia e agora com a seca. “As pessoas começaram a revisar as expectativas de 2022 para cima. Mencionamos na nossa comunicação as diferenças nas expectativas entre alguns participantes do mercado e nosso modelo. É importante comunicar isso com transparência, com a ênfase nos que estamos fazendo e na lógica por trás. Estamos olhando para o nosso cenário base, para o balanço de riscos e interpretando os dados.”
Ruídos internos
O presidente do Banco Central avaliou que as incertezas internacionais estão maiores, mas reconheceu que os ruídos internos têm tido grande peso na majoração das expectativas do mercado para a inflação de 2022. “Há um aumento do ruído da parte institucional de como o Brasil funciona, a briga entre os Poderes. Ultimamente há outra dimensão desse ruído, relacionada a novos projetos enviados pelo governo ao Congresso, como o novo Bolsa Família, que mercado tem associado com as eleições do próximo ano”, afirmou.
Para Campos Neto, quando o governo explicar o novo programa social – Auxílio Brasil – funcionará e como ele será pago, essa incerteza no mercado deve se reduzir. “Tão logo o governo deixe claro que o novo programa social não irá quebrar a lei de responsabilidade fiscal, tudo ficará claro. Entendo o ruído que está ocorrendo, e entendo que o governo precisa passar uma mensagem muito responsável de como o caminho fiscal continuará a partir daqui”, acrescentou.
O presidente do BC destacou que é importante entender como o fiscal impacta a inflação no momento atual e ao longo do tempo. “Há alguns meses estávamos falando em uma relação dívida/PIB de 94%, 95% a 100%. Agora estamos falando que a dívida/PIB ficará mais próxima de 80%, em um patamar muito melhor. E de um déficit fiscal de 1,7% do PIB neste ano, teremos algo entre zero e 0,5% em 2022, também muito melhor. E ainda assim, o ruído fiscal está predominando”, completou.
Mercado de crédito
Campos Neto afirmou também que, apesar de algum avanço dos juros ao longo da curva, a maioria dos produtos ainda têm taxas perto das mínimas e o crédito ainda está crescendo em diversos segmentos. Destacou que, depois de um crescimento forte com as medidas feitas pela autarquia desde o início da pandemia, as taxas de crescimento do crédito têm se normalizado, como o esperado.
O presidente do BC ainda repetiu que as micro e pequenas empresas tiveram mais acesso ao crédito durante a crise provocada pela covid-19. Campos Neto ainda citou o grande movimento de IPOs no mercado recentemente.
Ele participou nesta quinta-feira de webinar promovido pelo Council of the Americas.
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