Lançamento deste domingo, 28, ao qual o Estadão teve acesso com antecedência, o novo disco faz um passeio pela sua carreira, trazendo todas as suas facetas como compositor, cantor e instrumentista. Há instrumental, samba, músicas de levada mais contemporânea e até forró. São músicas que não conseguiram ser gravadas e lançadas na época em que foram compostas por Benito, outras são trabalhos mais recentes.
“Olha, eu não queria fazer esse disco no começo”, conta Benito di Paula, com sua sinceridade habitual, em entrevista por vídeo ao Estadão. “Eu disse ‘chega, já tá bom’. Aí o Rodrigo (Vellozo, seu filho) insistiu, disse para a gente fazer junto. Eu acabei topando. Fui ao estúdio, toquei no piano. Hoje em dia, é uma coisa muito diferente”. Rodrigo explica a insistência. “Acho que é importante. Tinha de ter um registro do lado ousado, criativo e sem limites do meu pai. Tem tudo a ver com o que se faz hoje”, diz.
FAIXA A FAIXA
Logo de cara, a música Dona Já da Baiana quebra qualquer expectativa que o ouvinte poderia ter: é um samba, com foco na voz de Benito, que troca o piano pelo violão – instrumento, aliás, que formou o artista quando, ainda jovem, dava aulas para jovens músicos. Além do domínio das cordas, ele mostra novamente como controla sua voz, que se mantém marcante, com graves que acentuam as tonalidades e emoções. Destaque ainda para a interessante faixa Improvation, em que toca um jazz improvisado no piano.
Outro momento que Benito mostra que não fica confortável navegando em um mesmo estilo é em Um Piano no Forró. Tomando Luiz Gonzaga como referência, um dos baluartes da música do friburguense e já homenageado no sucesso Sanfona Branca, Benito faz um forró sincopado pelo piano, mostrando que gêneros e influências podem, e devem, se misturar. O samba natural de sua voz, junto com o piano associado à música mais erudita, brinca com a melodia totalmente formada em cima do forró, com triângulo ao fundo.
“As músicas não estavam guardadas, elas estavam esperando a oportunidade de serem gravadas. É outra coisa. Música não se coloca na gaveta”, explica ele sobre essas composições feitas “há algum tempo”. Sobre Dona Já da Baiana, fica a questão: como foi ir do piano para o violão? “Tenho um aqui guardado, do meu pai, que comprou por 2,5 mil cruzeiros. É um violão legal. Mas o Rodrigo sugeriu tocar violão. Perguntei: ‘Como?'”, conta, aos risos. “Quando vou tocar violão, sempre falo: ‘Yamandu (Costa, violonista), me desculpe’.”
O Infalível Zen, que dá título ao álbum, traz a roupagem mais contemporânea que Rodrigo Vellozo tem proporcionado ao pai nos últimos anos, como foi na canção Aurora. Há uma imprevisibilidade maior nas notas e na melodia, brincando ainda mais com as possibilidades vocais do pai. O mesmo pode ser visto em Uma Onda no Tempo, canção de pegada de jazz, e Voz Calada. O tom grave de Benito se junta com os tons mais agudos de Rodrigo, fazendo disso uma boa mistura.
PARCERIA
Nos bastidores, ainda tem Romulo Fróes assinando a direção artística e trazendo mais do ar contemporâneo para O Infalível Zen. “É engraçado, eu não faço música com ninguém. Tenho poucos parceiros. O Chico Anysio, o Adoniran Barbosa e o Márcio Brandão”, conta ainda Benito, que neste álbum assina duas composições com o filho, Voz Calada e Uma Flor. “Agora, Rodrigo chegou sugerindo fazer parceria com o Romulo Fróes, com o Rodrigo Campos. Nem sei direito como fazer. Mas fiz a música e mandei. Deu nisso.”
Retalhos da vida de Benito também podem ser vistos em músicas como Aurora, em que homenageia a neta, e o belíssimo bolero Meu Retrato, uma homenagem a Nelson Gonçalves. Nela, inclusive, tem um recado alto e sonoro de Benito, logo no começo da canção, para quem ainda não entendeu que ele deu um basta nessa tentativa de colocá-lo em uma caixinha: “Tudo o que eu vivi valeu a pena. Eu me recordo de toda cena. Tudo se modificou. Se eu errei, foi do meu jeito”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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