“Eu assumo responsabilidade por essa decisão. Alguns dizem que deveríamos ter começado a retirada em massa antes. Que isso poderia ser feito de uma forma mais organizada. Eu discordo respeitosamente”, afirmou, ao argumentar que a corrida ao aeroporto teria acontecido em qualquer cenário. Nos últimos 20 dias, o mundo assistiu a imagens de afegãos desesperados para entrar em aviões americanos no aeroporto internacional de Karzai e a um atentado na região que matou 180 pessoas, incluindo 13 militares dos EUA.
Há duas semanas, após a tomada de Cabul pelo Taleban, Biden fez um pronunciamento que foi visto por analistas como pouco empático com a situação afegã e sem assumir responsabilidades. Desta vez, ao falar dos custos pessoais da guerra, Biden citou seu filho, Beau, que serviu como militar na guerra no Iraque e da taxa de suicídio de veteranos de guerra nos Estados Unidos. “Não há custo baixo. É tempo de acabar com a guerra no Afeganistão”, disse.
Ele também prometeu trabalhar através da diplomacia para ajudar os aliados afegãos que continuam no país e não conseguiram deixar o Afeganistão até agora. Sobre os americanos deixados para trás, Biden garantiu que “90%” dos que desejaram conseguiram deixar o Afeganistão. Segundo ele, os EUA entraram em contato com os americanos na região 19 vezes desde março. Os que ficaram — algo entre 100 e 200 pessoas, segundo ele — têm dupla cidadania e família no Afeganistão.
“Eu não estenderia uma guerra para sempre ou uma retirada para sempre”, disse Biden, ao defender sua opção de encerrar a presença militar americana no Afeganistão depois de quase 20 anos. “Depois de 20 anos, eu me recuso a enviar uma nova geração de filhos e filhas para uma guerra que deveria ter acabado há muito tempo (…) Eu me recuso a continuar uma guerra que não é mais do interesse vital de nosso povo”, disse Biden.
A promessa de retirar os soldados americanos do Afeganistão foi feita pelo ex-presidente Donald Trump, durante sua campanha política em 2016. Há raro consenso bipartidário entre eleitores democratas e republicanos a favor do fim da guerra mais longa da história dos Estados Unidos — frequentemente criticada pelos cidadãos americanos pelo alto custo financeiro e humano gerado para o país.
Biden deu seguimento à proposta de retirar os militares, mas teve sua estratégia questionada e criticada mundialmente, após o Taleban recuperar rapidamente o controle de Cabul e por fim à esperança americana de manutenção de um governo civil afegão.
No discurso desta terça-feira, Biden disse que a suposição de que as forças afegãs treinadas pelos EUA fariam oposição ao Taleban “não se mostrou correta”. Ele voltou a dizer que assumiu a Casa Branca com o Tabeban em sua posição militar mais forte desde 2001, graças a um acordo firmado por Trump com o grupo extremista, e que ele só tinha duas opções: cumprir o acerto para a retirada ou recomeçar uma nova batalha. “Essa era a escolha real: sair ou escalar”, disse Biden.
O presidente americano também afirmou que o interesse americano é garantir que os EUA não sejam mais atacados, mas há um “novo mundo” hoje com a ameaça terrorista descentralizada. “A obrigação de um presidente americano é defender os EUA das ameaças de 2021 e de amanhã, não das ameaças de 2001”, disse. “Nós vamos manter a luta contra o terrorista no Afeganistão e em outros países. Só não precisamos estar lutando uma guerra em terra para isso”, disse. Ao Estado Islâmico, responsável pelo ataque que matou ao menos 180 próximo ao aeroporto de Cabul na semana passada, Biden afirmou: “não terminamos com vocês ainda”.
Comentários estão fechados.