Sábado. Oito da manhã. Chega uma mensagem no meu celular. É de uma senhora conhecida, pedindo que visitasse seu filho. Maria Antônia estava muito preocupada: José Roberto já perdera um rim e o outro estava bem comprometido. Saí de casa, sem demora, levando comigo o óleo dos enfermos. Minutos depois, já estava no portão da casa. Maria Antônia acolheu-me com o olhar triste, o rosto pálido e a voz cansada. Sorrindo, desejei-lhe bom dia: “Viu, Maria, como cheguei rápido?” Fiz isso, tentando mudar aquele clima de tristeza em esperança.
Maria Antônia me conduziu até ao quarto de José Roberto. Ele tinha mais de cinquenta anos. Sempre vivera lutando, apesar da saúde debilitada. A mãe, viúva, dedicava todo o seu tempo a seu único filho. Ministrei o Sacramento da Unção dos Enfermos. Não demorou muito para a tristeza do coração daquela mãe ser levada para longe.
Fui convidado a acompanhá-la até a cozinha para tomar um cafezinho. Numa das paredes, havia um quadro de Santa Bárbara e uma foto de um homem, bem vestido, de terno preto, lenço no bolso e chapéu. “Quem é aquele ali?”, perguntei-lhe. “Ah, padre, é o João, meu marido. Fomos casados por cinquenta e cinco anos. Ele morreu em 2015”. Ela me contou como se tinham conhecido, numa fazenda da região. Falou do namoro, do dia do casamento e do nascimento do José Roberto. Recordou momentos tristes e alegres, vividos por eles. João era um homem trabalhador, dedicado à família, mas tinha uma limitação: “Ele era sistemático, padre! Se as coisas não saíssem como ele queria, fechava-se em seu mundo e não conversava com ninguém. Se eu deixasse o tempo correr, ficaríamos semanas sem dizer uma palavra sequer, um ao outro. Mas, consegui desenvolver uma técnica para quebrar o silêncio dele: bolinhos de chuva! Quando percebia que ele estava zangado, ao se aproximar o horário de seu retorno do trabalho, pegava uma bacia, dois ovos, duas colheres de chá de açúcar, uma xícara de chá de leite, farinha de trigo, para dar ponto, uma colher de sopa de fermento, açúcar e canela. Rapidamente, os bolinhos estavam crocantes e quentinhos. Mas havia mais um segredinho que eu guardava a sete chaves: para os bolinhos ficarem no ponto, o óleo precisava estar bem quente e o fogo baixo, senão eles ficariam crus por dentro. Eu fazia a maioria desse jeito, mas alguns deixava crus, de propósito. João lambia os beiços com os quitutes. Elogiava-me e, como sempre, reclamava dos queimados por fora e moles por dentro. Assim, voltávamos a conversar”.
Despedi-me de Maria Antônia com água na boca e o coração cheio de alegria. No caminho para casa, pensei nas famílias que sofrem pela falta de diálogo, de amor, de compreensão, de paciência e de perdão. Quantos casamentos são desfeitos por coisas pequenas, que vão crescendo, alimentadas pela mágoa e pelo ressentimento!
Diante de um conflito em sua família, você busca uma solução ou deixa a indiferença tomar conta do seu coração? Que tal seguir a ideia de Maria Antônia e preparar alguns bolinhos de chuva? E bom proveito!
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
Comentários estão fechados.