
A Bolsa operou com volatilidade nesta quinta-feira (17), influenciado pela decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que validou grande parte do decreto presidencial que eleva o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A única exceção foi a suspensão do trecho referente às operações de risco sacado, modalidade de crédito usada por bancos e varejistas.
A decisão representou uma vitória do governo Lula sobre o Congresso Nacional, que havia anulado o decreto em junho após forte disputa política. No entanto, a leitura do mercado é de que, embora melhore a arrecadação, o aumento da carga tributária e da dívida pública eleva o risco fiscal, especialmente em um cenário de possível reeleição do presidente em 2026.
O Ibovespa encerrou o dia em leve alta de 0,03%, aos 135.564,74 pontos, enquanto o Ibovespa futuro para agosto avançou 0,27%, a 136.870 pontos. O volume financeiro foi de R$ 13,6 bilhões.
Decisão do STF sobre IOF aumenta incertezas
De acordo com Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, a decisão do STF traz insegurança jurídica e pressiona o ambiente institucional:
“A decisão com efeito retroativo pegou mal, não só pelo impacto fiscal, mas pelas implicações políticas. A instabilidade entre Executivo e Congresso, somada às tarifas anunciadas por Donald Trump, reacende o temor de uma guerra comercial.”
O analista Bruno Komura, da Potenza Capital, também critica o impacto político do aumento do IOF:
“É negativo não apenas pela tributação, mas pelas consequências na governabilidade. Já vemos retaliações do Congresso e o risco é que piore.”
Lula lidera pesquisas, mas mercado teme instabilidade
Outro fator que afetou o humor do mercado foi a divulgação da pesquisa Quaest, que mostra o presidente Lula liderando todos os cenários de primeiro turno nas eleições de 2026. No segundo turno, ele aparece à frente de todos os possíveis adversários, exceto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com quem empata no limite da margem de erro.
O avanço da popularidade de Lula ocorre em meio a um ambiente político conturbado, com pautas do Executivo e do Congresso em rota de colisão, o que gera desconfiança nos investidores e pressiona ativos de risco.
Guerra comercial e reação do governo brasileiro
O mercado também monitora os desdobramentos da guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos, iniciada após o ex-presidente Donald Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil está disposto a negociar, mas não aceitará imposições unilaterais dos EUA. Enquanto isso, o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, tenta articular junto ao setor produtivo uma resposta diplomática.
Bolsas americanas em alta e impacto no Brasil
Apesar da tensão interna, o otimismo nas bolsas dos EUA ajudou a conter perdas. Segundo Komura:
“À tarde, vimos o Ibovespa se recuperar puxado pela alta em Nova York, impulsionada por bons resultados corporativos e aumento das vendas no varejo americano.”
Os índices americanos encerraram em alta generalizada:
- Dow Jones: +0,52%, aos 44.484,49 pontos
- Nasdaq 100: +0,74%, aos 20.884,27 pontos
- S&P 500: +0,54%, aos 6.297,36 pontos
Destaques da Bolsa e movimentação do dólar
Entre as ações que se destacaram, Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) subiu com força, influenciado por rumores de venda de ativos e reestruturação operacional. O papel é considerado tecnicamente descontado, o que atraiu investidores.
O dólar comercial recuou 0,25%, cotado a R$ 5,5467, puxado pelo fluxo estrangeiro na parte da tarde. Apesar disso, ruídos políticos e fiscais seguem no radar, mantendo o ambiente de cautela.
Juros futuros encerram em queda
As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) fecharam em queda, refletindo o otimismo externo e o recuo do dólar:
- DI jan/26: 14,940% (estável)
- DI jan/27: 14,325% (de 14,355%)
- DI jan/28: 13,675% (de 13,760%)
- DI jan/29: 13,585% (de 13,700%)
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