“Ontem pedi para o ministro da Saúde fazer um estudo sobre máscara. Quem já foi infectado e quem tomou a vacina não precisa usar máscara. Mas quem vai decidir é ele, vai dar um parecer. Se bem que quem decide, na ponta da linha, é governador e prefeito. Segundo o Supremo (Tribunal Federal), quem manda são eles”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, distorcendo a decisão da Corte que deu autonomia a Estados e municípios para adotar ações para enfrentar a pandemia, mas não eximiu a União de agir.
Ontem, em evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse ter “ultimado” o ministro da Saúde para publicar um parecer sobre o uso de máscaras para quem já foi vacinado ou já foi infectado. “Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscaras por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar este símbolo (segurando uma máscara descartável na mão) que tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse Bolsonaro nessa quinta-feira, 10. Ele foi aplaudido pelos presentes ao anunciar a medida.
A mudança do discurso ocorreu após uma série de críticas depois que Bolsonaro revelou a demanda feita a Queiroga. O ministro da Saúde divulgou, horas mais tarde, um vídeo na qual disse que o presidente acompanha o cenário internacional e “vê que em outros países, onde a campanha de vacinação está avançada, as pessoas já estão flexibilizando o uso das máscaras”. “O presidente me pediu que fizesse um estudo para avaliar a situação aqui no Brasil. Vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado com pesquisas em relação à covid.”
Em entrevista à CNN Brasil, Queiroga disse não haver prazo para que o estudo seja concluído. “Queremos que seja o mais rápido possível. Para isso, precisamos vacinar a população brasileira e avançar”, afirmou. Confrontado pela imprensa sobre o ritmo acelerado de vacinação em outros países nesta sexta, o ministro disse, exaltado, que será “o nosso caso”. “Estamos nos antecipando para termos posições sólidas em relação a todas as medidas que devem ser adotadas no enfrentamento da pandemia”, afirmou.
Em seguida, ao ser questionado sobre a fala de que a decisão sobre usar ou não máscaras cabe a governadores e prefeitos, Queiroga declarou não ser “assessor das falas do presidente da República”. O ministro participava da inauguração de leitos no Hospital Municipal de Guarapiranga, zona sul da capital, ao lado do prefeito Ricardo Nunes, que reafirmou a obrigatoriedade do uso de máscaras em São Paulo. “Em hipótese nenhuma o uso da máscara será desobrigado na cidade de São Paulo. A máscara, está cientificamente comprovado, ajuda a reduzir a transmissão”, afirmou Nunes.
Apesar da mudança de discurso em relação à final sobre as máscaras, Bolsonaro voltou a defender nesta sexta-feira que pessoas infectadas ou vacinadas não utilizem a proteção. Depois de perguntar aos presentes se tomariam a vacina, o presidente repetiu que “dará o exemplo” e será o último a se imunizar. “Alguns acham que o exemplo é se vacinar. Não, o exemplo é dar o lugar para quem está desesperado. Tem gente aí desesperada dentro de casa esperando ser vacinada para sair”. Aos 66 anos, Bolsonaro poderia ter se vacinado desde março.
Dispensa só pode ocorrer com controle da transmissão, diz OMS
Após os primeiros países optarem por autorizar a dispensa do uso de máscaras por pessoas vacinadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu cautela aos governos. Segundo a OMS, a dispensa desses cuidados pode acontecer somente quando não há mais transmissão comunitária da doença e não depende apenas da vacinação contra a covid-19.
“A pandemia não terminou, há muita incerteza com as novas variantes e precisamos manter os cuidados básicos para salvar vidas”, afirmou Maria van Kerkhove, líder técnica para a covid-19 da OMS. No caso de pessoas já contaminadas, especialistas também não recomendam abandonar a proteção porque há a possibilidade de reinfecção.
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