Embora o Orçamento seja votado anualmente pelo Congresso, a operação montada pelo presidente para aumentar sua base de apoio no Legislativo distribuindo esses recursos foi sigilosa. Como revelou o Estadão, a distribuição dos valores foi negociada em gabinetes do Palácio do Planalto, por meio de ofícios para indicar a aplicação do dinheiro e, em alguns casos, sem qualquer registro por escrito. Deputados ditaram para os ministros para onde enviar os recursos, o que comprar e até mesmo o preço que deveria ser pago.
Na votação do Orçamento, Câmara e Senado indicam o volume de recursos que é destinado aos ministérios por meio de emendas. No caso do orçamento secreto, o dinheiro foi previsto em uma nova forma, chamada de RP9, criada em 2020. Nesta modalidade, os nomes dos parlamentares não aparecem, até porque esse direcionamento fere leis orçamentárias e até mesmo um veto de Bolsonaro. Na ocasião, o presidente alegou que permitir a alocação dessa verba por ordem de congressistas contraria o “interesse público”.
Na conversa com os apoiadores na manhã desta terça-feira, Bolsonaro se esquivou de assumir a responsabilidade pelo orçamento secreto e disse que se a verba federal foi aplicada de forma irregular a culpa é dos gestores locais. “Eles batem na tecla de corrupção o tempo todo. Zero corrupção no meu governo, zero. Outra coisa, se alguém na ponta da linha, mandamos dinheiro para Estados, se alguém comprou algo superfaturado, não tenho essa responsabilidade”, disse o presidente.
O caso não apenas será alvo de investigação no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União (TCU) como parlamentares já falam até mesmo na criação da “CPI do Tratoraço”. O Estadão revelou que Bolsonaro entregou para um grupo de deputados e senadores o direito de impor onde seriam aplicados bilhões de reais, provenientes das RP9, que têm a liberação determinada pelo relator do orçamento no Congresso, não por ministros.
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