Lira e Renan são adversários históricos na política alagoana. Uma tentativa de armistício entre os dois foi tentada em jantar promovido pela senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO), mas, a aproximação é difícil.
A agenda em Alagoas ocorre um dia após uma pesquisa do instituto Datafolha mostrar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa pelo Palácio do Planalto com 41% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro. O levantamento também apontou que o Nordeste é a região com maior rejeição a Bolsonaro – 62% dos consultados pela pesquisa afirmam que não votariam no primeiro turno no presidente.
Diante de uma placa que substituiu seu nome na mesa pelo número 428.7256, em alusão às mortes da pandemia no Brasil, Renan Calheiros respondeu aos ataques que vem recebendo Bolsonaro na sessão da CPI que ouve Carlos Murillo nesta quinta, presidente da Pfizer na América Latina e ex-presidente da farmacêutica no Brasil.
“Eu quero dizer a esses pregadores que a minha resposta a todos esses ataques é esse número aqui, esse número aqui de vítimas da pandemias. Tirei meu nome e coloquei para que não haja dúvidas sobre o motivo pelo qual nós estamos aqui investigando. Se houve genocídio, se houve, quem é o responsável? Ou quem são os responsáveis?”
O convite a Bolsonaro partiu do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB), adversário local de Renan Calheiros. O ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor (PROS-AL), também adversário de Renan, acompanha o presidente.
Um dos eventos que Bolsonaro vai participar é a inauguração de um viaduto em Maceió. Acontece que a estrutura já havia sido inaugurada pelo governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), no final de 2020. O governador, que é filho do senador Renan Calheiros, não acompanha a visita do chefe do Executivo.
“A obra é estadual. Isso é um ataque ao federalismo e ao Estado”, reclamou o relator da CPI da Covid.
Ao chegar em Maceió, Bolsonaro publicou no Twitter um vídeo no qual é recebido por apoiadores. Sem máscara, o presidente é rodeado por uma multidão. O incentivo a aglomerações agrava a crise da covid e ajuda a propagar o vírus. “Maceió/AL, agora. Um abraço meu Nordeste”, escreveu o presidente no Twitter, ao publicar vídeo sendo recepcionado por apoiadores na chegada ao aeroporto.
Wajngarten
A viagem do presidente para o Estado nordestino acontece um dia depois de a imagem do governo federal se desgastar ainda mais na CPI da Covid. Em uma sessão marcada por bate-boca, xingamentos e até ameaça de prisão, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wajngarten admitiu à CPI da Covid que a carta na qual a empresa Pfizer se dispunha a negociar vacinas contra o coronavírus foi enviada ao governo em setembro de 2020 e ficou dois meses sem resposta.
No depoimento, que durou mais de oito horas, Wajngarten caiu em contradição, negou ter chamado o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de “incompetente”, conforme declaração dada à revista Veja, e irritou senadores.
Ontem, o relator Renan Calheiros, disse mais de uma vez que pediria a prisão de Fabio Wajngarten, por falso testemunho. A posição de Renan provocou contrariedade do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), até então seu aliado, e os dois acabaram discutindo. “Eu não sou carcereiro de ninguém”, reagiu Aziz. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) entrou na sala e chamou Renan de “vagabundo”.
“Imagina a situação: um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros”, afirmou Flávio, filho “01” de Bolsonaro, ao dizer que o relator queria transformar a CPI em palanque eleitoral.
“Vagabundo é você, que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete”, retrucou Renan. “Vá se f !”, devolveu Flávio Bolsonaro, que foi denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no processo das “rachadinhas”. Mais tarde na quarta-feira, nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro escreveu: “com mais de 10 inquéritos no STF, Renan tem moral para querer prender alguém?”
Comentários estão fechados.