A seguir os principais trechos da entrevista:
Como a senhora avalia as críticas de Bolsonaro à CPI, a ministros do Supremo Tribunal Federal e suas ameaças sobre o processo eleitoral?
Ele tem atuado no sentido de atingir ao máximo todas as instituições. E seguirá fazendo isso progressivamente se não houver uma reação das instituições e da sociedade à altura. O que nos coloca em situação perigosa é que nem o Legislativo, nem o Ministério Público Federal têm atuado nessa direção. Como não vamos ter eleições? Ele vem jogando com essa história de fraude há muito tempo. Se ele quisesse, poderia fazer uma auditoria nas urnas, na máquina eleitoral, mas não faz isso. Esse processo de negacionismo é uma estratégia política. Como ele sabe que está perdendo apoio popular, está jogando, mas de modo muito perigoso, colocando em risco o estado democrático de direito.
Qual o objetivo desse jogo político?
O grande objetivo é tentar borrar o processo eleitoral, ele sabe que pode não ter mais chance de ganhar. Está jogando antecipadamente para ver se repete a situação dos Estados Unidos (apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio no início do ano alegando fraude na vitória de Joe Biden; o conflito deixou 5 mortos e dezenas de feridos). Estamos num momento delicado da política brasileira.
Quais são os riscos? O presidente está ensaiando um golpe?
Sim, mas temos de pensar em quais são as defesas que o próprio Estado e a sociedade têm para evitar que isso aconteça. Ele tenta inclusive usar as Forças Armadas, que chama de “suas”. A nota das Forças Armadas (em tom de ameaça à CPI) é muito grave. É preciso uma reação vigorosa, mais do que retórica. As declarações do presidente do Congresso (Rodrigo Pacheco) e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (Luís Roberto Barroso) são um início importante.
Como deve ser essa reação?
De todas as forças vivas da Nação; do Judiciário, do Legislativo, da imprensa, da sociedade civil, todas as instituições têm de reagir. Um dos caminhos é o impeachment; cabe pressionar o presidente da Câmara (Arthur Lira) para isso. Outro caminho seria a denúncia por parte do Ministério Público, mas o Aras (procurador-geral da República) também não tem cumprido esse papel. Se não houver pressão da sociedade, dificilmente essa situação será alterada.
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