Essa é uma das poucas viagens de Bolsonaro para prestigiar a posse de um presidente na América Latina. Em março de 2020, ele foi ao Uruguai acompanhar a posse de Luis Lacalle Pou, eleito à frente de uma coalizão de direita após 15 anos de governos de esquerda.
O presidente brasileiro, porém, não compareceu às cerimônias que empossaram Alberto Fernández na Argentina, em dezembro de 2019, e Luís Arce na Bolívia, em novembro do ano passado.
A viagem demonstra a disposição de Bolsonaro em tentar fortalecer o Prosul, um novo fórum criado em março de 2019 para o desenvolvimento da América do Sul e que é visto como uma forma de países da região isolarem a Venezuela, governada por Nicolás Maduro. Após a fundação do grupo, o Brasil formalizou sua saída da Unasul, criada em 2008, quando a maioria dos países da região era governada por políticos de centro e centro-esquerda.
Também devem comparecer à posse de Lasso outros presidentes de direita, como Lacalle Pou, do Uruguai, e Iván Duque, da Colômbia.
A ida de Bolsonaro também sinaliza a busca pela retomada de alianças regionais para fazer frente aos países liderados pela esquerda, sobretudo em um momento em que o Peru vai às urnas para decidir seu próximo governante. No próximo dia 6 de junho, os peruanos decidem em segundo turno entre Pedro Castillo, candidato da esquerda, e Keiko Fujimori, candidata da direita e filha do ex-presidente Alberto Fujimori, em um pleito extremamente polarizado.
Em abril, Bolsonaro já havia saudado Lasso pela vitória nas urnas. Em postagem nas redes sociais, o presidente brasileiro desejou sucesso ao novo governo do país vizinho. “Estou certo de que estreitaremos ainda mais os laços que unem nossas nações e trabalharemos pela liberdade em nossa região”, escreveu à época.
Lasso venceu as eleições em segundo turno. A disputa acirrada contra Arauz colocou em jogo o retorno ao “Socialismo do Século 21” da década anterior ou a manutenção das políticas pró-mercado dos últimos quatro anos, em meio aos esforços do país andino para reanimar sua economia estagnada. O adversário do presidente eleito prometia retomar as políticas de Rafael Correa, geralmente identificado por analistas com a denominada “esquerda progressista e nacionalista”.
Por isso, a viagem de Bolsonaro tem cunho mais político do que comercial. A corrente de comércio (soma de todas as exportações e importações) do Brasil com o Equador soma US$ 288,5 milhões de janeiro a abril de 2021, colocando o vizinho na 57ª posição entre os parceiros comerciais do Brasil. A Argentina, por sua vez, é a 3ª colocada, com uma corrente comercial de US$ 6,956 bilhões no mesmo período.
Bolsonaro embarcou para Quito direto do Rio de Janeiro, onde havia participado de um ato com motociclistas e, sem usar máscara, provocou aglomeração, contrariando medidas de distanciamento social. Em uma foto publicada nas redes sociais, o presidente aparece já no avião acompanhado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho e que já presidiu a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, e dos deputados Marco Feliciano (Republicanos-SP) e Filipe Barros (PSL-PR).
Segundo a programação divulgada pelo Itamaraty, Bolsonaro desembarca ainda hoje na capital do Equador (às 18h pelo horário local). Amanhã, ele participa às 10h da posse de Lasso, na Assembleia Nacional do Equador, e depois, às 13h30, de almoço aos chefes de Estado e de Governo presentes à cerimônia. Todos os horários são locais.
*Colaborou Breno Pires
Comentários estão fechados.