Fernando Ringel
Voto se decide no final da campanha, e essa época começa 15 dias antes das eleições e termina 48 horas após o fechamento das urnas, quando os candidatos só podem ser presos se forem pegos em flagrante cometendo crime. O momento é crucial para todos, principalmente para quem vive em um país onde todos os problemas parecem ser resolvidos com dinheiro, mas descobre que até um ganhador da Mega Sena pode ser assassinado estupidamente, como ocorreu em Hortolândia, São Paulo.
A indignação de muitos se justifica, mas é para mudar as coisas que as eleições estão aí. Por isso, vale refletir: de que adianta votar em um governador que não concorda em nada com o prefeito da sua cidade? Para que votar em deputado e senador que nem são da sua região? Tudo anda mais rápido se cada voto for como o degrau de uma escada: assim como se vota em vereador e prefeito que defendam o que você valoriza, tudo é facilitado para a sua cidade se governador, deputados, senadores e presidente tiverem este mesmo pensamento. Caso contrário, elege-se candidato sem força para aprovar nada, e aí fica fácil dizer que “político não faz coisa nenhuma pelo povo”. O eleitor que não entende o seu papel na democracia, acaba desacreditando da política e aí tudo fica como está, ou até piora.
Bora, Bill!
Como nem todo mundo tem claro o que deseja para o futuro do país, ou mesmo um partido com que se identifique, sobra voto para gente famosa e sem nenhuma ligação com a política. Um dos primeiros foi o criador do programa “A Praça é Nossa”, Manoel de Nóbrega, o deputado mais votado do Brasil em 1946, mas que desistiria da carreira ao final do mandato. Alguns seguem na política, como o finado cantor Agnaldo Timóteo, enquanto outros entram por alguma vantagem, pelas mordomias ou exposição na mídia, com discursos que fogem do “politiquês”, do tipo “pior do que está não fica”.
Entre os atuais, há “famosos da internet”, como o candidato Caneta Azul (PL-MA), aquele da pérola “Caneta azul, azul caneta”. Se houvesse tempo, talvez até o tal Bill entraria nessa. Quem sabe até com a família, exatamente como no meme: “Bora, Bill! Bora, filho do Bill! Bora, mulher do Bill”! Nada impediria que ele fosse um bom político, mas é difícil na vida real uma história como a da novela “O Salvador da Pátria”, em que o cortador de cana, Sassá Mutema, rapidamente se torna um político capaz e incorruptível. Por isso, é necessário analisar antes de votar: qual partido defende o que você mais valoriza? Neste partido, quais políticos vão trabalhar pela sua região? Há algum candidato interessante em um partido parecido? Os deputados, senadores, governador e presidente da sua escolha concordam sobre os principais problemas do Brasil? Se o voto não for consciente, resta esperar um milagre, porque lugar que precisa de salvador da pátria só vai para frente com um Sassá Mutema para presidente.
Comunicador e professor universitário